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Críticas

Febre do Rato

Declaração de amor cinematográfica

Por Luiz Joaquim | 22.06.2012 (sexta-feira)

E o Recife finalmente vai ver “Febre do Rato” (Bra., 2011), o terceiro e já vitorioso longa-metragem de Cláudio Assis que agora entra em cartaz no multiplex UCI/Ribeiro do Shopping Recife e no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Depois de sair, ano passado, com sete ‘Meninas de Ouro’, troféu do Festival de Paulínia; depois de sair triplamente premiado no 22° Cine Ceará, há duas semanas, o longa-metragem vai encarar agora um público mais complicado de ser compreendido. Estreando inicialmente em três praças (Rio de Janeiro e São Paulo, além do Recife), “Febre…” terá de encantar o espectador pagante, um a um, para que este “venda” o delírio de amor e liberdade criado aqui por Assis para um outro espectador ir ao cine consumi-lo.

Esse é o processo básico que faz um filme funcionar no mercado. E “Febre do Rato” tem elementos suficientes para isso – apesar de, repetimos, enterdermos o espectador como um ser incompreensível. O que vale é que Cláudio Assis cumpriu fielmente nesta obra com aquilo que ele vem construindo ao longo de sua carreira. Como disse Matheus Nachtergaele (que no filme vive um coveiro casado com um travesti, Tânia Moreno) durante entrevista no Ceará junto a Cláudio e Maria Glady (uma das amigas/amante do protagonista Zizo em “Febre…”), o filme é o resultado de uma evolução artística e emocional de todos que o construíram. “Temos uma raiva bonita e nos reconhecemos na obra de Cláudio. Minhas tintas funcionam na tela dele, e eu gosto de reconher as cores que ele coloca na tela”, sintetizou o ator.

Para Cláudio, seu trabalho é o resultado de um pensamento que vem e precisa ser posto para fora. “Nem é questão de amadurecimento. O que persigo com os meus filmes é o caráter e o respeito. É isso o que quero que jovens realizadores vejam neles, e não uma continuidade da novela das oito. Queria ter várias vidas para ajudar esses jovens cineastas”. Já para Maria
Gladys, “‘Febre do Rato’ é um filme libertário em tempos moralista e careta”, no qual Matheus completa: “Tempos careta e capitalista. Duas doenças, uma que alimenta a outra. A gente até poderia ser mais louco, mas esse muito pouco já abala a vista das pessoas”, lamentava.

Esse “pouco”, na verdade, é grandioso, considerando-se a bela fotografia P&B de Walter Carvalho – parceiro também em “Amarelo Manga (2003) e “Baixio das Bestas” (2007) – e o roteiro construído por Cláudio e Hiltinho Lacerda, com seus poemas dilacerantes – além, claro, da entrega absoluta e, por que não, assutadora dos atores, com destaque para Irandhir Santos.

O seu personagem, Zizo é um conjunto de fúria, tesão e espírito libertário. Vive a transar com mulheres mais velhas (Gladys e Conceição Camarotti), e a divulgar sua poesia bradando por liberdade. Até que conhece Eneida (Nanda Costa), uma menina que não cede aos seus encantos e, assim, tira o seu equilíbrio. Para além das questões práticas do enredo, “Febre…” é também uma declaração amorosa de um Recife cuja beleza está na “feiúra”, ou melhor na crueza de um universo que só alguns recifenses conhecem de fato, e que agora ganha uma perspectiva universal pela audácia da poesia e do cinema de Cláudio Assis.

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