7a. CineOP (2012) – noite 3
Bravo Guerreiro nterrompido
Por Luiz Joaquim | 25.06.2012 (segunda-feira)
OURO PRETO (MG) – A abertura da programação de filmes no sábado à noite, no Cine Vila Rica, para a 7a. CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto foi marcada por um erro que deixou um arranhão no padrão de qualidade do evento. Era a exibição, às 18h, do longa-metragem “O Bravo Guerreiro” (1969), único filme dirigido por Gustavo Dahl (1938-2011) exibido por aqui, um dos homenageados do CineOP.
Tudo parecia perfeito para a sessão, que apresentava o filme em cópia 35mm bastante conservada. Até que lá pelos 45 minutos de projeção, uma das parte do filme entrou com a imagem de ponta-cabeça e som incompreensível. Até aí tudo bem. A sessão foi interrompida por cerca de dez minutos e o rolo foi remontado corretamente. O problema mais grave aconteceu quando, cerca de 15 minutos depois, a projeção foi interrompida para a produção da Mostra explicar ao microfone que o filme veio faltando a 5a. e última parte.
A filha de Dahl, representando o pai, apressou-se em tomar o microfone e explicar que a cópia veio assim da Cinemateca do Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro, e que “era muito irônico que uma falha assim tenha acontecido nesta Mostra, que preza pela memória e preservação”.
A equipe responsável pelo tráfego de filmes na CineOP explicou ontem que recebeu o material da Cinemateca do MAM identificando apenas quatro partes de quatro, ou seja, estava identificado como completo, e só na hora da exibição percebeu-se a ausência do rolo final.
A interrupção foi como um balde de água fria, uma vez que “O Bravo Guerreiro” a cada minuto que corria só fazia encantar cada vez com seus diálogos afiados e precisos sobre os meandros da política. Conta a história do jovem deputado de oposição Miguel Honório (Paulo César Pereio), que muda para o partido de situação acreditando que lá dentro poderá conseguir atuar melhor pela causa pública.
Uma série de deceções em funções de concessões exigidas o coloca em condição delicada entre os dois partidos. Com elenco competentíssimo, com destaques para Paulo Gracindo, Ítalo Rossi e o excelente Mário Lago, “O Bravo Guerreiro” está no mais alto degrau do cinema nacional, que ali na segunda metade dos anos 1960, junto a “O Desafio” (1965), de Saraceni, e “Terra em Transe” (1967), de Glauber, formavam a tríade mais politicamente incisiva e audaciosa da segunda fase do Cinema Novo.
Na sequência, no mesmo Cine Vila Rica, tiveram lançamento nacional dois longas-metragens intrisicamente ligados ao processo de restauração de filmes. Em “A Mulher de Longe” (2012), o diretor Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, no ensejo do centenário de nascimento do escritor mineiro Lúcio Cardoso (1912-1914), recriou com imagens e narração do ator Ângelo Antônio o universo que circundava a produção do filme homônimo e inacabado de Cardoso, datado de 1949.
Bigode, junto a Cinemateca Brasileira, recuperou os copiões do original “A Mulher de Longe” e incluiu trechos de obras, entre outras, como “O Porto das Caixas” (1962) e “O Viajante” (1998) – ambos adaptados por Saraceni de romances do escritor mineiro. O resultado é um filme frouxo que lembra a estrutura do que Sérgio Machado fez com “Onde a Terra Acaba” (2001) – mas sem a fluidez deste – para falar da obra inacabada de Mário Peixoto.
Já em “Dino Cazzola: Filmografia de Brasília”, de Andréa Prates e Cleisson Vidal, os diretores visitaram cerca de 3.200 rolos de filmes (300 horas de material) feito pelo cinegrafista Cazzola ao longo de 30 anos a partir da construção da Capital Federal. “Filmografia de Brasília” resulta numa curiosíssima coletânia de imagens do arquivo pessoal desse homem que sabia exatamente o potencial de riqueza contida nas imagens oficiais que guiaram sua vida.
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