Cinema pernambucano sob foco
Programa OLHAR estreia no Canal Brasil
Por Luiz Joaquim | 16.01.2012 (segunda-feira)
Há pouco menos de um ano, Camilo Cavalcante iniciou um projeto audacioso, que batizou de “Olhar”. Nele, dez cineastas pernambucanos foram entrevistados com o objetivo fazer uma retrospectiva não apenas de suas obras, mas também uma investigação de suas influência profissionais e de vida. Há cerca de três meses, Camilo negociou a transmissões dos programas, cada um com 26 minutos, com o Canal Brasil (TV paga) e hoje, finalmente, o produto chega ao telespectador, às 21h30 (horário de Brasília).
O programa inaugural será com aquele que é considerado a maior referência viva do cinema pernambucano: Fernando Spencer. Os outros seguem por mais nove semanas, no mesmo dia e horário, trazendo os nomes de Kleber Mendonça Filho, Jomard Muniz de Britto, Katia Mesel, Lírio Ferreira, Daniel Bandeira, Marcelo Lordello, Marcelo Pedroso, Simião Martiniano, Cláudio Assis.
A escolha destes nomes já dá uma dimensão da pluralidade que Camilo definiu para o conceito do projeto, que desenha, ao final, a pluralidade do cinema local. “Por mais diferentes que sejam, sejam os mais experientes ou os mais jovens, há algo em comum. É a persistência, o desejo de contar uma história e a forma muito honesta como fazem isto”, ressalta o cineasta.
Possibilitado por recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e com o apoio da Faculdade Marista (cujo estúdio serviu para a gravação das entrevistas), a estrutura e a estética do “Olhar” está próxima do programa “Ensaio”, da TV Cultura. Equipado com quatro câmeras operando em diversos formatos de captação e ângulos – havia uma no teto e outra na poltrona do entrevistado -, “Olhar” tem sua própria personalidade, em particular na cenografia com um enorme painel e vários “olhares”, além de uma iluminação apontada para o chão que sugere a forma de uma iris, fazendo do cineasta a pupila dessa composição. Na cadeira de entrevistadores, foram convidados diversos realizadores, professores de cinema e jornalistas de cultura.
Num tour de fource, Camilo e sua equipe resolveram as gravações na primeira semana de fevereiro de 2011, mas a edição dos programas tomou nove meses. O produtor lembra que as conversas foram muito ricas, e duravam em média três horas, cheias de revelações. “Com Spencer, por exemplo, ele resgata a história de que o argumento de ‘O Baile Perfumado’ era seu, chamava-se ‘O Repórter das Arábias’ e ele o concedeu para depois aproveitar o figurino da produção e utilizar num outro projeto que desejava levar adiante. O nome era ‘O Combate de John Wayne contra Lampião'”, relembra.
“Na negociação com o Canal Brasil, mandamos uma prévia da entrevista com Lírio. Mas a grande dificuldade em fechar cada episódio era conseguir sintetizar um volume enorme de ótimas informações, colocando-as na estrutura que foi pensada para o programa, ou seja, partindo de histórias da infância dos entrevistados, de sua relação inicial com o cinema, de suas primeiras experiências dirigindo, depois analisando sua própria obra e ao final fazendo uma perspectiva de seu trabalho”, resume o produtor.
É um desejo de Camilo fazer o que ele chama de “segunda temporada” do “Olhar”. “Diversos nomes ainda precisam ser contemplados, como o de Paulo Caldas, Marcelo Gomes, Amin Stepple Hiluey, Adelina Pontual, Hilton Lacerda – e outros que a própria dinâmica do cenário cinematográfico local vem gerando”, explica ,sem incluir a si mesmo no time; mas consciente de que ele próprio, com quase duas dezenas de curtas-metragens no currículo e produzindo seu primeiro longa-metragem (veja matéria abaixo), é uma personagem essencial para o “Olhar”.
A segunda temporada do programa, entretanto, deve demorar um pouco. Antes disso, ele organiza-se para lançar oficialmente o “Olhar” no Estado neste próximo fevereiro, no Cine São Luiz. “A ideia é reunir todo mundo e exibir três episódios não projetados no Canal Brasil”. Há o plano, também, de mostrar a série na TV Pernambuco, em comum acordo com o Canal Brasil, que detém os direitos de exibição do “Olhar” até 2015. “Ao final, penso em lançar todos os programas em DVD, com uma nova edição, bem mais longa, e acompanhada da transcrição das entrevistas num livro”, encerra.
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“História da Eternidade”, o longa-metragem
LUIZ JOAQUIM
Em meio a excitação de ver seu projeto “Olhar” chegar aos telespectadores, Camilo Cavalcante também se debruça na produção de “A História da Eternidade”, seu primeiro longa-metragem, contemplado em 2010 pelo edital do baixo orçamento (R$ 1,2 milhão) do Ministério da Cultura. “Algumas locações já foram definidas. Andamos por João Pessoa, Salvador e Petrolina. Há uma lugar chamado Santa Fé, a 60 quilômetros de Petrolina, no sentido ao Piauí, que será fundamental”, adianta.
Boa parte da equipe técnica também já esta definida. Entre eles, Camilo deverá trabalhar com Mauro Pinheiro Jr. na fotografia em película 35mm, seu antigo parceiro em filmes como “O Velho, O Mar e O Lago” (2000) e o próprio curta “A História da Eternidade” (2003). “Alguns nomes do elenco também estão fechados, como Marcélia Cartaxo, Gero Camilo, Cláudio Jaborandy, Zezita Mattos, e Maxwell Nascimento (do longa ‘Querô’, 2007). O que está difícil no momento é definir a atriz que fará uma personagem de 14 anos”, revela. O próximo passo é efetivar algumas intervenções nas locações, pensar na direção de arte e no figurino para em junho efetivar os ensaios com os atores e daí, ao final de julho, realizar as filmagens.
Um desejo de Camilo era contar com o compositor polonês Zbigniew Preisner (colaborador tradicional de Krzysztof Kieslowski – o da “Trilogia das Cores”) para criar a trilha sonora de “A História da Eternidade”. “Mas o agente dele respondeu que para começar a conversa, o mínimo de cachê seria de 100 mil euros”. De certo, para a trilha sonora, haverá um trabalho de Dominguinhos, que pensa num tema para o personagem de Gero Camilo, um sanfoneiro cego.
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