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Reportagens

A febre pelo ídolo

Amanhecer reabre debate sobre loucuras dos fãs pelo cinema

Por Luiz Joaquim | 27.11.2011 (domingo)

Quando a primeira parte de “Amanhecer” (Breaking Dawn, EUA, 2011), quarto filme da saga juvenil “Crepúsculo”, estreou semana passada em 1.100 salas no Brasil quebrou um recorde nacional: levou 1,77 milhão de pessoas aos cinemas em apenas três dias. A maior parte delas era de adolescentes, ou não, acompanhadas, ou não, de seus pais.

O lançamento também chamou a atenção para outro aspecto: o comportamento alucinado dessas milhares de fãs da série literária que chegou aos cinemas em 2008. Na sessão de pré-estreia especial de “Amanhecer”, em plena meia-noite da quinta-feira 17, uma multidão se apertava no hall dos multiplex da UCI e Severiano Ribeiro do Recife para, como numa missa, re-encontrar seus deuses.

Houve quem chegasse mais de duas horas antes da sessão iniciar com o intuito de garantir o melhor lugar na fila. Outras foram mais radicais e se caracterizaram como a heroína da série, Bella (Kristen Stewart), em situações bem específicas. A médica-veterinária Camila, já não mais uma adolescente, por exemplo, caprichou na customização.

Em plena sala de cinema, ela usava uma roupa sugerindo ser a camisola que Bella usou na lua-de-mel com o vampiro Edward (Robert Pattinson). Como se não bastasse, ainda maquiou os hematomas que a personagem sofreria na noite de núpcias provocadas pelo próprio noivo. Sem falar nas diversas penas que prendeu na cabeça: “Sem poder mordê-la durante o ato, o vampiro morde um travesseiro e daí espalha penas pela cama”, justificava Camila.

Sabe-se, na verdade, que a prática de ir para sessões fantasiado como os personagens preferidos não é tão incomum nos EUA, diferente do Brasil. Ao menos até 1999, acredita o designer André Pinto.

Naquele ano, ele foi para a pré-estreia de “Guerra nas Estrelas: Episódio I: A Ameaça Fantasma” usando um capacete do icônico vilão Darth Vader. “Antes mesmo da estreia do filme, eu já havia comprado o capacete e fiquei semanas refletindo sobre o que estava prestes a fazer. Decidi pagar o mico assim mesmo. Entretanto a sessão em que participei semi-caracterizado foi a mais divertida em que já participei: centenas de fãs fantasiados, sabres de luz se batendo na sala escura, brincadeiras e um evento que conseguiu ser mais gratificante do que o filme em si”, lembra André.

“Foi algo inesperado, não achava que ia encontrar um show de fãs. Acredito que esta sessão incentivou (posteriormente) fãs de ‘Senhor dos Anéis’ e ‘Harry Potter’ (no Brasil) a também se manifestarem e transformarem as salas de cinema em um palco de festas”, analisa o designer.

Na tentativa de entender comportamentos como o de Camila e André, entre tantos outros, é preciso ter cuidado na avaliação. A psicóloga Júlia Coutinho é comedida. “É sempre importante observar caso a caso e entender quais os mecanismos de idolatria que movimentam alguns jovens, geralmente em busca de modelos ideais”. Júlia também lembra de outro comportamento muito forte no jovem, aquele que o leva a querer fazer parte de um grupo e se destacar no coletivo.

“É difícil avaliar a situação como um bloco. É preciso atentar para o fato que a idolatria pode atender a demandas diferentes para o jovem, seja para ajudar a esquecer algo negativo, ou para descobrir seu feminino, ou seu masculino. Mas a idolatria pode virar um problema quando ela impede a pessoa de cumprir atividades básicas para saúde, como deixar de dormir ou se alimentar”, destaca a psicóloga.

André Pinto lembra que se percebeu um fã de “Guerra nas Estrelas” quando já havia decorado toda a trilha sonora da série, já conhecia os nomes complicados dos personagens, “e depois de ter comprado dezenas de bonecos baseados na saga”. Ele fala que sua maior aventura em nome da série foi mesmo ir para a tal sessão com o capacete de Darth Vader. Júlia Coutinho comenta que chegar a extremos dessa forma pode ser uma tentativa de dizer para as pessoas algo como “olha o que fiz por aquilo ou aquele que eu amo”. “É também uma maneira de concretizar uma fantasia, como no carnaval. De certa forma não é um absurdo, porque não há vergonha quando se está num grupo receptivo a isso. Pode ser até saudável quando uma amiga elogia a fantasia da outra”.

O certo é que a prática só parece aumentar no Brasil, e em novembro de 2012, quando estrear “Amanhecer: Parte 2”, teremos mais vampiros e lobisomens num cinema perto de você. E um deles pode ser seu filho adolescente.

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