Hécuba (teatro)
A força de uma tragédia na dor da rainha Hécuba
Por Luiz Joaquim | 19.03.2012 (segunda-feira)
Não basta texto, performances, cenário, luz e figurinos bons para formar uma boa peça teatral. Quem entende do traçado, sabe que ou tudo roda organicamente, ou algo nesta equação pode sair prejudicado, ou pior, corre-se o risco de a peça inteira ruir. Com “Hécuba”, adaptada e dirigida por Gabriel Villela, e encenada no tetro Santa Isabel neste final de semana, o Recife teve a privilégio de testemunhar este equilíbrio de forças.
Numa primeira instância, vale ressaltar que o privilégio está em termos por aqui uma boa adaptação de um texto clássico – neste caso, a tragédia escrita há mais de 400 anos antes de Cristo, por Eurípides. Para a pergunta de como emocionar no palco, hoje, com a história da rainha de Tróia, Hécuba (Walderez de Barros), que torna-se escrava pela derrota contra os gregos, e ainda precisa aceitar o sacrifício da filha virgem Polixena (Nábia Vilela), ao mesmo tempo em que descobre que seu outro filho, Polidoro (Luiz Araujo) fora assassinado, o diretor Villela parece econômico mas, na verdade, não o é. E aí mora seu trunfo.
Com um texto condensado para cerca de um hora de espetáculo, Villela foi no cerne da dor e do propósito de Hécuba, uma mulher velha, órfã dos filhos e da pátria. Para dar corpo a esta dor, além da precisão dos atores, os dois elementos mais marcantes parecem ser mesmo o coro, que canta ao vivo, e é formado por Leo Diniz, Marcello Boffat, Flávio Tolezani, Fernando Nevez, Luísa Renaux, Rogério Romera, alem de Nábia e Luiz Araújo (com todos interpretando algum outro personagem); e as máscaras confeccionadas por Shicó do Mamulengo.
Sobre as máscaras, com seu aparência num misto de estupefação e susto, ao entrar em cena pela primeira vez provocam um efeito hipnótico. Quando combinadas com o lindo coral, em particular na entrada de Polixena em cena, com Nábia Vilela e sua voz potente e triste, parece que algo mágica invade o teatro. E se faz a beleza do Teatro com T maiúsculo
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