45ª Brasília (2012) – seleção
Invasão pernambucana
Por Luiz Joaquim | 19.07.2012 (quinta-feira)
Um evento que “deseja consolidar as inovações feitas no ano passado, quando o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro recuperou seu prestígio”. Com estas palavras o Secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, tem divulgado as mudanças deste evento que guarda uma história vital do cinema brasileiro ao longo de suas 44 edições. Da 45ª, que acontece entre 17 e 24 de setembro, a organização anunciou ontem pela manhã os filmes selecionados para competição. Dos 30 títulos escolhidos, sete são de Pernambuco. Nem o Rio de Janeiro, nem São Paulo tiveram essa representatividade na seleção. Cada um dos estados do Sudeste aparecem com seis filmes.
Neste ano, os filmes estão divididos em cinco categorias de competição. Na briga entre os longas-metragens de ficção são três filmes de Pernambuco (entre eles “Boa Sorte Meu Amor”, de Daniel Aragão; “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello; e “Era Uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes) contra três do Rio de Janeiro. Entre os seis longas documentários está “Doméstica”, de Gabriel Mascaro. Dos seis curtas-metragens de ficção um é “Canção Para Minha Irmã”, de Pedro Severien. Entre os seis curtas documentários, dois da Símio Filmes constam na lista: “Câmara Escura”, de Marcelo Pedroso, e “A Onda Traz, O Vento Leva”, de Gabriel Mascaro (único realizador concorrendo duplamente). A única disputa que Pernambuco não comparece é a de curtas de animação, que traz títulos de Goias, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.
Assim como Mascaro, Severien também estará em Brasília com dois filmes, mas num deles (“Boa Sorte, Meu Amor”) como produtor. “É uma feliz oportunidade esta de mostra a busca por uma linguagem que faço com meu curta. Nunca competi nesse festival e já estava feliz por ir como produtor. Agora então…”, disse. Já Aragão comenta, da Polônia, onde se prepara para mostrar “Boa Sorte…” dia 9 de agosto no Festival de Locarno (Suíça), que a seleção de Brasilia não lhe agradou no ano passado e “esse ano, voltou a ser muito forte, não por causa do meu filme, mas porque ele não ignorou as boas produções inéditas. Não acredito muito em competição e o que é mais válido é entrar numa seleção com curadoria boa. Mas vai ser divertido competir com Marcelo Gomes, o primeiro diretor com quem eu trabalhei na vida”, recorda.
João Vieira Jr., produtor de “Era Uma Vez Eu, Verônica”, diz que está triplamente feliz. “Talvez alguns estudiosos possam explicar o que acontece nesse momento em nosso cinema. Mas certamente estas são as consolidações de um investimento feito pelo Governo do Estado ao audiovisual, e que por sua vez surgiu do trabalho de toda uma geração como a de Gomes, Caldas, Lírio, Cláudio e outros para abrir essa estrada e ocupar esse espaço”.
De Japaratinga (Alagoas), onde trabalha em novo projeto, Gabriel Mascaro falou com o CinemaEscrito. Mascaro é também outro realizador que no início da carreira viu em Gomes uma referência profissional. “Nunca me animei em participar de Brasília, pois nunca finalizava em 35mm. Fico feliz de saber que o festival está se encontrando e acessando linguagens que quebram preconceitos. Meu filme foi feito com uma handcam, uma câmera de baixa resolução. É um filme mais processual, mais preocupado com o cotidiano do que com a excelência da técnica na imagem”. Gabriel fala de “Doméstica”, pelo qual o realizador colocou pequenas câmeras na mão de adolescentes do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife e Brasília para eles registrarem suas perspectivas sobre as domésticas que trabalham em suas casas.
Pedroso, que esteve na Capital Federal em 2007 como produtor de “Amigos de Risco”, de Daniel Bandeira, concorda com Gabriel e lembra das crises do festival. “Ele vem reformulando a identidade. Ora arrisca no autoral, ora não. É uma incognita. Brasília deveria ter força para continuar sendo uma referência”. Já Marcelo Lordello alegra-se com uma seleção tão boa. “É uma prova que estão apostando num cinema mais livre, que está saindo de uma posição mais dura para conhecer novidades”, diz.
O cineasta, apesar da pouca idade, entre todos é o mais veterano no Festival. Esteve lá em 2008 com o curta “Nº 27” e em 2010 com o longa documental “Vigias”. Em suas palavras, ele resume o espírito que cerca os jovens realizadores locais que vão tomar o festival este ano. “Para mim é um orgulho fazer parte dessa geração tão talentosa”, concluiu.
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FILMES SELECIONADOS
Mostra competitiva de longa-metragem ficção
Comissão de seleção:
Cibele Amaral – diretora, atriz, roteirista e produtora.
José Geraldo Couto – Jornalista, crítico de cinema e tradutor.
Marcio Curi – cineasta e produtor de cinema.
Pedro Butcher – jornalista e crítico de cinema e editor do site Filme B.
Sérgio Borges – cineasta
LONGAS-METRAGENS DE FICÇÃO SELECIONADOS:
1. A memória que me contam, de Lucia Murat, 95min, RJ
2. Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão, 95min, PE
3. Eles voltam, de Marcelo Lordello, 100min, PE
4. Era uma vez eu, Verônica, de Marcelo Gomes, 90min, PE
5. Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro, 80min, RJ
6. Noites de Reis, de Vinicius Reis, 93min, RJ
Mostra competitiva de longa-metragem documentário
Comissão de seleção:
Ana Paula Sousa – jornalista especializada em cultura e crítica de cinema.
André Luiz Oliveira – cineasta e músico.
Guto Pasko – cineasta e roteirista de cinema e TV.
João Jardim – cineasta
Leonardo Sette – cineasta
A comissão de seleção gostaria de registrar que um dos critérios utilizados para a seleção dos seis filmes foi privilegiar o ineditismo.
LONGAS-METRAGENS DE DOCUMENTÁRIO SELECIONADOS:
1. Doméstica, de Gabriel Mascaro, 85min, PE
2. Elena, de Petra Costa, 82min, SP
3. Kátia, de Karla Holanda, 74min, PI
4. Olho nu, de Joel Pizzini, 101min, RJ/MT
5. Otto, de Cao Guimarães, 70min, MG
6. Um filme para Dirceu, de Ana Johann, 80min, PR
Mostra competitiva de curta ficção e Mostra competitiva de curta Animação
Comissão de seleção:
Felipe Joffily – cineasta
Fernando Mourão Gutiérrez – diretor de filmes de animação e professor do IESB
Marcya Reis – jornalista, roteirista e documentarista na TV Câmara.
Rafael Urban – cineasta, roteirista e produtor.
Thomas Larson – chargista e ilustrador e diretor de desenho animado.
CURTAS-METRAGENS DE FICÇÃO SELECIONADOS:
1. A Mão que afaga, de Gabriela Amaral Almeida, 19min, SP
2. Canção para minha irmã, de Pedro Severien, 18min, PE
3. Eu nunca deveria ter voltado, de Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão, 15min, RJ
4. Menino peixe, de Eva Randolph, 17min, RJ
5. Vereda, de Diego Florentino, 20min, PR
6. Vestido de Laerte, de Claudia Priscilla e Pedro Marques, 13min, SP
CURTAS-METRAGENS DE ANIMAÇÃO SELECIONADOS:
1. Destimação, de Ricardo de Podestá, 13min, GO
2. Linear, de Amir Admoni, 6min, SP
3. Mais Valia, de Marco Túlio Ramos Vieira, 4min22, MG
4. O Gigante, de Luís da Matta Almeida, 10min35, SC
5. Phantasma, de Alessandro Corrêa, 10min20, SP
6. Valquíria, de Luiz Henrique Marques, 8min32, MG
Mostra competitiva de curta-metragem documentário
Comissão de seleção:
Beth Formaggini – documentarista, pesquisadora e produtora audiovisual.
Caio Cavechini – jornalista e documentarista.
Ciro Inácio Marcondes – crítico e professor de cinema
CURTAS-METRAGENS DE DOCUMENTÁRIO SELECIONADOS:
1. A cidade, de Liliana Sulzbach, 15min, RS
2. A ditadura da especulação, de Zé furtado, 10min20, DF
3. A guerra dos gibis, de Thiago Brandimarte Mendonça e Rafael Terpins, 19min30, SP
4. A onda traz, o vento leva, de Gabriel Mascaro, 24min47, PE
5. Câmara escura, de Marcelo Pedroso, 25min, PE
6. Empurrando o dia, de Felipe Chimicatti, Pedro Carvalho e Rafael Bottaro, 25min, MG
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