O Último dançarino de Mao
Superação chinesa, encantamento americano
Por Luiz Joaquim | 20.04.2012 (sexta-feira)
Quando exibido em dezembro na mostra Expectativa 2012 / Retrospectiva 2011 do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, “O Último Dançarino de Mao” (Mao’s Last Dancer, Austral., 2009) deixou uma boa impressão nos poucos espectadores que tiveram acesso ao filme. Um bom “termômetro” para isso era o grande volume de pessoas perguntando quando o filme entraria definitivamente em cartaz. A partir de hoje, em cartaz (exceto na segunda-feira), a obra que conta a história real do bailarino chinês Li Cunxin pode ser (re)vista na sala do Derby.
Dirigido por Bruce Beresford, mais conhecido pelos quatro Oscars de “Conduzindo Miss Daisy” em 1990, seu novo filme é uma versão do livro autobiográfico de Cunxin. Oriundo de uma pobre família camponesa na China, o jovem viria a se tornar uma referência mundial do balé a partir de uma oportunidade surgida numa viagem feita ao EUA, graças a um processo de intercâmbio cultural.
Ela aconteceu ali pelo final dos anos 1970, quando a Revolução Cultural chinesa era conduzida pela esposa de Mao Tsé-tung. Mas, antes de chegar aos EUA, Beresford contextualiza a infância pobre e formação dura pela qual passou o adolescente Cunxin (interpretado na vida adulta pelo bailarino Chi Cao). Estas duas fases – Cunxin crescendo na China e vivendo nos EUA – seguem linear, mas simultaneamente, de forma alternada.
A estratégia é boa, com a estrutura funcionando tanto no ambiente comunista chinês, quanto no contraste da total liberdade de expressão da América em 1981, ano em que Cunxin chega a Houston para passar três meses. Percebe-se que o bailarino Chi Cao não é propriamente um ator particularmente nesses momentos em que seu personagem deslumbra-se com o Ocidente. Sabe-se que Chi Cao foi escolhido por Cunxin em pessoa.
E a escolha foi boa, levando em consideração que a exploração de Beresford pelo dançarino Chi Cao é maior que a exploração de Chi Cao como ator. Em “O Último Dançarino de Mao”, somos submetidos a uma dezena de coreografias, sendo uma das mais emocionantes a embalada pela “Sagração da Primavera”, de Stravinsky que, no contexto do filme, traz consigo uma carga emotiva que deve derramar solenemente lágrimas de uma boa parcela do público. Apostem.
O filme, enfim, conquista não apenas pelas duras histórias de superação vividas por Cunxin – e tão bem administradas no modo de Beresford contar essa história – mas também pela capacidade de encantar com a arte da dança. É, sem dúvida, uma boa dobradinha, o programa duplo de assistir “Pina”, de Wim Wenders (também no Cinema da Fundação) combinado com este “O Último Dançarino de Mao”.
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