I Ciclo de Cine Espanhol (2012)
Entendendo o cinema espanhol
Por Luiz Joaquim | 07.05.2012 (segunda-feira)
O Instituto Cervantes do Recife, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, lança às 19h30 de hoje (e segue até quarta-feira) no Cinema da Fundação, o Ciclo de Cine Espanhol. São seis filmes (exibem dois por dia) – projetados em DVD – que fazem uma relação entre o cinema produzido por lá nos anos 1950 e anos 2000.
A obra que abre o programa hojé é “Bem-vindo Mr. Marshall” (Bienvenido Mister Marshall, 1953), de Luis Garcia Berlanga. Título fundamental da história do cinema espanhol, “Mr. Marshall” é centrado na história de uma aldeia andaluza, Villar del Rio, no momento da expectativa de uma visita de diplomatas americanos. Deles se espera a retirada de dividendos ao abrigo do Plano Marshall. Depois, às 21h10, “Em Baixo das Estrelas” (Bajo las Estrellas, 2007), de Félix Viscarret, apresenta um trompetista, preguiçoso que trabalha na noite. Ele volta a sua cidade natal, Navarra, para o enterro do pai. Lá, descobre que seu irmão, Lalo, está quase para casar e cria um amizade especial pela filhinha da noiva de Lalo.
Amanhã, às 18h30, é a vez de outro clássico: “Morte de Um Ciclista” (Muerte de um Ciclista, 1955), de Juan Antonio Bardem, sobre um professor de universidade e sua amante, uma mulher casada da burguesia. Eles atropelam acidentalmente um ciclista e, receosos que descubram o adultério, decidem ocultar o trágico acidente. Já na sessão das 20h20, um sucesso espanhol recente, chamado “Azuloacurocasinegro” (2006), de Daniel Sánchez Arévalo, mostra o destino de vários personagens que se interligam em torno de Jorge, um rapaz que acredita ter sido responsável pelos problemas de saúde do seu pai e que, para tentar compensar, assume um trabalho de porteiro enquanto termina a faculdade.
Na quarta-feira, às 18h40, exibe “Calle Mayor” também de Juan Antonio Bardem, feito um ano depois de “Morte de Um Ciclista”. Apresenta os habitantes de uma pequena cidade provinciana que fazem Isabel (Betsy Blair), uma mulher de 35 anos, que se sente fracassada por ser solteira, acreditar que um homem está apaixonado por ela. Por fim, às 20h40, passa “Três Dias com a Família” (Tres Dias con la Familia, 2009), de Mar Coll. O mais recente filme da mostra coloca a morte do patriarca de uma família como pretexto para que seus descendentes burgueses e conservadores voltem a conviver em harmonia.
Acompanha a mostra uma exposição fotográfica, que ficará exposta no corredor do cinema (1° andar do prédio da Fundaj no Derby) durante todo o mês de maio. Em 80 fotografias, a exposição faz um apanhado da história do cinema daquele país. O Instituto Cervantes também está trazendo da Espanha o especialista José Luis Castro de Paz (leia entrevista) para fazer a apresentação da mostra na noite de hoje.
Castro é licenciado em História da Arte, Doutor em História do Cinema e catedrático em comunicação audiovisual e publicidade na faculdade de ciências sociais e de comunicação da universidade de Santiago de Compostela. Participou da obra coletiva “Antologia Crítica do Cinema Espanhol, de 1896 a 1995” (1997) e colaborou para o “Dicionário do Cinema Espanhol”, editado em 1998, entre outros. O acesso para as sessões é gratuito, obedecendo a capacidade da sala de 197 lugares.
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ENTREVISTA: José Luis Castro da Paz
Quem foram os primeiros ídolos (diretores/atores) do cinema espanhol?
Acho que, sem dúvida, os primeiros grandes ídolos do cinema espanhol são os protagonistas dos célebres filmes rodados durante a 2ª República, como Império Argentina (Nobreza baturra, Morena Clara…) e Angelillo (a filha de Juan Simón). Os diretores nunca alcançaram um alto grau de popularidade, embora durante o franquismo, por exemplo, José Luis Sáenz de Heredia chegasse a ser o mais parecido com um diretor “estrela”.
Qual a fase mais popular do cinema espanhol? Houve alguma época em que o cinema espanhol fazia tanto sucesso entre o público (ou mais) quanto o cinema americano?
Só durante o período republicano se organizaram as bases de um cinema nacional fortemente enraizado no sentir popular, vinculado à farsa e à opereta. Mas, ao contrário do que habitualmente se acredita, durante o pós-guerra e anos 1950, conseguiram manter certos laços com um costume autêntico e voraz, com resposta satisfatória do público popular.
Qual a época mais frágil em quantidade, no sentido de produzir filmes na Espanha?
Desde o momento imediatamente posterior ao surgimento do som. As limitações tecnológicas do país fizeram com que quase se paralisasse por completo a produção. Mas a história do cinema espanhol está cheia de caídas e renascimentos, de crises (quase permanentes) e florescimentos (tão chamativas como conjunturais).
O poder público atua hoje por meio de algum subsídio na produção do cinema espanhol? Existem leis de proteção para o cinema espanhol sobreviver no mercado?
Aconteceram esse tipo de ajuda, com altos e baixos, desde o franquismo. Inclusive se chegou a pensar, depois da Guerra, que a obrigatoriedade da dublagem ajudaria o cinema espanhol. Seria, como sabemos, um erro gravíssimo. Hoje boa parte do cinema espanhol só é possível graças a subsídios públicos, mas o futuro é negro pela gravíssima crise econômica que atravessamos.
O cinema espanhol que é realizado hoje é bem visto pelos espanhois?
Lamentavelmente não, e com exceções como Almodóvar ou Santiago Segura, é realmente pouco. Talvez o que tivemos de melhor como cinema popular espanhol no ano passado (Berlanga é um exemplo), hoje se encontra em séries para televisão.
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