Boa Sorte, Meu Amor – filmagens
Daniel Aragão encerra filmagens de seu 1º longa
Por Luiz Joaquim | 06.12.2011 (terça-feira)
Como qualquer realizador em formação, o pernambucano Daniel Aragão, 30 anos, vive dias de extrema excitação com o andamento da produção de “Boa Sorte, Meu Amor”, primeiro longa-metragem do diretor de cinema, cujas filmagens encerraram quinta-feira passada a bordo de uma lancha em Suape (PE). Daniel e equipe também fizeram outras tomadas realizadas no final semana do alto de prédios para registrar imagens da paisagem vertical do Recife.
Tais imagens vão ajudar a ilustrar o universo do jovem protagonista Dirceu (vivido pelo ator paulista Vinícius Zinn), sujeito com família de origem interiorana, abastado e bem de vida, cuja relação com as várias muitas mulheres no passado era pautada pelo machismo. No filme, Dirceu passa por uma transformação a partir de Maria (a carioca Christiana Ubach), a quem o jovem sai em busca na região entre Delmiro Gouveia e Água Branca (em Alagoas) e Paulo Afonso (na Bahia).
Nesse processo, o roteiro de Daniel (co-escrito com Luiz Otávio Pereira e Gregório Graziosi) chama atenção para a evolução no Sertão, e relativiza essa “evolução” a partir de referências icônicas da região como as barragens hidrelétricas. Mas o diretor destaca que é difícil pensar na história de “Boa Sorte…” de maneira cartesiana. “Nem sei ainda como trabalhar uma sinopse que seja sedutora mas não reducionista. Lembro de ‘Eraserhead’ (de David Lynch), como resumir um filme daquele? ‘Boa Sorte…’ é também um filme episódico, daí lembro de ‘Vivre sa Vie’ (de Godard). E cada bloco é um pouco antagônico ao anterior, provocando, cada um individualmente, uma sensação própria e interdenpendente”, adianta Daniel.
Com uma estrutura assim, o realizador precisava confiar plenamente em seus protagonistas. E nesse campo, da definição do elenco, Daniel podia transitar com tranquilidade uma vez que fez com competência a seleção de elenco para longas-metragens como “Baixio das Bestas”, de Cláudio Assis, e “O Som ao Redor” (ainda inédito), de Kleber Mendonça Filho. “Queria trabalhar com pernambucanos, mas só encontrei em Vinícius e em Chris o que queria para os personagens”, diz.
Ele explica que isso signfica, para Dirceu, uma agressividade latente e em alto grau de testosterona; e, para Maria, um sex appeal natural com a câmera, e que suscitasse o brilho típico de uma sedução própria das atrizes dos anos 1930. “O Vinícius me impressinou em ‘A Casa de Alice’ (longa de Chico Teixeira), e depois conversei com Karim Ainoüz a seu respeito”, lembra Daniel. Já o produtor Pedro Severien recorda da disciplina de Chris. “No teste, ela deu duas páginas de fala sem titubear, e nas filmagens teve a capacidade de desdobrar a personalidade de Maria em várias. Ela alterava detalhes de sua interpretação com sutilezas muito técnicas”, diz.
Do ponto de vista técnico, um trunfo que anima Daniel ao falar da produção – que dispunha apenas de R$ 400 mil oriundos da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) – foi a particiação do australiano Tim Mortom, seu 2ª assistente de câmera, auxiliando a direção de fotografia de Pedro Sotero. “Conheci Tim num fórum da internet sobre a câmera que usamos, de tecnologia RED (que captura com resolução de 4520 x 2540 pixels, ou 4k). Tim possui um lente russa anamórfica Lomo, para o formato 2,35 : 1, que imprime imagens mais suaves para as bordas do quadro. E ele próprio produz o adaptador da lente à RED”, explicou.
Esse tipo de articulação colaborativa funcionou durante todo o processo de “Boa Sorte…”. “Dia 21 de outubro filmamos uma festa eletrônica que aconteceu no Cabanga e usamos no filme. Era um cenário de verdade, pronto. E assim a gente incorporou cinco mil figurantes na história, só na amizade”, exemplifica Severien. E aponta: “Com um recurso de R$ 400 mil rodamos um longa cujo valor de produção seria de no mínimo um milhão de Reais”. O produtor já trabalha em projetos para angariar fundos para a finalização (cerca de R$ 300 mil) e distribuição (R$ 100 mil). Agora é desejar, com o perdão do trocadilho, boa sorte a Daniel e sua equipe.
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