O cinema morreu?
Câmera clara
Por Luiz Joaquim | 09.06.2012 (sábado)
Começo a coluna instigado por uma expressão que li de um colega semana passada. “O cinema morreu”, afirmou ele. Vez por outra alguém ligado a área – e só ligado a área – solta tal assertiva. Lembro que em 2007 o diretor britânico Peter Greenaway veio a São Paulo participar da 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC Videobrasil e em uma entrevista polêmica disparou: “O cinema está morto”. O argumento de Greenaway era diferente daquele do nosso colega, mas o fundamento era o mesmo. “O que chega aos cinemas é pobre”. Sim, pode ser, mas também já foi antes. O problema em anunciar a morte do cinema é exatamente à limitação que qualquer ser humano – mesmo o curador do mais importante festival de cinema do mundo – possui. Não há como abarcar o cinema em sua totalidade. Cinema, essa coisa cada vez mais antiga, está além da capacidade de sintetizar que qualquer crítico, pesquisador, cinéfilo possa ter. Não é por nada que acadêmicos se cercam de fronteiras para estudar o cinema. Recortes precisam ser determinados para suas teses caso contrário o cientista não sairá do lugar, ou ficará preso num labirinto de possibilidades. Nosso colega matou o cinema comparando a programação dos filmes em cartaz no Recife de hoje com a de 30 anos atrás. Não seria de espantar que em 1982, alguém com a idade atual de nosso amigo tenha feito o mesmo resmungo trocando apenas a data, lembrando talvez como eram bons os filmes que viu nos cinemas locais nos anos 1960 – provavelmente a década mais moderna (do ponto de vista das possibilidades da linguagem) na história do cinema. Para esta afirmação (morreu!), a partir dos filmes em cartaz no Recife, cabe a pergunta: todo o cinema que é feito no mundo cabe no circuito exibidor do Recife? Não. Nem hoje, nem há 30 anos, e provavelmente o não é porque existe uma lógica específica do mercado de difusão de filmes que fala um idioma diferente daquele que o bom cinema articula. Mais uma vez a “morte do cinema” mostra-se nada mais que uma questão de perspectiva. E essa, todo mundo tem, mas nenhuma é absoluta.
Direitos Humanos 7
Estão abertas, até 27 de julho, a convocatória para a 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. O evento celebra o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas. A Mostra dedica-se a filmes sul-americanos que discutem temas atuais de Direitos Humanos no nosso continente. A programação será apresentada em 26 capitais (Recife incluso). Está prevista para acontecer nos meses de outubro a dezembro. Não há restrição quanto à duração, gênero ou suporte de captação/finalização. As exibições serão em suporte digital. A ficha de inscrição está disponível no site www.cinedireitoshumanos.org.br – ela deve ser preenchida, assinada e enviada para o e-mail: contato@cinedireitoshumanos.org.br.
Boilesen
Em julho, o CineCabeça: Ação Cineclubista olha, pelo cinema, para o período da ditadura e criou o “Festival Cinema pela Verda¬de”. Com agenda de ação toda segunda-feira, às 19h no Teatro Arraial (rua da Aurora, 457), o programa de hoje conta com o ótimo “Cidadão Boilesen” (2009), de Chaiam Litewski. Sendo um trabalho de investigação fina, que durou mais de dez anos, Litewski mostra aqui como a alta elite participou da ditadura financiando (e participando) de sessões de tortura nos anos 1970. O filme é forte, sedutor e necessário.
Febre x Comeu
“Febre do Rato” (7 cópias) e “E aí… Co¬meu?” (574 cópias) estrearam nos cinemas do Brasil na mesma data, 22 de junho. Desta data até 1º de julho, o primeiro levou 8.129 pessoas aos cinemas. O segundo, 738.789 espectadores. Naquela matemática básica, a média de público por cópia nos primeiros dez dias de exibição foi: “Febre”, 1.161 pessoas. “Comeu”: 1.287 pessoas. Deixo as conclusões sobre o que é ou não é um sucesso por conta do leitor.
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