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Reportagens

Zé Pequeno, hoje

Cavi Borges produz doc sobre atores de Cidade de Deus

Por Luiz Joaquim | 01.02.2012 (quarta-feira)

Carlos Vinícius Borges, ou melhor, Cavi Borges, o mais prolífero produtor e diretor de cinema do Rio de Janeiro – e provavelmente do Brasil – esteve na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que encerrou no último sábado (28/01) e, naquela noite, ele subiu ao palco como produtor premiado pelo curta-metragem “Quando Morremos a Noite”, de Eduardo Morotó. Além deste, Cavi participou da Mostra exibindo dois longas-metragens: “Paraíso, Aqui Vou Eu” (co-dirigido com Walter Daguerre) e “Strovengah – Amor Torto” (de André Sampaio); além de outros dois curtas: “Pregadores” (co-dirigido com Leonardo Kopke) e “Silêncio 63” (de Fábio Nascimento).

As cinco produções se juntam a mais de 70 outras realizadas ao longo dos últimos sete anos pela sua empresa, a Cavídeo, situada no bairro carioca do Humaitá. Quarta-feira passada, Cavi conversou com a reportagem da Folha de Pernambuco e contou que sua mais nova empreitada é o documentário “Cidade de Deus: 10 Anos Depois”.

Em parceria com Luciano Vidigal, que apresentou Leandro Firmino da Hora à produção do filme de Fernando Meirelles, em 2002 (e que viria a encarnar Zé Pequeno), Cavi conta que a ideia para o documentário surgiu a partir de um pergunta feita pela jornalista mineira Maria do Rosário Caetano em setembro do ano passado. “Ela queria saber como andava hoje a situação dos atores do filme, e achou que eu poderia responder. Depois, ela própria sugeriu que não havia pessoa melhor do que eu para fazer um documentário sobre isso”, recorda.

“Há aí um bom assunto a ser pesquisado. As pessoas acham que os atores e técnicos do ‘Cidade de Deus’ (CdD) se deram bem depois do filme. Muitos deles ainda passam dificuldades, não puderam aproveitar a fama. Tem gente que deve dinheiro e é até jurado de morte. A idéia é mostra este outro lado. O lado também difícil dessas pessoas”, adianta Cavi.

O produtor lembra também como os astros confluíram para o projeto dar certo. Quando, em setembro, esteve no corpo do júri do festival Curta-Se, em Sergipe, Cavi conheceu Quico Meirelles (filho de Fernando) e comentou sobre o projeto. Em novembro, Quico encontrou o pai no Festival Internacional de Cinema da Amazônia e falou de Cavi. O ator Tônico Pereira, que era o homenageado daquele festival, também comentou sobre o jovem diretor carioca.

“Naquele mesmo mês, quando Meirelles se perguntava quem era esse tal de Cavi, que todos falavam, e se era mesmo uma só pessoa, caiu na mão dele a ‘Revista de Cinema’ com uma reportagem detalhando meu perfil. Daí passamos a trocar e-mails. Ele gostou do projeto e colocou as imagens de ‘Cidade de Deus’ a disposição”, relembra.

Cavi recorda que Meirelles chegou a intermediar um contato com a BBC britânica, interessada em investir cerca de R$ 100 mil na produção, mas para isso deseja ver um primeiro corte do documentário. Cavi, que já entrou em contato com diversos atores, organiza as gravações do doc. até abril, e diz que neste mesmo mês terá um making of (registro que mostra os bastidores das filmagens) de “CdD: 10 Anos Depois”, podendo ser exibido no 16° Cine-PE: Festival do Audiovisual.

“[Alfredo] Bertini [da Bertini Produções e Eventos Culturais e Esportivos, produtora do Cine-PE] também está negociando a presença de Fernando Meirelles nesta edição, para homenageá-lo; e o making of seria exibido no contexto da homenagem”, revela Cavi. E continua: “Até junho, mês limite para inscrever o filme no Festival do Rio, quero ter uma primeira versão do documentário, e daí enviá-lo também a BBC”, conclui.

Quem é Cavi Borges?

O judô brasileiro perdeu. O cinema ganhou. Quando garoto, Cavi treinava judô e a paixão pelo esporte o acompanhou até os 23 anos, quando em 2000, no Japão, enquanto treinava para participar das Olimpíadas em Sidney, sofreu o rompimento de uma ligação no joelho, que o fez voltar para casa de cadeira de rodas e desistir da medalha olímpica.

Antes mesmo do acidente, em 1997, Cavi já havia inaugurado um novo ramo, a locadora CaVídeo, na Cobal Humaitá, Rio de Janeiro. “O plano era ser especializado em filmes de arte marciais, mas é claro que isso não ia durar. Os clientes chegavam lá procurando filmes do [Andrey] Tarkovskiy, [Akira] Kurosawa, Woody Allen e eu não tinha. Comecei a comprar esse acervo e a ver os filmes. Também fazia mostra desses diretores e assim ia aprendendo. Confesso que só em 2011 tive coragem de ver os filmes de [Ingmar] Bergman porque achava que não ia entender, mas acabei adorando”, segreda.

Em 2005, Cavi assumiu a produção de filmes tendo como maior característica o baixíssimo orçamento. Seus curtas-metragens nascem com média entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, já os longas ficam entre R$ 20 mil e R$ 60 mil. O baixo valor não é sinônimo de baixa qualidade. O filme “Riscado”, de Gustavo Pizzi, por exemplo, foi premiado ano passado no Festival de Gramado com os Kikitos de direção, roteiro e atriz. Antes, em abril de 2011, Cavi esteve no Cine-PE apresentando “Vamos Fazer um Brinde”, co-dirigido com a atriz Sabrina Rosa (outra que entrou no ramo pela participação em “Cidade de Deus”).

Para 2012, quando a CaVídeo completa 15 anos, seu produtor pretende completar o número de 15 longas-metragens e abrir a distribuidora ‘Filmes Livre’, montar uma retrospectiva e fazê-los circular pelos cinemas do País. Cavi ainda quer abrir uma sala de cinema para dar vazão a as suas produções. Quando se trata de Cavi Borges, o céu parece ser o limite.

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