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Críticas

Mãe e Filha

Petrus cresce

Por Luiz Joaquim | 02.03.2012 (sexta-feira)

Em junho do ano passado, o jovem cineasta cearense Petrus Cariry provocou uma explosão no 21° Cine Ceará. Ele projetava pela primeira vez seu segundo longa-metragem, “Mãe e Filha” (Ceará, 2011), que entra em cartaz hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

A explosão deixou muita gente atordoada. Afinal, Petrus, que já havia rodado o delicado e correto “O Grão” (2007) alcançou com seu novo filme, de produção ainda mais discreta e modesta que o anterior, um patamar de excelência estética, narrativa e dramática impressionante.

Para gravar (em digital) seu “Mãe e Filha”, o diretor (que também atuou como produtor, roteirista e fotógrafo) e mais 11 pessoas foram para Cococi, Sertão a cerca de 600 quilômetros de fortaleza e lá fizeram tudo em 20 dias.

Petrus já conhecia o lugar. Esteve lá em 2006 onde rodou um curta-metragem premiado, “Dos Restos e das Solidões”, e o novo longa-metragem dialoga diretamente com este seu filme curto. Isto porque a cidade fantasma onde vive a mãe Laura (a ótima Zezita Matos) funciona como um personagem essencial na história. As casas aos pedaços, invadidas pela vegetação da área, formam um cenário opressor ao mesmo tempo em que configuram a ruína humana em que se tornou a história de Laura.

Com a chegada de sua filha (Juliana Carvalho), que traz consigo seu bebê, Laura vê um facho de luz para sua vida ressecada. Abandonada pelo marido, Laura alimenta-se de uma esperança, a qual é recarregada com a chegada do neto.

Dono de uma erudição audiovisual admirável, Petrus conseguiu resolver esse tema usando equação cinematográfica que deixou seu filme com ares de universal. Na verdade, é o primeiro longa-metragem que temos acesso cujos elementos são autenticamente sertanejos, mas oferecem um alcance universal.

Quando a Folha de Pernambuco comentou a sessão no Cine Ceará, deixou claro que o filme consegue dialogar tanto com a escola russa de Sokurov, Tarkovski (1932-1986) e Paradjenov (1924-1990), quanto com o cinema contemporâneo do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

Para isso, Petrus caprichou na mise-en-scéne, na qual conta com a presença fantasmagórica de quatro vaqueiros que parecem guardiões de Cococi. Há ainda o reforço de uma trilha sonora lúgubre (de Hérlon Robson), que inclui “The Funeral of Queen Mary”, de Purcell (famosa por tocar em “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick). Atenção para inserção da pintura “Ofélia”, de John Everett Millais, nos atraindo para a ideia da morte no rosto de um mulher linda que boia inerte em meio a flores num rio. Assustador.

Ainda no Cine Ceará, Petrus disse que pretende voltar a Cococi em dez anos, quando quer fazer um terceiro filme naquele cenário. Aguardemos, então.

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