Compramos um Zoológico
Surpreendentemente bom
Por Luiz Joaquim | 23.12.2011 (sexta-feira)
É difícil lembrar de um filme que atenda tão bem a toda família. Quando alguns títulos não são idiotas para os adultos, são tecnológico demais para as crianças. Em “Compramos um Zoológico” (We Bought a Zoo, EUA, 2011), o roteirista, produtor e diretor Cameron Crowe parece ter alcançado a medida exata sobre o que dizer, num único discurso, o correto para a criança, o adolescente, o pai, a mãe, e entreter a todos num mesmo nível de emoção.
Apesar do título repelente, “Compramos um Zoológico” não podia ter um nome diferente, uma vez que é baseado numa historial real. O filme saiu do livro de Benjamim Mee, que de fato comprou um zoológico decadente prestes a ser desativado e seus 200 animais sacrificados. Benjamim não só o comprou, mas foi morar numa casa lá dentro com os filhos para superar a morte da esposa.
No filme, o ex-jornalista Benjamim é Matt Damon, as crianças são o adolescente Dylan (Colin Ford) e a criancinha Rosie (a muito fofa Maggie Elizabeth Jones). Uma vez instalados no Zoológico Rosemoor, a família começa a trabalhar com os funcionários de lá, coordenados pela zeladora Kelly (Scarlett Johansson que aqui divide o espaço de sua beleza com a jovem Elle Fanning, de “Super-8”, interpretando sua sobrinha Lily, de 13 anos).
O que move a história para frente é o esforço de Benjamim, sem dinheiro, em reabrir o Zoo sob a aprovação de um rigoroso fiscal do governo. Poderia ser mais um filme sobre perseverança, mas não é isso que acontece uma vez que Crowe recheia sua história com as imperfeições de uma família comum, que tem de conviver com a ausência da mãe falecida há seis meses.
É assim que Benjamim se esforça, sem a presença da esposa, para manter a magia na infância da filha de sete anos intácta. A certa altura, ele pergunta a pequena: “Filha, eu faço alguma coisa certa?” E ela: “Pai, você é bonito. Os outros pais são carecas”. Por outro lado, Benjamim não consegue se comunicar com o Dylan que vive a fazer desenhos macabros e tem problemas na escola. O próprio protagonista também não tem coragem de encarar o futuro, sofrendo de saudade, todo o tempo, da falecida mulher.
Crowe ainda consegue encaixar aqui o surgimento do primeiro amor do atrapalhado Dylan por Lily. “Acho que não sei como conversar com as meninas”, revela o jovem para Kelly; ao que lhe responde: “É fácil, basta escutar o que elas têm a dizer”. De forma paralela, o diretor ainda convence no que diz respeito as dificuldades de reativar um zoológico com todo tipo de bicho. Há, no mínimo, três situações tensas (no bom sentido), que envolvem um urso de 300 quilos, um leão, e um velho tigre que precisa ser sacrificado. A negativa de Benjamim em deixar o tigre partir é a mesma em não conseguir encarar, ele próprio, um futuro feliz para si sem a esposa.
Mas o que torna este filme tão especial? Boa parte da resposta talvez esteja no fato de Crowe (de “Vida de Solteiro”, “Jerry Maguire”, “Quase Famosos”, “Vanilla Sky”) ser um ótimo diretor de atores e estar aqui num ambiente bastante diferente do seu e, ainda assim, aplicar com coerência sua especilidade, a trilha sonora (Crowe foi crítico da revista “Rolling Stones”).
Nessa de “fora do habitat natural” estão também Damon e Johansson. É realmente muito bom ver os dois astros desglamourizados, tendo de administrar não problemas de ordem mundial, mas de duas pessoas comuns. É muito bom também vê-los tão empenhandos em tornar crível uma história aparentemente boba em algo tão importante quanto salvar o mundo. Ao final, fica a lição generalizada de que “bastam 20 segundos de coragem para conseguir o que se quer”.
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Entrevista: Matt Damon*
Matt Damos está em cartaz com o filme “Compramos um Zoológico”, dirigido por Cameron Crowe e co-estrelado por Scarlett Johansson. No enredo, ele é um jornalista viúvo que precisa mudar de vida e o faz radicalmente. Pede demissão e muda-se para um zoológico com uma filha pequena e outro adolescente. Em meio aos desafios de reerguer o Zoo, ele precisa vencer uma batalha pessoal e seguir a vida adiante. É um tipo de filme que não estamos acostumados a ver o heroi de Hollywood. Nessa entrevista Matt fala de sua decisão em participar da produção, além de questões sobre paternidade e família.
Que havia de interessante no filme e no seu personagem que lhe atraiu?
Queria trabalhar com Cameron Crowe e sabia que pegando esse papel eu teria a chance de conhecê-lo. Também achei a história muito fluida. Parecia algo bem real e tive uma compreensão sobre onde esse cara estava querendo chegar. Tive uma identificação com ele.
Ajudou o fato de você ser pai? O filme dá uma perspectiva bem realista sobre a família e paternidade.
Sim, ajudou de fato. Acho que nunca conseguiria fazer esse papel há dez anos. Não entenderia como Benjamim amava sua esposa. O que mais me deu trabalho foi exatamente pensar na perda da parceira e imaginar como seria isso quando você traça vários planos juntos mas as coisas tomam um caminho que você não esperava. De repente, esse cara está numa posição que tem de fazer de tudo pelos filhos. Por sorte, não sei o que é perder um amor assim, mas sei como é amar, então posso imaginar. Em outras palavras, compreendo o que ele perdeu. Também sei como dá trabalho ser pai. É muito trabalho pra um casal, mas criá-los quando você perde um companheira, essa foi a parte da história que me pegou. E também não tenho visto drama familiares recentemente. Adoro as cenas com a filhinha dele, e ainda mais as com o seu filho. É a história de um pai que esta fazendo o melhor, mais que sabe que não é o suficiente. É uma história de amor, mas esse objeto de amor é a falecida esposa. Adoro como a história foi escrita.
Pode comentar a forte relação que Benjamim tinha com seu filho Dylon, vivido pelo ator Colin Ford?
É uma dura relação já no início do filme em função do que ele passou com a perda da mãe. Mas também era difícil por conta da idade de Dylan. Ele estava entrando naquele estágio no qual a comunicação pode falhar entre ele e seu pai. Ainda não tive uma experiência assim com meu próprio filho. Tenho um de 13 anos, então em breve estaremos entrando nessa fase (risos). Espero que não. Os meus anos de adolescente foram tranqüilos e nunca tive problemas com meus pais. Minha relação com eles não era de contenção, Eu ia bem na escola, mas me divertia muito também. Sempre quis ser ator. Ben (Affleck) e eu sempre fomos muito focados.
Como foi trabalhar com Scarlett, que intepreta a zeladora do Zoológico?
Ela é demais, muito boa, e esse é um papel completamente diferente para ela. Ela é tão glamourosa e linda, mas acho que ela estava muito convincente como Kelly e foi muito bom trabalhar com ela.
Cameron Crowe é conhecido pela forma como ele usa a música nos filmes. O que ele faz exatamente, nesse sentido?
Ele usa música o tempo todo. Eu nunca tinha feito algo assim com outro diretor. Por exemplo, numa cena em que estou olhando para as fotos de minha esposa, ele realmente tocou a música “Sinking Friendships” (Jónsi) enquanto fazíamos a cena. É como ter outro de seus sentidos envolvido e ajuda a te deixar totalmente na cena. Foi uma surpresa como foi útil o emprego da música, e olha que sou difícil de me surpreender. Fiz muitos filmes e trabalhei com ótimas pessoas, logo foi muito excitante ver uma técnica nova funcionar comigo. É algo que definitivamente vou fazer quando eu mesmo dirigir um filme.
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