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Festivais

7o. CineOP (2012) – dia 4

Formação, educação e descentralização

Por Luiz Joaquim | 26.06.2012 (terça-feira)

OURO PRETO (MG) – Além da exibição de clássicos do cinema brasileiro, contextualizando-os no conjunto da obra de seus realizadores, um dos maiores legados do CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto – que encerrou ontem sua 7ª edição – são as definições que resultam do encontro da Associação Brasileira de Preservação de Arquivos e a luz que os vários seminários da área jogam sobre o atual estado da categoria no País.

A pesquisadora Laura Bezerra, da Universidade Federal da Bahia, chegou a comentar, por exemplo, que trabalhos para que o Plano Nacional de Preservação avance só acontecem dentro do âmbito do CineOP.

Na tarde de domingo, na mesa ‘Formação de Técnicos de Preservação Audiovisual no Brasil’, o diretor da RTV Unicamp, Eduardo Paiva, comentou que a prática da preservação passa por uma alta discussão tecnológica. “A problemática do gerenciamento tecnológico é grave. É preciso manter equipamentos de reprodução de formatos obsoletos e nossos cursos precisam ter uma política nacional para que se possa trabalhar em cima de padrões estabelecidos”, disse.

Fernanda Coelho, técnica da Cinemateca Brasileira, lembrou que atividades de conservação são ditadas por referências estrangeiras. “Precisamos fazer pesquisas ‘tropicais’ de preservação. Mas essa pesquisa nunca existirá se nossas instituições não começarem a se comunicar com as universidades e criar novos cursos”, explicou.

Uma mesa bastante procurada aconteceu também no domingo, “O Cinema Brasileiro e a Educação”, para debater a Lei Cristovam Buarque, que torna obrigatório a exibição de filmes brasileiros em escolas públicas e privadas.

Um dos integrados deste debate, o professor da Universidade Federal Fluminense, Cezar Migliorin, comentou sobre o que acredita ser o norte para a formatação de uma legislação assim: “A crença na escola como espaço de questionamento, mudança, onde estética e política podem coexistir com todas as suas consequências. E a crença no jovem como alguém capaz de reagir e construir a partir dessas provocações”.

Na manhã de ontem, o seminário “Novos Espaços de Preservação Audiovisual” contou com representantes de Salvador, Porto Alegre e Recife para falar da crescente necessidade de demandar tratamento técnico regionais para acervos locais. Do Recife, a Fundação Joaquim Nabuco anunciou o embrião de um projeto que deverá localizar, salvaguardar e restaurar, junto a Cinemateca Brasileira, filmes nordestinos das décadas mais recentes.

Plínio Marcos pela ótica dos Farias

Dando continuidade a exibição de obras dos homenageados desta 7º Cine-OP, o belo Cine Vila Rica viu passar, domingo, “Barra Pesada” (em digital). O filme de 1977, dirigido por Reginaldo Faria, foi adaptado da obra de Plínio Marcos e acompanha os passos de Queró (Stepan Nercessian), um delinquente que cada vez mas se embrenha pela vida do crime, junto a prostitutas, cafetões, traficantes e policiais corruptos.

A adaptação para o cinema, por Reginaldo Faria, é muito mais livre daquela que viria a ser feito por Carlos Cortez em 2006 – com o nome de “Querô”, e com o ator iniciante Maxwell Nascimento no papel principal. Apesar da obra original se passar em Santos, no filme carioca Queró circula pela Lapa e Copacabana. Pouco se sabe de sua mãe e ele não tem a possibilidade de redenção pela religião como no filme mais recente.

A beleza no filme de Reginaldo está mesmo nas locações e nos enquadramentos. Há também uma competência na montagem aliada ao talento dos Farias em produzir sequências de perseguição policial como ninguém no cinema brasileiro dos anos 1970. O filme de Cortez, além de ser mais fiel ao livro, preza mais pela psicologia do protagonista.

Não é à toa que “Querô” levou no Festival de Brasília o prêmio de melhor ator para Nascimento. Ali, num equilíbrio delicado, Cortez e Nascimento conseguiram dar uma verniz digno de humanidade ao personagem que, normalmente é visto apenas pelo seu aspecto marginal, como acontece em “Barra Pesada”.

O 7º CineOP deixou aquela que é considerada a obra-prima dos Farias para fechar , ontem, a mostra de homenagem. O filme “Assalto ao Trem Pagador” (1962), com Roberto na direção e Reginaldo estrelando, foi baseado em fatos, quando o trem de pagamento da Central do Brasil (RJ) foi assaltado em 1960.

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