Tudo pelo Poder
Os bastidores dos bastidores numa eleição presidencial
Por Luiz Joaquim | 23.12.2011 (sexta-feira)
Quase ninguém lembra dos fracos “Confissões de Uma Mente Perigosa” (2002), muito menos de “O Amor não tem Regras” (2008). Assim sendo, o George Clooney diretor de cinema seria lembrado no futuro pelo bom “Boa Noite, Boa Sorte” (2005). Seria, pois chega agora ao Brasil o quarto longa-metragem sob sua direção, “Tudo pelo Poder” (The Ides of March, EUA, 2011) nos revela um cineasta maduro, com absoluto controle sobre este filme que parece atemporal e não pára de surpreender o espectador a cada 15 minutos sobre o universo de uma ficticia eleição presidencial nos EUA.
Vencedor de um prêmio paralelo no Festival de Veneza (em agosto) e indicado a quatro Globo de Ouro em 2012 (filme-drama, direção, roteiro e ator para Ryan Gosling), “Tudo pelo Poder” foi adaptado da peça “Farragut North”, de Beau Williman, figura que trabalhou nas “primárias” presidenciais no estado americano de Iowa, em 2004.
As “primárias” por lá são as eleições que iniciam o processo seletivo da presidência, pela qual o candidato precisa convencer os partidos a escolherem-no e apoiá-lo. Nesse sentido, o título original, “Idos de Março”, faz referência a traição e assassinato do imperador romano Júlio Cesar, mas também ao mês em que acontece as primárias no estado de Ohio.
No contexto do filme, é uma primária decisiva para a vitória se o governador e candidato democrata Mike Morris (Clooney) conquistar o apoio de um senador que é um escroque, mas é também absolutamente influente. O diretor da campanha política de Morris, Paul (Philip Seymour Hoffman, imbatível) até consegue que o senador o apoe, mas se Morris lhe garantir um posto estratégico em seu mandato presidencial. Coisa que o democrata nega com veemência.
Circulando nesse jogo está o primeiro assistente de Paul, Stephen (Ryan Gosling) que aos 30 anos é uma máquina de sedução e sagacidade política. Ele é tão bom que chega a, secretamente, ser convidado pelo diretor da campanha do adversário, Tom (Paul Giamatti), a trabalhar para o republicano.
Paralelo a isso, a estagiária Molly (Evan Rachel Wood, de “Aos 13”) se envolve sexualmente com Stephen que, acidentalmente, descobre um grande escândalo e se vê na obrigação de resolvê-lo.
Não bastaria contar com este time de atores-estrelas de primeira grandeza – que tem ainda Marisa Tomei como a repórter Ida, da revista Times – para fazer de “Tudo pelo Poder” um bom filme. Acima de tudo, Clooney soube administrar o potencial desse elenco de forma que, sempre que algum deles entra em cena, cada um parecem mesmo, individualmente, essencial para a história. E isso só acontece porque Clooney dá oportunidade a estes craques a mostrarem sua competência, mesmo que seja por um sorriso sutil no canto da boca.
Outro detalhe, no contexto do enredo, é que o personagem de Morris – que parece o mocinho (mas apenas parece) -, não podia prescindir da figura de galã que é Clooney. Assim, “Tudo pelo Poder” parecer traduzir como há tempo não víamos num filme, o que realmente vale numa eleição: ganhar, não importando o que tenha de ser atropelado.
E é como uma máquina de raio-x apontada para os bastidores dos bastidores de uma campanha política que Clooney nos coloca diante desse objetivo mesquinho. Como protagonista desse processo, acompanhamos o garoto Stephen perdendo seus últimos resquícios de idealismo social. Se no início a repórte Ida o avisa que cedo ou tarde Morris o decepcionará, no final é Ida que vai se surpreender com Stephan.
“Tudo pelo Poder” torna-se assim, automaticamente, um filme quase obrigatório. Não para os políticos, pois de tudo o que é mostrado ali eles já são letrados, mas para estudantes e jornalistas políticos, além de qualquer outro cidadão que se preocupe com a sociedade em que vive.
Sobre Ryan Gosling é preciso dizer que este ator de 31 anos tem o nome mais importante em Hollywood nesta nova década que se inicia. Quem o viu começando em seu primeiro protagonismo no cinema (“Dirário de Uma Paixão”, 2004) já podia perceber sua incrível talento para convencer e emocionar.
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