Entrevista: Marco Nanini (22o. Ceará – 2012)
Nanini: Não me canso de interpretar
Por Luiz Joaquim | 02.06.2012 (sábado)
O 22o. Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema nem havia sido oficialmente aberto na noite de sexta-feira (01/06) no Theatro José de Alencar e a imprensa já tinha um compromisso. Um encontro com o homenageado da noite de abertura, o ator Marco Nanini.
Cerca de duas horas antes do famoso ‘Lineu’ da série global “A Grande Família” subir ao palco do teatro para receber das mãos do produtor Luís Carlos Barreto o troféu Mucuripe, o ator conversou por cerca de 45 minutos com a imprensa nacional no hotel Seara, QG do Cine Ceará.
Logo no início, a pergunta veio em tom provocativo: “O cinema já te deu papeis a sua altura, como o teatro já o fez?”, para ouvirmos o seguinte: “Lá atrás, fiz alguns filmes, depois teve um hiato que foi quebrado com o ‘Carlota Joaquina’. Esse cinema que fiz no início me ajudou a me familiarizar com a linguagem e foi muito importante para eu entender o jeito de cada um dos diretores”.
Nanini também tergiversou sobre a indagação de qual teria sido seu personagem mais marcantes no cinema: “Tenho um carinho por todos. O que gosto é de interpretar. Interpretando eu represento o espectador. Não dá pra esquecer de ‘Irma Vap’, com o qual passei 11 anos no teatro e depois foi ao cinema, nem do D. João, de ‘Carlota Joaquina’. Lembro que aquele jeito dele gerou polêmica na época. E com 12 anos em ‘A Grande Família’ não dá pra não pensar no Lineu. Ele é o próprio espectador brasileiro na tela”.
E que cinema brasileiro contemporâneo interessa ao Nanini: “Eu sou muito negligente. É difícil, pra mim, ir ao cinema. Sei que há talentos emergentes e sei da dificuldade de se fazer cinema”. Também foi lembrada a parceira com Guel Arraes, com quem o ator trabalhou em quatro filmes (entre eles ‘Romance’, O Auto da Compadecida’, ‘O Bem Amado’). “O Guel foi muito importante lá no início. Eu tinha muito medo da câmera. Ele colocava quatro câmeras. Para onde eu olhasse, tinha uma câmera, e aí acabei me acostumando com elas e perdi o medo”.
Nanini também comentou sua participação em ‘Apolônio Brasil’, do amigo Hugo Carvana, e em ‘A Suprema Felicidade’, de Arnaldo Jabor. Comentou com carinho: “Esse povo de cinema é doido. Mas é por isso que seus trabalhos são interessantes”.
Declarando que nunca pensa em dirigir cinema, Nanini revela que se pudesse, gostaria de ser dirigido por Alfred Hitchcock. E que hoje não está envolvido com nenhum novo projeto cinematográfico, pois corre na preparação de duas peças.
No auditório, alguém lembrou ao Nanini da fala da Marieta Severo, sobre às vezes se cansar de atuar, para depois ouvir a pergunta se ele está preparado para o fim de ‘A Grande Família’. “Na verdade estou preparado para o fim desde seu início. Não me canso de atuar. Adoro ‘fingir com verdade’. Atuar sempre te deixa à beira do abismo. Gosto disso”.
E sobre a amizade e parcerias com o Ney Latorraca? Que é expansivo e debochado, ao contrário de Nanini calmo e discreto. Como dá certo? “Eu acho”, respondeu, “que é exatamente por isso. É o tempero bom da mistura entre o anárquico e o rigoroso. Dá um equilíbrio”.
A entrevista coletiva encerrou com um repórter remetendo a entrevista a uma declaração de Nanini dada a Revista Bravo, sobre homossexualidade. “O que o levou a dar aquela declaração?”, foi a pergunta.
“O repórter não forçou nada. Foi natural. E também acho que hoje existe uma homofobia crescente e é bem perigoso. Achei que precisava falar. Não falava antes porque, afinal a que interessa saber da vida de um senhor de 64 anos? O que interessa é que você não pode bater numa criatura . Não se pode discriminar por ela ser pobre, rica, burra ou inteligente. Simplesmentes não pode discriminar”. E encerrou sob os aplausos da imprensa, para logo depois, no Teatro, receber os aplausos do público do 22o Cine Ceará.
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