4o Janela (2011) – Kubrick
Stanley Kubrick está no Recife
Por Luiz Joaquim | 05.11.2011 (sábado)
Estamos em 2011 e são cada vez mais raras as sessões de cinema que tiram o espectador de casa e o fazem percorrer a cidade em busca de um filme. E se o cinema estiver localizado na rua, no centro comercial da cidade, é ainda mais complicado. Em tempos de ver filmes no smartphone, o 4º Janela Internacional de Cinema do Recife promove hoje quase um acinte, no bom sentido, para este raciocínio. É como uma prova de que o velho habito ainda é viável.
O evento é a exibição logo mais, às 22h30 no Cine São Luiz, de “Laranja Mecânica”. O filme abre a Retropectiva Stanley Kubrick (1928-1999), que vai mostrar dois de seus três curtas-metragens, “Flying Padre” e “Day of Fight”, ambos de 1951 (fica de fora “The Seafarers”, 1953, filme que permaneceu 40 anos desaparecido); além de todos os seus 13 longas, incluindo o primeiro deles, “Medo e Desejo”, de 1953 que antes fora tirado de circulação pelo próprio realizador por considerá-lo amador demais.
Os dois curtas, mais “Medo e Desejo”, projetam também hoje, mais cedo às 14h com entrada franca no Cineclube Dissenso, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Já os longas exibem no Cine São Luiz, exceto por “A Morte Passou por Perto”, trabalho de 1955 que tem projeção na Fundaj, no próximo sábado às 18h30.
Com esta sessão de “Laranha Mecânica”, obra feita há 40 anos, outro fenômeno deve acontecer. A sessão irá reunir duas ou três gerações de gente interessada, e não-interessada, em cinema. Isto porque o filme tornou-se um símbolo que vai além do próprio filme.
A postura e as roupas de seu protagonista, o deliquente Alex (Malcon McDowell), no futuro indefinido de “Laranha Mecânica”, tornaram-se um símbolo pop cujo sentido já foi ressignificado e reutilizado das mais diversas formas. Como disse um colega, pode haver na platéia de hoje jovens que vão achar que o filme foi adaptado do desenho uma camiseta bacana.
Isto é, na verdade, uma prova da atemporal força desta obra (e de todas as outras de Kubrick) que nos leva a um particular universo cinematográfico. Um universo rigoroso. Rígido em sua perfeição. Perfeição perseguida por Kubrick que o fez brigar com Jack Nicholson em “O Iluminado” (1980, exibe sexta-feira, 22h), ou que o fez projetar junto com a NASA uma lente especial para suas câmeras captarem a essencial da luminosidade das velas em “Barry Lyndon” (1975, que encerra a Retrospectiva, no domingo, 13, às 19h).
Mas haverá também na platéia aqueles que terão um prazer especial em rever estes filmes em qualidade de projeção impecável (promete a produção do Janela), e agrupados, dando um novo sentido à leitura do conjunto da obra do autor Kubrick.
Como se não bastasse, o Janela ainda oferece, às 14h do próximo sábado, na Fundaj, uma aula gratuita sobre este que é um dos cineastas mais importantes de todos os tempos. Quem ministra a palestra é a autoridade Hernani Heffner, da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
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