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Críticas

Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

Investigação em câmera lenta

Por Luiz Joaquim | 13.01.2012 (sexta-feira)

Ah, a câmera lenta no cinema… De Akira Kurosawa, nos anos 1950, a Sam Peckinpah nos anos 1970, foram vários os mestres que utilizaram o recurso com louvor em função da dramaturgia do filme. Aí vieram os irmãos Wachowski (onde andam mesmo?) e criaram a super câmera lenta combinada com múltiplas câmeras em “Matrix” (1999). Daí para frente, até hoje, a técnica virou uma praga e ninguém teve mais paz do tal efeito. Hoje chega o mais novo exemplar que extrapola sua utilização: “Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras” (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, EUA, 2011), de Guy Ritchie.

O inglês Ritchie, que ganhou fama no final dos anos 1990, com o bom “Jogos, Trapaças e dois Canos Fumegantes”, parece permanecer naquela época. Com este “Sherlock 2” (ele também dirigiu o primeiro em 2010), sobram sequências de luta com a tal super câmera lenta. O fetiche do excesso em utilizá-la é revelador de, no mínimo, duas questões.

Uma é o fetiche pelo fetiche, pois não há a mínima importância para o enredo em utilizá-la em diversas situações; como, por exemplo, na sequência da fuga de Holmes (Robert Downey Jr.) e Watson (Jude Law) pela floresta enquanto levam tiros do vilão. A segunda está no fato de que a super câmera lenta – com a ajuda de uma montagem epiléptica – camufla a pobre coreografia de lutas com Downey Jr.

Outro artifício irritante está na descarada atitude em mostrar todas as cenas de ação à noite, enquanto as de diálogo (calmas) acontecem a luz do dia. Parece até uma piada de mau gosto o subtítulo ser “Um Jogo de Sombras” uma vez que, somadas a absurda escuridão onde a ação acontece, mais os cortes dementes das sequências de luta, sobra quase nada para ser visto ou compreendido pelo espectador na poltrona do cinema.

Se pudéssemos fazer uma analogia da escrita fílmica das lutas em “O Jogo de Sombras” com a leitura das palavras neste texto do jornal, o leitor teria de ser hábil para conseguir acompanhar e compreender, de primeira, a seguinte expressão: difícillersemespaçamentoadequadosejaláqualforalinguagemnaqualvocêescreve.

Você até pode entender a expressão como ela está formatada acima, mas não temos dúvidas que ela seria mais eficaz se escrita com os espaços (no caso do filme, com os tempos) que ela pede.

Mais uma questão – que já esteve presente no filme anterior – é a distância colossal entre o perfil e o estilo do Sherlock Holmes original criado por Sir Conan Doyle em 1887 e o que vemos no filme. Não há nada da investigação forense, pautada pelo método científico, no Sherlock de Downey Jr. Já a lógica dedutiva que ele utiliza parece a segunda piada de mau gosto.

A propósito de piadas, Holmes aqui resume-se a uma espécie de Jack Sparrow, o pirata piadístico, pantomímico e assexuado da série “Piratas do Caribe”, só que vivendo na Inglaterra do século 19. Sobre o “assexuado”, na verdade vale destacar as várias insinuações espalhadas no filme, como também no anterior, sobre a amizade de Holmes e Watson, que neste filme é tirado de sua lua de mel por Holmes (vestido de mulher) para ajudá-lo a derrotar um professor (Jared Harris) que planeja iniciar uma guerra mundial para enriquecer vendendo armar de fogo.

Nessa missão, entram em cena o irmão de Holmes (Stephen Fry) e a cigana Sim (Noome Rapace), enquanto Adler (Rachel McAdams) vai se despedindo da franquia. Coisa que Downey Jr. e Law podiam pensar a partir de agora.

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