7a. CineOP (2012) – noite 1
Ouro Preto abre com homenagem tripla
Por Luiz Joaquim | 23.06.2012 (sábado)
OURO PRETO (MG) – Se a ideia de ver um filme no cinema ainda está atrelada a ideia de aconchego e conforto, então a abertura da 7a CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, que acontece até segunda-feira na histórica cidade mineira, deu um belo exemplo sobre isso, combinando também elegância.
Mesmo com o protocolo político de agradecer aos patrocinadores, a produção, como sempre, caprichou no bom gosto para a cerimônia de abertura, que só realçou a beleza do Cine Vila Rica, sala de 1957, charmosa e tecnicamente bem atualizada.
Antes da única exibição da noite – o filme “Pra Frente Brasil!” (1982) em cópia 35mm, num bom e nostálgico estado de conservação – a CineOP exibiu um vídeo contextualizando a urgência nas questões da preservação audiovisual, além de suscitar a memória de algumas personalidades que já se foram como Paulo César Saraceni e Carlos Reichenbach (falecido último dia 14); com este último amplamente aplaudido sempre que aparecia na tela com uma de suas frases contundentes e precisas.
Gustavo Dahl, falecido em junho de 2011, também recebeu homenagem, representado pelos filhos. De corpo presente estavam Reginaldo e Roberto Farias – este, aos 80 anos – que também são homenageados por aqui.
Vale dizer que a homenagem da CineOP aparenta mesmo como uma real homenagem, diferente dos outros festivais brasileiros. Isto porque há consistência em sua composição. Além das exibições de seis filmes – cinco deles no formato original (35mm) – dos três homenageados, a mostra promove os debates “Gustavo Dahl e a Preservação Audiovisual” (hoje) e “Os Gêneros dos Irmãos Farias” (ontem), com gente como os professores Arthur Autran e João Luiz Vieira na mesa. Tudo para por, a luz dos dias de hoje, a real importância do cinema e do trabalho político destes três nomes.
E é o que de fato acontece. Era impossível, após a sessão de “Pra Frente Brasil!” na quinta-feira, não discutir por aqui a importância e pertinência de sua realização, e de ter sido lançado em 1982 (por um descuido da censura). Num outro quesito, o da estética cinematográfica, entrou em pauta o “envelhecimento” ou não do filme.
Guardando características próprias do cinema nacional do início da década de 1980, “Pra Frente Brasil!” traz consigo aspectos próprias daquele momento, parecendo quebrar seu objetivo primeiro, que era contar em forma de thriller o desaparecimento de um homem comum e as formas de tortura durante junho de 1970, em plena euforia nacional pela conquista do tri-campeonato mundial de futebol.
Roberto Farias, na verdade, foi de uma competência impressionante ao conseguir reunir ali no filme questões em todos os âmbitos sociais com relação ao regime político de então – os ditadores, os empresários, a imprensa, os subversivos e o cidadão comum. Tudo isso com um fluidez narrativa envolvente, exceto por apenas alguns deslizes ao inserir um tom melodramático no romance atropelado dos personagens de Elizabeth Savalla e Antônio Fagundes.
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