4º Janela do Recife (2011) – encerramento
A noite de sábado foi de estréias na cidade para o cinema pernambucano. Dentro do 4o Janela Internacional de Cinema do Recife, cerca de 400 pessoas foram ao palácio São Luiz na rua da Aurora para conhecer “Mens Sana in Corpore Sano”, de Juliano Dornelles (já exibido no 15o Cine-PE), e os inéditos no Recife “Corpo Presente”, de Marcelo Pedroso, “Ela Morava na Frente […]
Por Luiz Joaquim | 14.11.2011 (segunda-feira)
A noite de sábado foi de estréias na cidade para o cinema pernambucano. Dentro do 4o Janela Internacional de Cinema do Recife, cerca de 400 pessoas foram ao palácio São Luiz na rua da Aurora para conhecer “Mens Sana in Corpore Sano”, de Juliano Dornelles (já exibido no 15o Cine-PE), e os inéditos no Recife “Corpo Presente”, de Marcelo Pedroso, “Ela Morava na Frente do Cinema”, de Leonardo Lacca, e o documentário “Di Melo: O Imorrível”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro.
Como Alan bem disse no debate, após a sessão, “O Imorrível” é um documentário que deixa os arroubos estéticos de lado e é mais tradicional – com depoimentos do próprio músico e de especialistas com Charles Gavin – porque “o conteúdo é mais importante”.
De fato, a primeira intenção do filme é fazer seu público conhecer o cantor que, após gravar um único e marcante disco em 1975 – que leva se nome – foi dado como morto e, mais de 30 depois, reaparece sob o interesse de pesquisadores da musica brasileira. Destaque em “O Imorrível” para o registro, feito pelos realizadores, de um show de Di Melo em 2009, no Festival de Inverno de Garanhuns.
Já o novo filme de Lacca dá continuidade a atmosfera que o realizador deu partida em seus solos “Ventilador” (2003) e “Décimo Segundo” (2007). Isso significa colocar personagens quase numa não-ação, quase como figuras à deriva de uma situação, num estado de contemplação. É sob este estado que fica também o espectador, para o bem ou para o mal.
O caso de “Ela Morava…” é bem particular. Lacca usufruiu do luxo de dramatizar no cinema as próprias memórias tendo como cenário a casa onde residiu quando criança, no bairro da Torre, em frente ao Cine Torre, hoje um edifício residencial. No enredo, a protagonista (Renata Roberta) volta à casa, que atualmente funciona como uma loja de assistência técnica eletrônica, para consertar seu videocassete.
Daí revê em casa as imagens de sua infância no VHS, mas projeta as de sua memória num cinema em frente ao Café onde ela trabalha (o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco). Esse tom melancólico e saudosista de “Ela Morava…” ajuda a refletirmos quais as memórias concretas que construíram (e sobraram do passado) para nós, e quais as que construímos no presente. Apesar da elaboração do filme, há um algo de dispersivo nos 30 minutos de “Ela Morava…” que mais distrai que atrai.
Essa distração não acontece nos 20 minutos de “Corpo Presente”. Pedroso, reconhecido pela excelência de seus experimentos no formato documental, nos joga agora na cara uma poderosa dramaturgia dura e impiedosa sobre a fugacidade da vida. Cria uma atmosfera de suspense e constante interesse, com cirúrgica administração do encadeamento de tomadas – que sabe, poderosas -, a partir da preparação de um corpo para um funeral.
E nesse conto, que remete à fragilidade da vida, entram na conta questões e confusões humanas sobre dor, violência e, principalmente memória, ou o que resta de nós depois que partimos. Por tudo isso e pela simplicidade de “Corpo Presente”, só resta pensar em Marcelo Pedroso como um dos mais refinados cineastas do atual cinema pernambucano.
PREMIAÇÃO
Na tarde de ontem (domingo, 13), o 4o Janela anunciou sua premiação. Na competição nacional, o melhor filme foi “Na sua Companhia”, de Marcelo Caetano. A melhor direção é de “Ovos de dinossauro na sala de estar”, de Rafael Urban, (também melhor filme da ABD). A melhor imagem veio de “Praça Walt Disney”, de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro. E a contribuição artísticas foi de “Dia Estrelado” de Nara Normande (também menção honrosa pela Janela Crítica).
Na competição internacional venceu “Cat Effekt”, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn. A melhor mise en scène é de “Incêndio”, de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes. A melhor imagem veio de “Kwa Heri Mandima”, de Robert-Jan Lacombe, e o melhor som é de “Conference”, de Norbert Pfaffenbichler. Houve menção honrosa para “Sève”, de Louise Courcier.
Já o Janela Critica contemplou “Fourplay: San Francisco”, de Kyle Henry, melhor curta internacional, e “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”, de Rodrigo John, o melhor brasileiro. O júri da ABD deu menção honrosa a “O Hóspede”, de Anacã Agra e Ramon Porto Mota., e a Fepec premiou “OMA”, de Michael Wahrmann.
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