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Críticas

Drive

Nasce um filme cult

Por Luiz Joaquim | 02.03.2012 (sexta-feira)

É de uma brasileira – a paulista Luísa Hanaê Matsushita, mais conhecida como Lovefoxxx, ex-integrante da banda “Cansei de Ser Sexy” – a voz que embala os créditos de abertura do filme “Drive” (EUA, 2011). Lovefoxxx faz o vocal na canção criada pelo francês Kavinsky (da dupla “Daft Punk”). Não é à toa que iniciamos o texto falando da trilha sonora deste longa-metragem de Nicolas Windding Refn, dinamarquês radicado em Nova Iorque, que saiu premiado do último festival de Cannes com o título de melhor direção por esta obra.

Em cartaz a partir de hoje no Recife, “Drive” traz algumas canções, e uma trilha sonora original criada por Cliff Martinez (colaborador habitual de Steven Soderberg), que não só funcionam numa harmonia primordial para o envolvimento do espectador com a trama e os personagens (em particular com o protagonismo silencioso e misterioso de Ryan Gosling), como reforça uma atmosfera retrô que cerca o filme.

Com os sintetizadores pop nas canções do grupo Desire ou do College com o Eletric Youth, ou ainda pelas composições eletrônicas lúgubres de Martinez, “Drive” soa como um filme fora desta segunda década do século 21. Na verdade, em tempos do “politicamente correto” exacerbado, o filme surge como se tivesse nascido no início dos anos 1970, tendo como irmãos os heróis anônimos e justos de Clint Eastwood ou os motoristas indômitos de Steve McQueen.

No caso, o anônimo aqui é o personagem de Gosling. Anônimo mesmo. Seu personagem nem nome tem. É identificado como “o garoto” pelo chefe na oficina mecânica em que trabalha. Ele também atua como dublê de filmes em Hollywood. É motorista nas cenas de ação e acidentes. À noite, ainda participa como apoio (é o motorista) de assaltos que, por sua determinação, não podem durar mais que cinco minutos.

Ensimesmado e de poucas palavras, ele conhece a vizinha Irene (a linda Carey Mulligan, de “Educação”) e seu filho de cinco anos (Kaden Leos), cujo marido Standard (Oscar Isaac) está na prisão. Para evitar que Irene e seu filho paguem pela dívida do marido, ele decide ajudar Standard e se envolve com um problema que lhe foge do controle.

Na condução dessa história, o diretor Windding Refn dá o tempo que é necessário (sem pressa) para o espectador criar simpatia pelo calado motorista que, com a trilha sonora correta embalando diversas cenas em câmera lenta, cria uma tempo próprio para o protagonista. As sequência românticas, em que Gosling e Mulligan contracenam (em química perfeita), tem o ritmo particular dos personagens e os diversos silêncios entre os dois são extremamente eloquentes. Atenção para a duração da sequência em que “o garoto” olha por uma janela e Irene se aproxima, além, claro, de uma outra já famosa em que os dois estão no elevador com uma terceira pessoa.

Ryan Gosling, em mais uma personagem charmoso, vai aumentando a fama de galã, mas não um imbecilizado pela beleza. O seu “motorista” não é um herói perfeito. Ele esfaqueia, atira, martela e pisoteia o crânio de seus inimigos numa fúria perturbadora. E ela (a violência) não surge com aviso prévio pelo enredo de Hossein Amini, a partir do livro de James Sallis. O espectador será pego de surpresa, e pode se assustar, mas vai sempre concordar com este “garoto”.

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