O Homem que Não Dormia
Estreia no Recife
Por Luiz Joaquim | 01.06.2012 (sexta-feira)
Quando exibido no 44º Festival de Brasília, em setembro do ano passado, “O Homem que Não Dormia” (Brasil, 2011), do baiano Edgar Navarro, foi recebido com certa frieza. Mas ao ser projetado na Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro último, festival que observa o filme sob os mais intrínsicos aspecto artístico, a obra foi ovacionada. Hoje o filme chega ao Recife, em cartaz no Cine São Luiz, e o espectador curioso que for ao palácio na rua da Aurora poderá descobrir uma obra que quase emana cheiro de tão autêntica e fiel à cultura brasileira, ao mesmo tempo em que pede a esse mesmo espectador que mergulhe nas diversas possibilidades que a linguagem do cinema oferece.
Antes de tudo, o que se lê na abertura de “O Homem…”, segundo longa-metragem de Edgar Navarro, é a seguinte frase, em letras gigantes: “Seja cristão ou não, receba no coração”. A expressão é eficaz. Não está ali gratuitamente (nada está, neste filme de Navarro). Ela de fato cumpre a função de antecipar a catarse que o filme quer apresentar, caminhando temática e narrativamente por um percurso que pede atenção de seu público.
É um caminho difícil exatamente pelo seu teor de superação a um sincretismo religioso estabelecido e posterior chegada a um estágio de compreensão da vida onde o que sobra é a compaixão e a concordância; e como bem dissera Navarro em Brasília: “o filme é uma caminhada do inferno ao paraíso”. O diretor do clássico “Superoutro” (1989) destacou também que neste novo filme há uma tentativa de estruturar em uma história as várias inferências que o cineasta vivenciou a partir de 1978 (quando surgiu a idéia de ‘O Homem…’) e mesmo com possíveis vidas passadas, segundo Navarro.
No cerne da estrutura dessa história, Bertrand Duarte (de “Superoutro”) é o padre Lucas, atormentado com suas incertezas num local remoto do interior da Bahia. Ao mesmo tempo, um velho e misterioso peregrino, condenado a vagar sem dormir pela eternidade (Luiz Paulino do Santos) chega à localidade e sua proposta conexão espiritual, numa outra vida, com um assassino (Navarro) mexe com o comportamento da população do vilarejo. Entre eles, o louco Pra frente Brasil (Ramon Vane, melhor coadjuvante em Brasília), uma morena faceira (Mariana Freire), e a esposa (Evelin Buchegger) de um coronel violento (Fernando Neves).
Nesse processo, todos experimentam uma espécie de libertação da mediocridade humana, sendo o mais simbólico de todos a do Pe. Lucas, que ao vivenciar uma revelação divina que o faz desvencilhar-se das dúvidas sobre o amor, ele é, literalmente, levado aos céus. E considerando essa “missão” de Navarro em traduzir tal mistério através do cinema, pode-se dizer que “O Homem que Não Dormia” é o filme de sua vida.
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