Sombras da Noite
Vampiro perplexo e sedento
Por Luiz Joaquim | 22.06.2012 (sexta-feira)
Sempre que chega aos cines um novo filme de Tim Burton, sua penca de fãs arregala os olhos atentos para o que o diretor de “Edward Mãos de Tesoura” (1990) tem a oferecer, e ainda mais com seu parceiro no elenco, Johnny Depp, a quem ajudou a catapultar a carreira há 22 anos. Mas essa excitação tem arrefecido, uma vez que os últimos três trabalhos que Burton dirigiu – “Alice no País das Maravilhas” (2010), “Sweeny Todd” (2007) e “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) – com a participação de Depp não satisfez aos exigentes fãs.
A exigência existe porque a junção dos nomes Burton e Depp rendeu no mínimo dois clássicos pelos quais eles serão sempre lembrados – “Mãos de Tesoura” e “Ed Wood” (1994). Com o novo “Sombras da Noite” (Dark Shadows, EUA, 2012), que estreia hoje no Brasil, a galeria de personagens e ambientes esquisitos saídos da mente de Burton, organizados pelo roteiro de Seth-Grahame Smith (a partir da telesérie dos anos 1960) e, mais uma vez, embalados pela trilha sonora de Danny Elfman, ganham agora um bom fôlego como não era visto há anos.
Além dos cenários exuberantes, personagens bizarros e diálogos afiados e irônicos – mas sutis -, “Sombras da Noite” resgatam a, digamos, malvadeza à obra de Burton. Depp é aqui um vampiro com cabelinho emo, mas engana-se quem acredita que a maior preocupação deste monstro de Burton é sorver sangue ou ter ciúmes de lobisomens. O vampiro Barnabas Collins (Depp) de Burton é na verdade é um lorde do século 18, e sua libertação em 1972 é o mote dado para o que de melhor o filme tem a apresentar.
Barnabas veio na infância da Inglaterra para os Estados Unidos, onde a família criou a cidade de Collinsport. Já adulto, ele namorou a empregada de seu castelo, Angelique (Eva Green, de “Os Sonhadores), mas a deixa pelo amor de sua vida Josette (a linda, Bella Heathcote). Angelique, na verdade uma bruxa, mata Josette e amaldiçoa Barnabé transformando-o num vampiro e trancando-o num caixão.
200 anos depois, ele escapa e reencontra a família, pequena, no mesmo castelo, agora comandado pela matriarca Elizabeth (Michelle Pfeiffer), mas falida. Ainda no presente, ou melhor, em 1972, Barnabas encontra o espírito reencarnado de Josette em Victoria (Heathcote também), e a mesma bruxa Angelique, agora como dona do maior comercio da cidade, que antes pertencia a família Collins. Inicia-se, então, uma briga pelo resgate da honra da família Collins e o resgate de sua autoriade em Collinsfield.
A mesma confusão do século 18 acontece novamente, mas no ambiente de 1972, povoado pelas ideias de amor livre, da Guerra do Vietnã e do rock’n’roll. É aí que Burton acerta, e Depp, claramente à vontade, criam muito boas piadas. No fundo no fundo, o filme é simplesmente sobre a fúria de uma mulher magoada por não ter o homem que ama. O que está ao redor aqui, é apenas um motivo para o cineasta e sua trupe se divertirem e divertir a nós todos.
Se há um senão aqui, é a extensão da duração de “Sombras…”, pois quando parecem esgotadas suas piadas, o filme decide “resolver” o impasse dos inimigos Barnabas e Angelique de modo muito fácil. O saldo, entretanto, é positivo. Deixando o espectador com um sorriso malvado ao final da sessão.
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