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Críticas

Kaboom

No mundo paralelo da alucinação pansexual

Por Luiz Joaquim | 13.07.2012 (sexta-feira)

O cineasta californiano Gregg Araki fez sua carreira de maneira discreta, parecendo não se preocupar em querer abraçar o mundo com as pernas. Mas acabou “chegando lá” – basicamente – pela qualidade de seus filmes. Seu mais recente filme, “Kaboom” (EUA, 2010), que estreia hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, por exemplo, ganhou as telas da Quinzena dos Realizadores, em Cannes 2010. De maneira irônica, é um de seus mais frágeis trabalhos nos últimos dez anos.

Com um olho (ou os dois) sempre observando o universo gay, Araki transita bem pelo humor e pelo drama. Em 2004, com o forte “Mistérios da Carne”, revelou ao mundo adulto o ator Joseph Gordon-Levitt – de “(500) Dias com Ela” -, até então visto como um adolescente na bobinha telessérie “3rd Rock From the Sun”. No filme, Gordon-Levitt é um jovem prostituto que se cansa do Kansas e muda-se para Nova Iorque, onde o assunto “vender o corpo” ganha um contraste mais carregado.

No filme seguinte, “Smiley Face: Louca de Dar Nó” (2007), Araki confiou no talento de Anna Faris e lhe deu o seu primeiro protagonismo para contar com muito humor a história da atriz que come um biscoito de maconha por engano e fica “chapada” o dia inteiro. Agora, em “Kaboom”, é Araki que parece “chapado” ao contar a história do estudante de cinema Smith (Thomas Dekker).

Prestes a completar 19 anos, Smith diz que não gosta de rotular sua sexualidade. Sua melhor amiga é a sarcástica Stella (Haley Bennett), que começou um relacionamento com Lorelei (Roxane Mesquista), uma ninfomaníaca com poderes paranormais. Entre uma aula e outra, Smith transa com London (Juno Temple), uma garota que não permite intimidades para além do sexo. Mas Smith, na verdade, deseja com todas as forças é o seu colega de quarto, Thor (Chris Zylka). Ele é um surfista adônico, burro como um porta, e hetero convicto.

Se bem que, convicção sobre a própria sexualidade não é bem algo com o que Araki está preocupado aqui. Desde o início, o estabelecido é que todo mundo pode tudo, e esta não é mais uma questão. Dai, a pansexualidade reina.

Com diálogos rápidos e afiados, “Kaboom” é ágil em sequestrar o espectador logo no início, mas em pouco tempo a fragilidade e inconsistência destes jovens movidos exclusivamente por sexo e sarcasmo começa a deixar a trama enfadonha, ou inócua, como eles próprios soam.

Como contrapeso desse vazio, Araki cria uma trama paralela, na qual Smith tem sonhos recorrentes com bandidos mascarados e uma garota ruiva (Nicole LaLiberte). Mas a história é tão, digamos, alucinógena e narrativamente mal conduzida que o único desejo do espectador é que a piada ruim acabe logo.

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