Branca de Neve e o Caçador
Branca de Neve emancipada
Por Luiz Joaquim | 01.06.2012 (sexta-feira)
Se alguém ainda não entendeu que uma obra é um produto intrísicamente ligado à época em que foi criada, então, para dissipar as dúvidas, veja “Branca de Neve e O Caçador” (Snow Whtie and The Huntsman, EUA, 2012), filme de Rupert Sanders, estrelado por Kristen Stewart, que estreia hoje.
Longe da idéia registrada pelos Irmãos Grimm no início do século 19, e ainda mais longe da animação eternizada por Walt Disney nos anos 1930, a Branca de Neve desta segunda década do secúlo 21 é, ainda doce e bela, mas, antes de tudo, é uma mulher destemida. Uma guerreira combatente que empunha armas e lidera soldados. É uma mulher que não espera pelo seu príncipe salvador, na verdade ela chega a salvá-lo do dragão, ou melhor, neste filme o salva de um monstro de madeira.
Liberdades contextuais à parte, “Branca de Neve e O Caçador” tem como mérito amarrar todas estas ‘atualizações’ sociais com uma certa sutileza (mas nem sempre), ao mesmo tempo em que não esquece das raízes própria da história como a conhecemos. Está lá a história da sua mãe (Liberty Ross) que machucou o dedo num espinho e ao sangue cair na neve criou o nome de sua filha. Ali está a rainha má Ravenna (Charlize Theron), que virou madrasta da menina Branca de Neve, tiranizando seu reino.
Ali está a floresta negra, que envolve e assusta a mocinha em fuga da tirânica rainha. E também o caçador (Chris Hemsworth, o “Thor”, que ao invés de um martelo, aqui carrega sempre um machado). A reviravolta na história tradicional começa por aqui. Ao invés de entregá-la a rainha, o caçador William percebe que a moça merece mesmo é proteção e ajuda para seguir em sua fuga. Uma fuga que, no caminho, esbarra com os sete anões. Na verdade, aqui são oito, o que já indica que antes do fim do filme algum deles vai sumir.
A jornada da Branca de Neve moderna, na pela da insossa Kristen Stweart, fazendo exatamente as mesmas expressões limitadas que faz na série “Crepúsculo”, serve no final das contas como construção para sua emancipação e para modelar a guerreira que irá conduzir um exército a salvar seu reino.
É provável que os puristas não cheguem a se sentir enganados aqui. Isto por que aspéctos técnicos no filme ajudam a garantir uma atmosfera ora de um conto de fadas, ora de um ambiente medieval (apesar dos dentes perfeitos dos personagens). Um destes aspéctos é a fotografia de Greig Fraser (de “Brilho de Uma Paixão”) que faz arregalar os olhos do espectador pela sua composição, às vezes, etérea.
Outra está no figurino (de Colleen Atwood, oscarizada por “Memórias de Uma Gueixa”), particularmente aquela trabalhada para a rainha má. É uma trabalho digna de indicação ao Oscar. A propósito, uma das melhores coisas em “Branca de Neve e O Caçador” está em Theron como Ravenna. Está na cara que ela se diverte fazendo malvadezas e sua presença na tela é absolutamente magnética, num equilíbrio perfeito entre sedução pela beleza e medo pelo crueldade. Não é só divertido, é excitante.
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