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Festivais

16º Cine-PE (2012) – noite 1

O Maracanã dos Festivais teve noite de Estádio dos Aflitos

Por Luiz Joaquim | 27.04.2012 (sexta-feira)

O abertura na noite de quinta-feira do “maracanã dos festivais”, alcunha criada por Pelé para o Cine-PE: Festival do Audiovisual recebeu um público cuja proporção estava mais para a do estádio do Aflitos (do Clube Náutico Capibaribe, Recife). Isto porque só cerca de metade da capacidade na parte inferior do Cineteatro Guararapes estava ocupada por espectadores. Foi um público discreto, que teve seu maior volume durante a exibição dos curtas-metragens, cujas obras foram todas bem recebidas pela plateia recifense. A participação de cerca de 800 pessoas para a abertura de um festival de cinema não é exatamente ruim, mas é baixo para o padrão do evento Pernambucano quando se considera a capacidade de 2,4 mil espectadores do auditório.

A cerimônia de abertura se resumiu a um monólogo de 15 minutos interpretado pelo ator Sérgio Gusmão. A partir de um texto criado pelo diretor do evento, Alfredo Bertini, Gusmão brincou com a mania de grandeza do pernambucano, dizendo que o mundo está prestes a mudar com a tomada do poder mundial por eles. As piadas conseguiram algumas risadas discretas do público, mas podem ter soado esquisitas e até cansativas para o espectador não-pernambucano.

Mas, o problema concreto da noite estava por vir. Depois de uma projeção ok em 35mm dos três curtas-metragens da noite (apenas com um pequeno desajuste de foco no lado esquerdo da tela, rapidamente corrigido), a exibição da principal atração, o longa “À Beira do Abismo”, de Breno Silveira, exibiu em digital com uma desregulagem na distribuição do som.

Sem a atuação das caixas surround (responsável pelos efeito de ruídos ambientes ao redor do auditório), o áudio ficou misturado e com eco vindo todo por trás da tela. O resultado foi um eco que atrapalhou em muito a percepção dos diálogos e a fruição do filme. A abertura do quadro da imagem projetada numa dimensão menor que a da tela, também provocava um efeito redutor da beleza do filme. Ao final da sessão, Alfredo Bertini pediu desculpas ao público e principalmente à equipe do longa, que assistia o trabalho pela primeira vez. Avisou também que “À Beira do Abismo” deve ganhar uma segunda exibição com as condições de áudio corretas, hoje ou amanhã.

De qualquer forma, independente do problema técnico, “À Beira do Caminho” parece não ter empolgado. Com fotografia requintada e os atores João Miguel e o garoto Vinícius Nascimento em perfeita comunhão, a história do músico João (Miguel) que desiste da vida passada por um trauma amoroso para rodar de caminhão pelas estradas do Brasil parece pecar pelo ritmo. Há, sem dúvida, um cuidado na orquestração das informações liberadas pelo montagem – só aos poucos vamos conhecendo sobre o passado de João e Duda (Nascimento) – mas talvez seja mesmo essa economia de informações que atrase o envolvimento da plateia com o drama.

Uma curiosidade: por circunstâncias do tema, do ator João Miguel, da fotografia e das locações, “À Beira do Caminho” lembrou dois filme de Marcelo Gomes – “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo” (co-dirigido com Karin Ainouz). O abandono do menino Duda também lembrou do menino Josué em “Central do Brasil”, de Walter Salles.

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