Entrevista: Cláudio Assis (Febre do Rato)
Claudão: Eu vou dar um beijo na boca do Recife
Por Luiz Joaquim | 03.11.2011 (quinta-feira)
Amanhã (4/11) o Recife terá uma sessão de gala de cinema como há muito não testemunhava. Será às 20h30 no monumental Cine São Luiz, com a abertura do 4° Janela Internacional de Cinema do Recife. Será memorável não apenas pelo festival em si, mas sim pelo título principal escolhido para a sessão: “Febre do Rato”, de Cláudio Assis. A curadoria da produtora do evento, a CinemaScopio, de Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux, não poderia ter sido mais feliz na escolha do filme de abertura.
Premiado com oito troféus no 4° Paulínia Festival de Cinema, em julho, (incluindo melhor filme) este terceiro longa-metragem do pernambucano foi ovacionado na ocasião e unanimemente celebrado pela crítica, confirmando que Claudão (como é conhecido no meio) não só continua sanguíneo e virulento no que quer falar pelo cinema, como está ainda mais sofisticado e, uma novidade, mais amoroso.
Em “Febre do Rato” ele dá voz ao poeta marginal Zizo (Irandhir Santos, em performance magnética), movido pela fúria da paixão e da anarquia social. E, entre a divulgação de suas poesias e seu hábito de transar com idosas num tonel d’água no quintal de casa, Zizo segue sua vida até conhecer a estudante Eneida (Nanda Costa), alimentando ainda mais a sua ‘febre’.
Nesta entrevista, Cláudio fala da força da poesia, das possibilidades de compreensão quando se vê um filme, da opção do preto e branco para o longa, e sobre a criação de seu protagonista, Zizo.
Entrevista: Cláudio Assis
“Febre do Rato” teve um belo lançamento em Paulínia, mas exibir no Recife tem um sabor diferente.
Quando a gente faz um filme, quer mostrar na nossa cidade. Vira uma dívida com o nosso povo. O filme só vai estrear nos cinemas em março (de 2012). Se eu pudesse, lançava logo. Na verdade, a gente ainda corre atrás de dinheiro para fazer um lançamento legal. Como março está muito longe, e tem muita gente querendo ver o filme, concordamos com o ‘Janela’, que é um festival que eu gosto. Então, nem todo mundo vai poder ver nesta sessão (de amanhã), mas vai matar a curiosidade da algumas pessoas.
O filme é virulento, mas amoroso. Seria “Febre do Rato” um ponto de inflexão na sua carreira?
Não sei se estou mudando. Acho que está do mesmo jeito. É um filme sobre poesia. Sobre poesia marginal, e fala sobre ser forte e não abrir mão daquilo que você acredita. A gente mostra que a poesia também pode ser violenta. O que percebo é que a reação do público é mais calorosa que nos outros filmes que fiz. A platéia de Paulínia, e estamos falando do interior de São Paulo, entendeu tudo. Riu na hora de rir e ficou calada na hora certa.
A certa altura do enredo, Eneida e Zizo vêem um filme, e ela diz: “Pena que não tem história, né?”, para ele responder: “A história está nos olhos de quem vê”. Este é um bom recado para quem vai ver seu filme?
É só pra reforçar que cada pessoa pode ver diferente. Algumas vêem algo a mais, e tem quem não vê nada. Eu diria que é preciso rever, para poder alcançar melhor os detalhes. Mas o importante é que é você quem faz a sua história. È a verdade de cada um que constrói a história.
A fotografia de “Febre do Rato” é de um refinamento clássico. Com funcionou a parceira com Walter Carvalho aqui e em que momento decidiu que seria preto e branco?
Conheci o Walter em Brasília, por ocasião de “O Baile Perfumado” (1996) e desde ali já existia um desejo dele em trabalhar no Recife. A parceria vem desde o (curta-metragem) “Texas Hotel” (1999). O “Febre…” é o coroamento de uma trajetória de irmão que temos. É uma parceria que funciona pelo respeito mútuo e por uma total liberdade de contribuição da parte dele. Sobre o P&B, foi uma decisão em conjunto. Eu gosto muito do P&B, e já tinha experimentado isso no “Soneto do Desmantelo Blues” (1993). E o P&B remete à poesia. Quando você a escuta, o P&B combina. Mas houve muita reflexão até a gente bater o martelo por essa opção. E tem a coisa de mostrar o Recife em P&B. A gente mostra que ele também pode ser bonito assim.
O que há de Cláudio em Zizo, e o que há de Zizo em Cláudio?
Eu passei uns três meses sendo Zizo (riso). O Beto Brant (cineasta paulista), que é meu amigo, ficou furioso porque queria que eu interpretasse o Zizo. Mas o personagem não sou só eu. São todos os poetas marginais. De mim tem a magreza (risos). O Irandhir se inspirou em mim, mas também na poesia do Hilton Lacerda (roteirista), que está linda no filme.
Quem da equipe vai estar na sessão de amanhã?
Mariana Nunes, Matheus Nachtergaele, que já está por aqui, em Carneiros. O Walter Carvalho. A Tânia Moreno. O Irandhir (Santos) e outros.
A sessão de Paulínia foi histórica também pela apresentação, com você beijando a boca não só de toda a equipe como a do mestre de cerimônia, o crítico Rubens Ewaldo Filho. Amanhã vai beijar o Kleber Mendonça?
(muitos risos) Não, o Kleber não que ele é muito branco, e ia ficar ainda mais branco com o susto. Eu vou dar é um beijo é na boca do Recife.
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