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Críticas

Para Roma com Amor

Allen de volta a frente da câmera

Por Luiz Joaquim | 29.06.2012 (sexta-feira)

Um personagem que revisita o passado e conversa consigo mesmo mais jovem (“Noite Neurótico, Noiva Nervosa”, “Interiores”, “Simplesmente Alice”); ou um homem imaturo que deixa a mulher amada para ficar com outra com apelo sexual tão forte quanto suas neuroses (“Celebridades”, “Manhattan”, “Igual a Tudo na Vida”), o incômodo pelo culto à celebridade (“Memórias”), ou a família norte-americana média que se encanta com as diferenças da Europa (“Meia-Noite em Paris”). Todos estes motes somados formam “Para Roma com Amor” (To Rome with Love, EUA/Ita., 2012), o novo filme de Woody Allen que estreia no Brasil.

Sim. Allen é sempre acusado de repetir as próprias fórmulas estruturais para contar uma história. Mas não há nenhum crime nisto se ele as usa bem. O novo trabalho certamente não terá o mesmo impacto que os anteriores rodados em cidades européias. Num deles o impacto surtiu efeito pelas boas piadas com a cultura e a reflexão sobre nostalgia (“Meia-noite em Paris”). O outro pelo teor romântico, cercado por belo elenco e cenários (“Vicky, Cristina, Barcelona”) e um outro pela pauta xadrezista da supremacia da lógica sobre a emoção (“Ponto Final: Match Point”).

Em “Para Roma…”, o personagem que dialoga com o passado é o mesmo que trai a amada. Ele o arquiteto John (Alec Baldwin), um homem maduro e bem sucedido que depois de muitos anos retorna a capital italiana com a família e, numa busca pelo lugar onde morou quando era estudante (Jesse Eisenberg), revê a si próprio e tenta consertar os erros que cometeu quando se apaixonou por uma atriz americana (Ellen Page).

A família americana atrapalhada com a cultura na Europa é a de Hayley (Alison Pill) com seus pais (Judy Davis e Allen). Allen volta a aparecer na frente da câmera, coisa que não fazia desde “Scoop: O Grande Furo”, 2006. Em “Para Roma…” ele interpretar a mesma figura nervosa com comentários sarcásticos na ponta da língua e que gerou tantos fãs.

Aqui, sua filha Hayley se apaixonou pelo italiano Michelangelo (Flavio Parenti), cujo pai tem o dom de cantar bem apenas debaixo do chuveiro. O dom estimula o pai de Hayley, um diretor de ópera aposentado, com sua imaginação para negócios.

A baboseira do culto pela celebridade aparece em Leopoldo (Roberto Benigni). Um cidadão comum, casado, que um dia qualquer, ao sair de casa, é atacado por um bando de paparazzi com perguntas idiotas, e logo depois está na TV, ganha privilégios em restaurantes, é seduzido por atrizes de cinema mas nem sabe (nem nós espectadores sabemos) a razão pela qual ficou famoso. Neste núcleo, Allen parece enviar sua mensagem mais dura, e nem é contra as celebridades instantâneas, que também são vítimas, mas sim contra o sistema que as cria.

Um último núcleo olha para um jovem casal italiano (Alessandro Tiberi e Alessandra Mastronardi, linda) que tem a fidelidade testada por um acidente que os coloca ao lado, ele, de uma prostituta (Penélope Cruz), e ela, de um galã italiano. Sabe-se que o próximo filme de Woody Allen será rodado nos Estados Unidos, e o seguinte pode ser no Rio de Janeiro ou em Buenos Aires.

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