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Críticas

Heleno

Craque em fúria

Por Luiz Joaquim | 30.03.2012 (sexta-feira)

Parecia não haver melhor escolha para o protagonismo de “Heleno” (Bra., 2012) que o nome de Rodrigo Santoro. Explica-se: o Heleno do título do filme de José Henrique Fonseca, que estreia hoje no Brasil, se refere ao jogador de futebol Heleno de Freitas (1920-1959). Craque do Botafogo nos 1930/1940. Heleno foi também conhecido por ser a primeira estrela do futebol brasileiro, com salário astronômico e fama de galã. Terminaria a vida, entretanto, em um manicômio, vítima da sífilis que, sem tratamento adequado na época, deixava seu temperamento ainda mais intempestivo.

Santoro cai como uma luva no personagem. Não por ser na vida real um peladeiro – embora tenha treinado para o papel com Cláudio Adão, ex-jogador do Botafogo -, mas por figurar, no profissional que é, um ícone de sucesso, não só pela beleza mas também pelo talento. Talento comprovado há mais de uma década em trabalhos como “Bicho de 7 Cabeças”, de Laís Bodansky – ali também seu personagem esteve em um manicômio, como Heleno.

Com uma narrativa que intercala a ascensão do jogador na juventude com o fim de sua vida, nesse momento em estado quase vegetativo no manicômio em Barbacena, interior de Minas Gerais, percebe-se o envolvimento de Santoro, que emagreceu mais de dez quilos para compor a fase deprimente do craque.

Por questões de ordem narrativa, as diversas aventuras amorosas do jogador foram concentradas ao caso que mantinha com a cantora de cabaré Diamantina (a colombiana Angie Cepeda, de “Pantaleão e As Visitadoras”) e os maus-tratos a que submetia sua esposa Silvia (Alinne Moraes). Mas, em pouco menos de duas horas, o roteiro de Fernando Castetes, Felipe Bragança e Henrique Fonseca consegue fazer um desenho convincente e bastante esclarecedor a respeito dessa figura que soava correto, enquanto o mundo todo estava errado.

A história de Heleno não é tão diferente da de tantos outros jogadores contemporâneos, exceto pelas circunstâncias da mídia e da estrutura do passe do jogador. Naquela que é talvez a mais forte cena do filme, nos vestiários após um empate pelo Botafogo contra o Vasco, Heleno revolta-se pelos colegas aceitarem receber o “bicho”. Ele não admite que alguém jogue futebol por dinheiro, mas apenas pela camisa e pela honra. Hoje, tais argumentos soam quase piadisticamente, mas há 70 anos eram reais, e Rodrigo Santoro esmurra, chuta, cai, chora e comove, fazendo-os soar assim.

Na verdade, é impressionante o efeito de convencimento de “Heleno”. Considerando-se que estamos falando de uma produção de época, feita no Brasil – historicamente pouco convincente por dificuldades ou limitações de locações e direção de arte e figurino. Todos estes elementos técnico-criativos funcionam em comunhão, ajudando um pouco mais o tal efeito de convencimento da obra – mesmo com muitos planos fechados para cenas externas.

Um capítulo a parte é a fotografia de Walter Carvalho. Num preto e branco dramático, as imagens de “Heleno” também estão lá a serviço do nosso imaginário. Para entendermos o que estamos vendo como algo realmente autêntico. Como um Brasil que já foi, e parece estar longe de voltar a ser. Ao menos pela perspectiva futebolística.

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