Perspectiva 2012, retrospectiva 2011
2011: o marketing triunfa, já o cinema…
Por Luiz Joaquim | 12.12.2011 (segunda-feira)
O que ficará marcado em 2011 pela perspectiva do cinema? A resposta não é tão simples, mas há um desenho razoavelmente definido pelos títulos que mais atraíram o público aos mutliplex do País. Das dez maiores bilheterias do ano por aqui (veja quadro abaixo), seis eram sequências; ou seja, apenas quatro nasceram de ideias originais que deram certo com a platéia.
Originais mesmo, para ser correto, apenas dois. Um deles foi primeiríssimo lugar, “Rio”, de Carlos Saldanha (6,36 milhões de pagantes), e “Enrolados”, de Nathan Greno, satirizando a fábula de Rapunzel, porque “Os Smurfs” contava com a simpatia de uma legião de fãs da antiga animação exibida na TV, e “Capitão América” era mais um apresentação que a Paramount desovava antes do grande lançamento em 2012 de sua franquia, “Os Vingadores”. Título que vai aglomerar os heróis Hulk, Homem de Ferro, Viúva Negra e Thor.
Os outros seis “barulhos” provocados pelos estúdios de Hollywood foram filmes-sequências: “Harry Potter”, “Amanhecer”, “Piratas do Caribe”, “Velozes e Furiosos”, “Carros” e “Transformers”. Todos sugeridos pelo marketing dos estúdios como “o filme mais esperado ano” e vendidos como “o melhor filme do ano”, ou seja, sucesso mundial antes mesmo de o filme estrear. Podemos arriscar que se houvessem sequências destes títulos em 2012, e o marketing fizesse seu trabalho de lavagem cerebral, certamente eles estariam na lista dos dez mais daqui a 12 meses.
Ainda como êxito de bilheteria (discreto, claro) apareceu “Meia Noite em Paris”, pelo qual Woody Allen viu seu maior sucesso de público no Brasil. Mas, como o parâmatro não deve ser apenas a bilheteria, os complexos de cinema também apresentaram boas surpresas que certamente entram para a história. Duas delas chegaram em agosto, “O Planeta dos Macacos: A Origem” e “Super 8”. Se o primeiro dobrou os mais céticos que temiam pela banalização da clássica franquia dos anos 1960 e viram um filme sério e envolvente, o segundo levou esses mesmos espectadores ao clima infantil dos anos 1970 e 1980 com uma precisão técnica e lúdica comoventes.
Na linha “fracasso de público” foi curioso ver o vencedor de Cannes 2011, “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, encarar os corredores impessoais do circuitão. Outros nascimentos do ano que vieram sem alarde, mas conquistaram corações e mentes, foram o simpático “Rango” e o divertido “Missão Madrinha de Casamento”
Curioso observar que na lista “dez mais” do ano não aparece nenhum brasileiro. A produção tupiniquim teve performance realmente discreta nesse campo. Alguns, entretanto se destacaram: “Bruna Surfistinha”, “Qualquer Gato Vira Lata”, “Cilada.Com”, “O Homem do Futuro”, “De Pernas Pro Ar”, “As Mães de Chico Xavier”. Impressionante mesmo foi (e ainda está sendo) “O Palhaço”, segundo longa-metragem de Selton Mello. O filme encarou o mastodonte “Amanhecer” – que estrou em 1.104 salas – e não caiu nem foi atropelado. Pelo contrário, continua firme no horizonte. Na sexta semana (4 de dezembro) em cartaz, em 140 salas, atraiu 1,13 milhão de pessoas.
No campo do chamado “cinema alternativo”, o Brasil finalmente teve um filme do celebrado tailandês Apichatpong Weerasethakul distribuído no circuito nacional (obrigado Cannes 2010). Foi “Tio Boonmme que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”, obra que nos lembrou que o cinema não está morto. Um outro destaque veio do iraniano Abbas Kiarostami, “Cópia Fiel”, talvez seu mais sofisticado filme; e outro veio do dinamarques Lars Von Trier, com o seu “Melancolia”.
Após uma piada infeliz em plena coletiva de imprensa em Cannes 2011, o cineasta foi banido do festival, mas isso parece não ter abalado o interesse das pessoas ao redor do mundo em saber como seria o apocalipse para o dinamarquês. Aqui no Recife, o filme entrou na história do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, como a maior bilheteria de seus 14 anos de existência.
Por falar no Recife, a 15ª edição do Cine-PE: Festival Audiovisual debutou neste ano polemizando com direito a bolo e bonecos gigantes. Mas nada superou a crise que Alfredo e Sandra Bertini sofreram com tromba d’água que caiu sobre a cidade na semana do evento. No noite mais crítica, com um histórico congestionamento de trânsinto em função de um incrível boato que a barragem de Tacacurá iria sangrar, uma sessão foi cancelada deflagrando outras questões envolvendo os realizadores locais, que registraram um protesto na noite da premiação.
Enquanto os Bertini tinham pesadelos em maio, os Mendonça (Kleber e Emilie), organizadores do Janela Internacional de Cinema, sorriam em novembro. Pela primeira vez, em sua quarta edição, a mostra parece ter realmente entrado na pauta da cidade. A combinação de instalar um potente projetor digital profissional no Cine São Luiz com uma mostra exibindo todos os filmes de São Stanley Kubrick agitou o cinéfilo recifense. Mas nem tudo foram flores. Atrasos de mais de duas horas marcaram algumas sessões, o que ressaltou ainda mais atenção para a manutenção técnica do Palácio da rua da Aurora.
Outra novidade substância no universos dos festivais de cinema aconteceu com o mais importante do Brasil, o de Brasília. Depois de décadas acontecendo em setembro, o festival no Planalto Central voltou a ser realizado em novembro. Além disso, aumentou seu prêmio (melhor filme agora ganha R$ 250 mil) e o ineditismo não tem mais peso, o que esfriou a seleção 2011.
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VEM AÍ
Mais do mesmo em 2012
LUIZ JOAQUIM
As previsões para o novo ano é positiva, dizem os principais distribuidores de cinema no Brasil. Ao menos sob o ponto de vista de dinheiro entrando no bolso deles. Para isso eles contam com os lançamentos de, claro, novas sequências de franquias de sucesso: “O Espetacular Homem Aranha” (Sony), “A Era do Gelo 4” e “Alvin e Os Esquilos 3” (Fox), “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (Warner), “Madagascar 3” (Paramount). Mas há também apostas em projetos originais, como as animações “Valente” (Disney) e “Lorax” (Universal). Tudo isso deve chegar aos cinemas até julho próximo. No segundo semestre… mais do mesmo. Vem aí “Homens de Preto 3” (Sony), “O Hobbit” (um derivado de “O Senhor dos Anéis”, da Warner), e “Amanhecer: Parte 2” (Paris).
Do Brasil, os destaques financeiros podem ficar com “As Aventuras de Agamenon: O Repórter”, de Victor Lopes, com Marcelo Adnet como uma espécie de ‘Forrest Gump’, figura que esteve presente nos eventos importantes do século passado. “Totalmente Inocente”, de Rodrigo Bittencourt, satirizando os ‘favela movie’ “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Billie Pig”, com o diretor brasiliense José Eduardo Belmonte flertando com o cinema comercial e dirigindo Grazi Massafera ao lado de Selton Mello. E tem também “E Aí, Comeu?”, de Felipe Joffilly, com Bruno Mazzeo e Marcos Palmeiras num bar falando das conquistas sexuais.
Há os que não apelam para o humor como “Paraísos Artificiais”, de Marcos Prado, sobre dois irmãos cariocas que vivem em festas eletrônicas regadas à drogas; e “Gonzaga: De Pai para Filho”, de Breno Silveira, cinebiografando a relação de Lula Gonzaga e Gonzaguinha. Este último teve as filmagens iniciadas ontem, no Recife. Leia entrevista com Silveira em breve aqui no CinemaEscrito).
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Dez mais visto em 2011
(até 4 de dez 2011 – fonte Filme B)
FILME / Quantidade de salas / público
1 – RIO – 1.024 – 6,36 milhões
2 – Harry Potter e As … Parte 2 – 915 – 5,55 milhões
3 – Os Smurfs – 585 – 5,09 milhões
4 – Amanhecer Parte 1 – 1.014 – 5,02 milhões (em cartaz)
5 – Piratas do Caribe 4 – 734 – 4,46 milhões
6 – Enrolados – 240 salas – 3,92 milhões
7 – Velozes e Furiosos 5 – 517 – 3,61 milhões
8 – Carros 2 – 747 – 3,41 milhões
9 – Transformers 3 – 660 salas – 3,01 milhões
10 – Capitão América – O Primerio Vingador – 535 – 2,83 milhões
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DEPOIMENTOS
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Pedro Pinheiro – programador do Grupo Severiano Ribeiro)
“Todos os filmes lançados são importantes, mas um se destacou para mim: ‘Meia-Noite em Paris’. Recorde de bilheteria de Woody Allen no Brasil e por retratar alguns personagens que já foram destaques em alguns filmes exibidos na Sessão de Arte, como Pablo Picasso, por exemplo”.
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Kleber Mendonça – cineasta
“Foi um bom ano no cinema, mas minha escolha é simbólica. ‘Isto Não é um Filme’, do diretor iraniano preso atualmente, Jafar Panahi, mostra que, como nunca antes, o cinema pode ser uma ferramenta de expressão pessoal, feita em casa, uma forma de superar desafios e falar para o mundo. Esse desejo e capacidade de se expressar é essencial, e esse não-filme é isso”.
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Marcelo Pedroso – cineasta
“‘O Céu Sobre os Ombros’ foi um filme que me colocou num estado de arrebatamento estético e emotivo. Por sua narrativa simples e honesta, pela força e generosidade da entrega dos personagens, o filme toca em questões humanas com leveza e complexidade, embalando sentimentos que continuam pulsando para muito além da sessão.
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Alexandre Figueirôa – crítico e professor
“Um dos lançamentos mais instigantes de 2011 foi o filme ‘Melancolia’, de Lars Von Trier. O que mais impressiona no cineasta é sua capacidade de deixar a plateia atônita e perturbada e com este filme não foi diferente. A partir de um tema inusitado – o fim do mundo – e de uma cuidadosa concepção visual, Von Trier desenvolveu um inesperado drama psicológico de contornos metafísicos. Muitos não gostaram, mas quem embarcou na proposta dificilmente esquecerá do que viu”.
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