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Críticas

Raul: O Início, O fim e O Meio

Um maluco necessário

Por Luiz Joaquim | 23.03.2012 (sexta-feira)

Raul Seixas (1945-1989) volta hoje às manchetes dos jornais. Em particular pelas mãos de Walter Carvalho, consagrado fotógrafo do cinema brasileiro que cada vez mais engorda seu currículo como diretor de filmes. No caso, “Raul: O Início, O Meio e o Fim” (Brasil, 2012) é sua sexta obra assinando a direção, sendo este seu terceiro seu documentário.

Na verdade o projeto “Raul” nasceu por um convite feito ao Walter. O realizador, na verdade, não era um conhecedor profundo da história do roqueiro baiano. Apesar da simpatia por sua obra, seu interesse foi crescendo à medida que aumentava a gigantesca pesquisa sobre os passos do cantor e compositor.

A impressão que se tem do filme é que o aproveitamento dessa pesquisa foi total, uma vez que Walter e sua equipe resgataram até mesmo um áudio de Raul quando, ainda adolescente, sonhava em ser cantor, no início dos anos 1960. E foram mais além, nos anos 1950, quando ainda garoto Raul fazia “filmes” desenhando histórias de ação no caderno de anotações.

Walter e o montador Pablo Ribeiro tornaram, assim, concreto o sonho daquele garoto, de trabalhar no cinema, ao editar as imagens de seus desenhos, incluindo som no ritmo de cinema. De modo geral, a opção pela por estrutura do filme é linear. A ordem dessa estrutura dá sinais de como era o menino Raul, já com medo da morte acordando no meio da noite assustado, e caminha até a sua morte, aos 44 anos sob a maltratada aparência de quem abusou do álcool e outras drogas ilegais.

Com especial interesse no fascínio que Raul possuía por Elvis Presley, Walter fez questão incluir cenas de “Balada Sangrenta” (1958), pelo qual o Raul adolescente imitava o Rei do Rock e despertou a paixão pelo ritmo. Numa outra boa sacada da edição, com cenas do filme americano, Walter e Ribeiro alternavam as memórias do amigo de infância de Raul de forma fazê-lo “interagir” com Elvis cantando “Trouble”.

Ainda como ponto alto da montagem – de fato outro grande trunfo do filme além da pesquisa – Walter passa, a certa altura, de um depoimento de Paulo Coelho (o hoje escritor famoso) para o do compositor Cláudio Roberto (por meio de uma briga de galo, lembrando que esta discussão (quem foi o melhor parceiro de Raul) nunca teve fim.

O acaso também é um elemento presente e feliz neste documentário, ao menos em um momento, quando Paulo Coelho tenta se livrar de uma mosca que lhe pertuba durante seu depoimento em Genebra. “Não vou matar que não adianta”, diz Coelho lembrando a letra de “Mosca na Sopa”, de Raul.

Corajoso, “O Início, O Meio e O Fim” não escapole de nenhuma questão atribulada da vida do artista. Não deixa de entrar na polêmica gerada pela “Sociedade Alternativa”, pelo qual Raul e Coelho foram exilados, e após tomar o depoimento das ex-companheiras – Edith, Glória, Menna e Kika (revelando o lado menos conhecido do Maluco Beleza), entra noutro assunto delicado: a união com Marcelo Nova.

Por Nova, Raul voltou, quatro anos depois, a pisar nos palcos. Estava no ostracismo e sem dinheiro. Chegou a fazer 50 shows em todo o País, mas sua saúde não era mais a de um jovem rock star. Tanta exposição gerou controvérsia sobre se aquilo foi ou não maléfico para o roqueiro. Walter Carvalho é esperto o suficiente para deixar o espectador tomar suas próprias conclusões. No final das contas, o filme é um lindo presente aos fãs do cantor, e um belo documento sobre um maluco genial e necessário chamado Raul.

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