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Reportagens

Mazzaropi: 100 anos

O campeão de popularidade

Por Luiz Joaquim | 09.04.2012 (segunda-feira)

Começam hoje, data de seu aniversário, as comemoração do centenário de nascimento de Amácio Mazzaropi (1912-1981), ou apenas Mazza para os mais próximos. Ao longo dos próximos 12 meses algumas manisfestações deverão lembrar a história desse que foi, até hoje, o maior fenômeno do cinema nacional. Mazza foi o mais longevo produtor, diretor e ator que já surgiu por estas bandas. Sua popularidade não tinha limites com o espectador brasileiro. Gozava de simpatia com o grande público principalmente nos anos 1950 e 1960, quando ficou imortalizado como o eterno caipira gentil, mas esperto, que encarnou pela primeira vez em “Cadinho” (1953).

O personagem ganhou uma nova elaboração, mais simpática e preguiçosa, em “Jeca Tatu” (1959) e a partir dali nunca mais deixariamos de relacioná-lo ao próprio Mazzaropi. Na verdade, já na semana passada, deu-se início a celebração do velho Mazza. Com ações na Biblioteca Pública Roberto Santos e na Cinemateca Brasileira, ambas em São Paulo. O paulistano terá acesso a um ciclo de exibições dedicadas ao artista. São exibições de cópias restauradas de alguns de seus melhores filmes como “Zé do Periquito” (1960), “O Lamparina (1963), “O Puritano da Rua Augusta” (1965), além de “O Corintiano” (1966).

Nascido em São Paulo, Mazzaropi saiu de casa aos 14 anos para viajar pelo País acompanhando um espetáculo ambulante, para o qual fazia as cortinas cômicas. Nos intervalos, brincava de interpretar o personagem caipira mais famoso da época, criado pelo ator Genésio Arruda – estrela dos primeiros filmes sonoros brasileiros como “Acabaram-se os Otários”, (1929).

Em 1940, criou sua própria companhia, o “Pavilhão Mazzaropi” – na verdade um barracão desmontável, na qual apresentava uma peça e depois um show variado. Lá pelo final dos anos 1940, já em São Paulo, Mazza tinha um programa de 15 minutos na Rádio Tupi, no qual conversava com caipiras. Com o surgimento da TV Tupi, em 1950, Mazzaropi foi logo convidado a manter um programa ali, e criou o “Rancho Alegre”.

Pararelo a isso, o grande e audacioso projeto de indústria cinematográfica nacional dos estúdios Vera Cruz percebeu no artista uma maneira de atrair espectador às bilheterias. Convidou, assim, Mazzaropi para fazer filmes. Foi aqui, época em que o cinema era mais popular que a nascente TV, que ele começou a tornar-se uma lenda. O início foi com “Sai da Frente” (1952) e de lá sairíam mais dois títulos.

A Vera Cruz viria a falir, mas Mazza gostou da experiência e desenvolveu outros projetos com outras produtoras menores até abrir a Produções Amácio Mazzaropi (Pam Filmes) e fazer um sucesso atrás do outro. Assim, passou incólume por períodos importantes do cinema brasileiro como a Chanchada e o Cinema Novo. Enquanto a crítica especializada não dava muita bola para os filmes lançados a cada ano daquele matuto sem jeito, de andar desengonçado e com os cotovelos pedindo passagem, as filas davam voltas nos cinemas a cada nova estreia deste craque do humor.

Tanto sucesso nas telas, fizeram-no voltar a TV. Desta vez pelas mãos de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni). Era na TV Excelsior de São Paulo, e o artista ficou a frente de um programa de variedades, no ar até 1962. A mais recente lembrança à figura de Mazzaropi veio pelo divertido filme “Tapete Vermelho” (2006), de Luis Alberto Pereira, no qual Matheus Nachtergaele – num personagem que é a própria imagem e trejeitos do caipira – sai pelo mundo para encontrar um filme de Mazzaropi que viu na infância.

Mazzaropi deve ganhar documentário

Um outra boa notícia é que as homenagens a Mazzaropi não devem parar apenas nas exibições em cópias novas dos seus trabalhos. Está em curso a pesquisa e produção de um documentário sobre o velho Mazza. O responsável pela empreitada é o experiente crítico de cinema Celso Sabadin.

Celso conta que a ideia de fazer o filme começou em 2009, quando o produtor Moracy do Val, com quem ele trabalhou no filme ‘O Menino da Porteira’, lhe encomedou um roteiro para um filme que ele desejava fazer sobre o centenário de Mazzaropi. “Ele queria uma ficção. Comecei a trabalhar na pesquisa e no roteiro, mas logo percebemos que uma ficção sobre a vida de Mazzaropi seria um projeto muito caro, muito grande (envolvendo várias reconstituições de época, etc) e que talvez não ficasse pronto até 2013, ano de encerramento do centenário”, relembra Celso.

E continua “Propus então que fizéssemos um documentário, mesmo porque nesta altura do campeonato eu já estava apaixonado pela pesquisa que estava fazendo. Ele não gostou da ideia de fazer um documentário, e me liberou para apresentar a idéia para outro produtor. Fui então ao Edu Felistoque que aceitou na hora. Fizemos uma parceria com o produtor Paulo Duarte e começamos a tocar o projeto”.

Hoje, a situação atual do projeto é a seguinte: “tudo acontecendo ao mesmo tempo”, diz o crítico que continua a pesquisa, levanta entrevistas, corre atrás de editais e patrocínio. “Já garantimos o mais importante: o direito de utilizar, no filme, as imagens da grande maioria dos filmes do Mazzaropi. A previsão é de lançá-lo em cinema até o inicio de 2013, já que em 9 de abril de 2013 encerra-se o Centenário Mazzaropi”, aposta.

Sobre a estratégia narrativa de como contar essa história tão longa de um personagem tão rico, Celso adianta que está trabalhando dentro de dois critérios principais. “O primeiro é levantar um Mazzaropi mais desconhecido do grande público, ou seja, o Mazza produtor/distribuidor/empresário. E depois tentar entender o tamanho de tanto sucesso. Isto porque o sucesso de Mazzaropi é desproporcional a tudo o que já foi feito no cinema brasileiro. Foram mais de 30 anos de carreira cinematográfica, 32 longas, todos eles sucessos de bilheteria. O homem morreu milionário, e nunca recorreu nem a financiamentos estatais, nem a leis de incentivo à cultura”, conta, entusiasmado.

Celso destaca também que seu cinebiografado era também um cara apolítico. “Não tinha rabo preso com ninguém, nem se importava muito com isso. Era totalmente independente no campo financeiro. Ele, também neste aspecto, era a cara do povo brasileiro: em um de seus filmes, ele chega a afirmar que o povo brasileiro só vota porque é obrigado. Se fosse facultativo, o povo faria um feriadão e sairia pra pescar”.

Para chegar ao perfil mais próximo possível do real Mazzaropi, Celso adotou uma investigação documental e jornalística. “Optamos por ouvir. Ouvir muito. Ouvimos vários atores, técnicos e diretores que trabalharam com Mazzaropi e ouvimos especialistas em cultura caipira. Percebemos que Mazzaropi foi uma figura multifacetada, repleta de nuances e viéses, plural. Decidimos colocar no filme todas estas interpretações. Tem gente que diz que ele era gênio, tem gente que diz que ele era ignorante, estará tudo lá no filme”.

Foi também tarefa obrigatória rever todos os 32 filmes de Mazzaropi, procurando analisar as nuances e selecionando trechos significativos para o documentário. “Teremos várias imagens de seus filmes para mostrar. Acho que será um documentário que realmente ‘documenta’ Mazzaropi, e de forma imparcial”.

Celso quer que a sua opinião pessoal e a dos produtores do filme não seja importante, mas sim que o documentário abra este “universo Mazzaropiano”. “Um universo muito mais complexo do que parece, para um público que certamente desconhece estes ‘vários Mazzaropis'”, concluiu.

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