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7o. Fliporto (2011) – Nelson P. dos Santos

O cinema agradece à literatura

Por Luiz Joaquim | 16.11.2011 (quarta-feira)

Esta edição da Fliporto refletiu não apenas sobre aspectos da literatura, mas também como essa forma de expressão dialoga com outras. Nesse debate sobre fronteiras, conexões e distâncias, aconteceu a mesa “Como o Cinema Reescreve a Literatura”, durante a tarde de anteontem (14/11), às 14h30, com os cineastas Nelson Pereira dos Santos, Guel Arraes e Tizuka Yamasaki, com mediação do professor de cinema Alexandre Figueirôa.

No começo do painel, Figueirôa ressaltou a importância para o debate da presença dos três realizadores, explicando como cada um tratou da relação entre cinema e literatura em suas filmografias. “Nelson é o pai do Cinema Novo, nos anos 1960. Ele é reconhecidamente o maior intérprete de Graciliano Ramos, por filmes como ‘Vidas Secas’ e ‘Memórias do Cárcere'”, comentou Figueirôa. “Guel Arraes é lembrado pela adaptação da literatura para a TV, enquanto Tizuka trabalha outra forma de adaptação: a da tradição de histórias orais para o cinema”, explicou.

Durante a palestra, a atenção era direcionada para Nelson Pereira, 83 anos, um dos nomes imprescindíveis da história do cinema nacional. Nelson, bastante lúcido, comentou sobre como a literatura naturalmente faz parte de seu processo de criação, mesmo em seu primeiro filme, “Rio 40 Graus” (1955), escrito pelo próprio diretor. “Fui influenciado pelo movimento neorrealista do cinema italiano dos anos 1950. Eu queria fazer um roteiro original, mas a primeira coisa que ouvi sobre o filme foi: parece Jorge Amado”, disse Nelson. “Essa relação entre cinema e literatura não é nova. O cinema deve muito de sua função narrativa à literatura. Muitos escritores escrevem a partir do ponto de vista de uma câmera”, pontuou o cineasta.

Uma das obras essenciais nesse encontro entre literatura e cinema foi “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira. Sobre o filme, ele explicou como o livro de Graciliano Ramos o ajudou a compreender uma outra realidade, distante da sua. “Com ‘Vidas Secas’ eu não pensava em fazer uma adaptação. Em 1958, eu estava fazendo um documentário sobre a seca. Eu sabia o que queria fazer, mas nunca tinha visto crianças esquálidas comendo farinha. Tentei escrever um roteiro, mas tudo era muito superficial. Eu não tinha vivência. Então li ‘Vidas Secas’ para consulta, e vi que tinha um filme escrito ali”, refletiu Nelson. “Costumo dizer que sou um homem do século 19. Sou muito influenciado por Machado de Assis e Castro Alves. Acho que uma obrigação das adaptações é provocar no espectador as mesmas ideias e sensações que causa no leitor”, ressaltou.

Para Guel Arraes, a boa adaptação não precisa ser uma tradução literal de um livro. “É preciso estabelecer uma parceria entre diretor e escritor. ‘Vidas Secas’ é uma outra categoria: é uma recriação, uma reescritura do livro. A adaptação, mesmo que siga o livro original, pode acrescentar, e então melhorar ou piorar a obra original”.

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