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Entrevistas

Entrevista: Lucy Barreto (22o. Ceará 2012)

Uma mulher, dez filmes

Por Luiz Joaquim | 11.06.2012 (segunda-feira)

Homenageada no 22o Cine Ceará: Festival Ibero-amerinano de Cinema, que encerrou sexta-feira em Fortaleza, a produtora Lucy Barreto concedeu entrevista à imprensa na qual pinçou detalhes sobre sua carreira ao lado do marido Luiz Carlos Barreto, casada desde 1954, com quem produziu e co-produziu mais de 70 filmes.

Enquanto o marido Barretão, presente na entrevista, é conhecido pelas opiniões firmes e às vezes polêmicas, a mãe de Bruno, Fábio e Paula Barreto mostrava-se tranqüila e cuidadosa nas opiniões que soltava fosse a respeito do passado, presente ou futuro do cinema nacional.

Do presente, Lucy não economizou na fala sobre o desdobramentos de dez projetos com os quais produtora L.C. Barreto está envolvida atualmente. Produtora, alias, responsável por clássicos absolutos do cinema brasileiro, alguns exibidos semana passada no Ceará, como “Bye, Bye, Brasil”, de Cacá Diegues.

O mais concreto novo trabalho, com início de filmagens no próximo dia 15, é a adaptação ao cinema de “Flores Raras e Banalíssimas”, livro de Carmen Oliveira sobre o relacionamento amoroso entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares que, esta última, na tela será vivida por Glória Pires.

“Li o livro em uma noite e comprei os direitos do livro no Natal de 1995. Ofereci, na época, a adaptação para o Bruno Barreto, para o Hector Babenco, para o Fábio mas nenhum deles dizia ver que naquela história existia um filme. Mas o escritor John Updike me ensinou algo sobre o tempo cinematográfico. Que, à medida em que o tempo passa, a idéia sobre aquilo que pode vir a ser um filme amadurece na cabeça das pessoas”, revelou.

Lucy lamenta ainda dificuldade em receber apoio para a produção orçada em R$ 13 milhões em função do histórico homossexual da trama, que terá direção de Bruno Barreto. “Este não é um filme sobre o relacionamento entre duas mulheres, mas entre dois seres-humanos”, contextualiza a produtora. Com locações em Londres e em Nova Iorque, Lucy diz que precisava de cidades ícones no filme para representar a Piazza del Popolo, na Itália. “É lá onde acontece o desfecho do relacionamento entre elas duas”, explica.

Para quem acha que “Flores Raras…” já é um projeto suficientemente grande para qualquer produtora, se surpreende com os outros noves projetos da L. C. Barreto. O outro trabalho mais próximo de se realizar é “João”, uma dramatização em cima da história real de superação do pianista João Carlos Martins, que perdeu os movimentos da mão.

Depois vem “Musica”, projeto com Francis Hime, que precisa ficar pronto para a Copa de Mundo no Brasil. Em processo de finalização de roteiro está “Menino do Rio 3” (titulo provisório), que irá atualizar o clássico dirigido em 1981 por Antônio Calmon, e que ganhou a sequência “Garota Dourada” três anos depois.

“O novo filme vai ser uma espécie de ‘Menina do Rio’ também, pois tem uma garota americana cuja mãe vive no Rio. A jovem vem morar no Brasil e se enamora por um garoto carioca”, adianta Lucy.

Ainda em planejamento está “Bandidos e Mocinhos”, baseado num livro de Nelson Motta e adaptado por Daniel Tendler; “Amor sem Fronteiras”, co-produção com a Argentina; e “Libreto”, com participação da historiadora Silvana Gontijo.

Dois projetos estão mais ligados ao Barretão. Um deles é “Ópera do Futebol”, sobre uma família numa favela carioca, cujo pai foi um famoso jogador de futebol, mas hoje vive numa cadeira de rodas. Na família, um dos filhos segue a carreira do pai, enquanto o outro promove algumas contravenções perigosas para sobreviver. “Como qualquer ópera, o filme vai constar do bem e do mal e de muito amor”, diz Lucy.

E talvez o mais ambicioso projeto seja mesmo “A Era Amazônica”, filme com o qual Barretão quer atrelar um centro de animação no Brasil. “Conversamos com Carlos Saldanha [do filme ‘Rio’], que está só esperando o roteiro que, por sua vez, esta sendo trabalhado por Matthew Chapman. Ele é casado com a atriz Denise Dumont e é bisneto de naturalista Charles Darwin”.

A relação com o naturalista é importante ser destacada uma vez que “A Era Amazônica” quer resgatar uma história pouco conhecida, a de que a floresta amazônica não é natural, mas foi plantada por ocidentais, bem antes da colonização espanhola. “Queremos trazer de volta ao Brasil cerca de 200 brasileiros experts em animação que hoje são os melhores profissionais no exterior”, vislumbra Barretão, do alto de crédito que carrega como um dos mais poderosos produtores do Brasil.

Novo tratamento dá esperança a Fábio Barreto

Como não podia deixar de ser, além de falar de seu trabalho Lucy Barreto precisou responder às perguntas da imprensa sobre o atual estado de saúde de seu filho Fábio Barreto, que sofreu um acidente de carro em 2009, ficando semiconsciente até então.

“Costumo dizer que o ele está chegando para nós. Fui a Nova Iorque acompanhar uma temporada de operas há pouco tempo, mas também para encontrar dois neurologistas especializados em estado de mínima consciência, que é o estado do Fábio. Em Boston, descobrimos que o 1o. assistente de um desses médicos é brasileiro e estava vindo ao Brasil em uma semana”, recordou com satisfação da coincidência.

Quanto esteve no Rio de Janeiro, o medico agendou dois novos exames para, a partir dos resultados, preparar uma novo tratamento para o cineasta. “É uma area da ciência na qual há muito a descobrir, e estamos esperançosos, eu e minha família”, concluiu Lucy.

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