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Reportagens

15º Tiradentes (2012) – Crítica da crítica

Sucessos e percalços da crítica de cinema

Por Luiz Joaquim | 16.02.2012 (quinta-feira)

Desde que surgiu a crítica de cinema com publicação regular num jornal, a partir de 17 de janeiro de 1912, sob a assinatura de W. G. Faulkner do periódico inglês London Evening News, a própria crítica tem sido alvo de questionamentos sobre a razão de sua necessidade. 100 anos passaram e o assunto ainda é quente. Serviu, por exemplo, para uma debate acalorado na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), que encerrou há pouco mais de duas semanas.

O encontro intitulado “Panorama crítico da crítica” aconteceu dividido em dois módulos, e no primeiro dia (26/01) agregou nomes como o de Luiz Carlos Merten (de “O Estado de S. Paulo”), o carioca Fábio Andrade (editor do site “Cinética”), o cineasta Eduardo Escorel (colunista de revista “Piauí”), com mediação do crítico paulista Francis Vogner dos Reis. A mesa teria ainda a presença nobre do Jean-Claude Bernardet, que por questões de saúde precisou retornar a São Paulo antes do debate.

Foi pela ausência de Bernardet que Escorel começou seu discurso. Lamentou, na verdade, pois disse que sua principal razão em estar ali era para ouvir aquele mestre da crítica no Brasil e a ele se dirigir. “Jean-Claude me ensinou ao longo de sua carreira que não há separação entre escrever e fazer cinema”, lembrou.

Tangenciando o tema do debate, Escorel, 67 anos, estruturou sua fala a partir de sua sensação que é um “sobrevivente” do cinema. Tendo começado a carreira como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade no filme “O Padre e a Moça” (1965), Escorel resgatou três fatos recentes – o fim da empresa Kodak, o surgimento do YouTV (projeto no site Youtube com 100 canais de programação específica), e a proposta na Grã-Bretanha para se instalar a “Marca Britânica” às produções daquela região. A partir daí, o palestrante apontou um descompasso do cinema brasileiro com o que se faz no resto do mundo.

Escorel não vê uma “marca brasileira” que possa circular como tal, nem fora, nem dentro do Brasil, ao contrário do que já acontece na Argentina, por exemplo. Falou também do “monstrengo burocrático” nacional no campo dos recursos de produção.

E encerrou polemizando: “O Brasil, como um todo, involuiu muito. O Brasil é uma País com a indústria obsoleta. Há uma disponibilidade enorme para o cinema, o que fortaleceu a estrutura estatal e tolhe a criatividade do cinema brasileiro. Esta se tornou perdulária e irrelevante. Mais dias, menos dias, a conta será apresentada. Estamos imersos em celebrações, e as dificuldades aumentam. O problema parece mesmo ser o excesso de batuque”, enfatizou.

Luiz Calos Merten concentrou seu discurso em sua experiência no ofício da crítica, no qual atua desde 1966, tendo originalmente iniciado em sua terra, Porto Alegre. Merten diz que tudo o que faz fora da crítica é um complemento da crítica. “Se faço entrevistas, programas de radio, escrevo no blog ou no jornal é tudo uma extensão da crítica. As pessoas podem até questionar a qualidade do meu trabalho, mas não a quantidade. Não há uma área na imprensa que escreva mais sobre cinema do que eu”, comentou o crítico do Estadão, que também revelou não gostar de ler críticas, mas sim de conversar sobre cinema.

Fábio Andrade, que abriu o debate, foi o mais pontual com a proposição colocada por Francis Vogner: “Pra que server a crítica?”. Fábio destacou que se interessa pela filosofia da crítica. “Dois conceitos me respondem bem essa pergunta. Um é do filósofo americano Noël Carroll. Ele vai a raiz grega da palavra e explica que ela serve de júri e dá um veredito. Então pergunto como pedir a crítica que não julge se isto está na sua raiz”, pondera. Fábio diz que a crítica que lhe interessa tem algo de pedagogia; o outro conceito que preza foi dado por Inágio Araújo: “a crítica é uma partícula de um conhecimento”.

Como leitor, o jovem crítico lembra que no início via nas críticas que lia coisas que não conseguia enxergar nos filmes. “Hoje não percebo mais isso nos textos que leio”. Sobre o cinema brasileiro Fábio sabe que os diretores lêem os textos e é preciso ter uma outra responsabilidade. “É preciso ser menos inconsequente aqui; embora, idealmente, não sejamos inconsequentes nunca”, concluiu.

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