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Críticas

E aí, Comeu?

Machões de calças curtas

Por Luiz Joaquim | 22.06.2012 (sexta-feira)

O mau de um gênero que se prolifera no cinema brasileiro com vista específica nos lucro$ do mercado começou ainda no tempo das vacas magras da produção nacional. Era o início de 1998 quando foi lançado o abobalhado “Como Ser Solteiro”, dirigido por Rosane Svartman. Nele, Heitor Martinez era um garotão orientado a mastigar e cuspir a maior quantidade de mulheres que conseguisse seduzir ali nas areias da Zona Sul carioca. Hoje chega aos cinemas a “evolução” disso, e vem com uma pergunta “gastronômica” no título: “E aí, Comeu?” (Bra., 2012), de Felipe Joffily.

Não por acaso, o título original do projeto de Svartman era “Como ser Solteiro no Rio de Janeiro”, o que era mais condizento com o pesado sotaque ipanemense, idiomático e social, ali presente. Mas a lógica para vendê-lo em outras praças encolheu o título para uma frase mais universal. O que dizer, então, de “E aí, Comeu?”

Considerando o regente espírito cafajeste no filme dirigido por Joffily, a escolha do título é coerente. A obra é, na verdade, a adaptação de uma peça de Marcelo Rubens Paiva – que já serviu como fonte bem mais interessantes para o cinema. Vide “Feliz Ano Velho” e “Malu de Bicicleta”. “E aí, Comeu?” pode ser traduzido como aquela conversa de bar, em que ninguém mede palavras para falar sobre sacanagem. O problema é que aqui estamos falando de cinema. Mas não só isso. O ponto de vista é masculino, ou melhor, adolescente. Não são ‘questões adolescentes’, mas são tratadas de maneira adolescente.

Mesmo que todos os três protagonistas – os amigos inseparáveis da cerveja no boteco, Fernando (Bruno Mazzeo), Afonsinho (Emílio Orciollo Netto) e Honório (Marcos Palmeira) – estejam entre os 30 e 40 anos de idade, todos eles vivem em função do pênis. Honório é o jornalista casado (com Dira Paes de esposa), pai de três filhas pequenas, e se masturba diariamente. Honório é o playboy de 35 anos cujo a única coisa que quase construíu é um livro inacabado e medíocre. Seu orgulho estar em poder ir ao prostíbulo que quiser, independente do preço, e também é apaixonado por uma prostituta (Juliana Schalch) que quer transformar, pelo dinheiro, em uma esposa.

O personagem que tenta oferecer um pouco de oxigênio humano para tanta testosterona é o de Mazzeo. Seu ‘Honório’ ainda sofre por ter sido deixado pela ex- (Taina Müller), e enquanto passa por essa fase, sofre a tentação de uma bela adolescente de 17 anos (Laura Neiva) que quer perder a virgindade com ele. Ele a deseja, não há dúvida, mas a rejeita. Sua relutância em ir para a cama com a garota, não tem nada a ver com a dor de cotovela pela ex-, e só escancara a falsa imoralidade de “E aí Comeu?”. O filme não é imoral, como possa parecer pelas sacanagens vomitadas na mesa de bar. Ele é, na verdade, largamente moralista. Vende ao extremo e expõe ao ridículo seus machos como impiedosos caçadores de fêmeas, mas os apresenta como menininhos perdidos.

Este mote renderia até um belo filme, podendo ser um mérito, se houvesse aqui uma obra interessada em algo mais além de fazer rir com piada pautada pelo sexo e a “superioridade” e independência masculina. Mas em “E aí Comeu?” é um desmérito. Um equívoco que, na verdade, pode virar um sucesso de bilheteria no Brasil, onde o espectador quer se reconher pela “ixxpertêza” – para ficar no idioma do filme.

“E aí, Comeu?” deve cair no agrado de alguns marmanjos, solteiros convictos, e outros levarão, desavisados, suas namoradas também. Já as solteiras que forem achando que podem encontrar respostas sobre como funciona a cabeça de homem nos dias de hoje é bom pensar duas vezes antes de pagar o ingresso. A lição será apenas de como empregar mau o seu dinheiro.

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