O Dia em que Eu não Nasci
Buenos Aires te espera, no cine São Luiz (Recife)
Por Luiz Joaquim | 03.04.2012 (terça-feira)
Mais uma vez lançando um (bom) filme de forma discreta no Recife, o Cinema São Luiz coloca a disposição de seus freqüentadores “O Dia em Que eu Não Nasci” (Das Lied in Mir, Ale./Arg., 2010). A produção germano-argentina, dirigida por Florian Micoud Coussen, está em cartaz desde sexta-feira no palácio da rua da Aurora (ver roteiro).
Florian parte de uma sensação extremamente íntima, silenciosa e misteriosa que todo e qualquer ser humano já passou (passará) algum dia para introduzir seu enredo. Falamos do infalível e incompreensível reflexo da mente em reconhecer algo do passado, mesmo do mais longínquo, estimulado por um cheiro, um som, uma imagem, um tato. Sim, pois o corpo humano tem sua própria memória que nem sempre obedece a uma lógica simples.
No filme a sensação acontece enquanto Maria (Jessica Schwarz) aguarda no aeroporto de Ezezia, em Buenos Aires, uma conexão para Santiago. Enquanto espera, a alemã, que não fala espanhol, escuta, ao seu lado, uma mãe ninar seu bebê cantando em castelhano uma velha canção argentina. Maria se percebe reconhecendo a melodia e a sua letra. Começa então a chorar desesperadamente, tomada por uma profunda sensação de tristeza e saudade, mas de algo que ela não sabe o que.
O efeito da sensação é tão forte que ela decide ficar na Argentina. E quando, por telefone na Alemanha, seu pai (Michael Gwisdek) sabe dessa experiência de Maria, toma o primeiro vôo para encontrar a filha e contar-lhe um segredo sobre sua primeira infância. O que se segue é uma busca determinada por Maria sobre suas origens. Percurso que ela vai fazer com o policial amigo, Alejandro (Rafael Ferro).
Coadjuvante de o “Perfume: A História de Um Assassino” (2006), a atriz Schwarz aparece agora com uma força enorme para vivenciar as descobertas de Maria. Sem pieguismos e com economia narrativa, “O Dia em Que Não Nasci” é um belo exemplo da junção de duas culturas (alemã x argentina) em função de um boa dramaturgia. E para completar, tendo o cenário de Buenos Aires como forte presença, quase personificando para Maria uma sensação de estrangeirismo de si mesma, o diretor Florian ainda consegue nos colocar dentro dessa sensação.
Uma curiosidade: Rafael Ferro apareceu no recente sucesso argentino “Medianeira: Buenos Aires na Era do Amor Digital” (2011). Ali, ele é um nadador que conquista a protagonista numa piscina coletiva, mas falha com ela na cama.
Rafael, cinco anos antes, fora protagonista de um filme chamado “Água” (inédito no Brasil), de Verônica Chen, sobre um campeão de natação em águas abertas. Já em “O Dia em Que eu Não Nasci” seu personagem não é um nadador, mas a atriz Schwarz vive um competidora de natação em provas de 50 metros, aparecendo em boas cenas na piscina. Piscina, a propósito, que ilustra o belo pôster alemão original do filme.
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