40o. Fest. Gramado (2012) – noite 6
Dores que paralisam
Por Luiz Joaquim | 17.08.2012 (sexta-feira)
GRAMADO (RS) – Até a noite de quarta-feira, o mais complexo longa-metragem em competição nacional, do ponto de vista de proposta cinematográfica, foi exibido aqui no 40o Festival de Cinema de Gramado com o nome de “O Que se Move”, debut do jovem diretor Caetano Gotardo, integrante do coletivo “Filmes do Caixote”. Grupo que, entre outros, inclui Marco Dutra e Juliana Rojas, todos formados em cinema pela Universidade de São Paulo.
Rojas, que montou “O Que se Move”, teve também seu novo curta-metragem “O Duplo” exibido hoje (17/08) por aqui. Já Dutra – que dirigiu em 2011 junto a Rojas o longa “Trabalhar Cansa”, assina ao lado de Gotardo a trilha sonora de “O Que se Move”. Nesse ciranda com alternâncias de funções de um no filme do outro, sempre referendado pela produtora Dezenove Som e Imagens, de Sara Silveira, o grupo do “Caixote” vem se firmando no País como um dos mais audaciosos de sua geração com base em São Paulo.
“O Que se Move” só reforça essa ideia, seja pela originalidade do roteiro, seja pela coragem de experimentar uma dramaturgia dentro de um gênero incomum na cinematografia nacional. Se “Trabalhar Cansa” acenava para o cinema fantástico, “O Que se Move” flerta com o musical. Mas não aquele festivo, com protagonistas pululantes e sorridentes enquanto cantam.
Gotardo usa a canção para tentar expurgar e nos dar uma dimensão da dor de três mães vividas pelas ótimas Cida Moreira (como Maria Júlia), Andrea Marquee (Silvia), e Fernanda Vianna (Ana). Nesse sentido, não serão poucas, de agora por diante, as analogias feitas entre seu filme e o de Lars Von Trier, “Dançando no Escuro” (2000).
Primeiro porque, nas três histórias independentes que Gotardo conta aqui, é o (para quem não é mãe) intraduzível amor materno que as três mulheres sentem pelos seus filhos que o cineasta observa e trata – assim como Von Trier fazia com os sacrifícios de Selma (Bjork). E segundo, pela inserção inesperada de canções melancólicas interpretada por todas elas, tentando dimensionar a dor da perda de um filho.
Mas, ao contrario do diretor dinamarquês, Gotardo, maestralmente, não pega na mão do espectador e o conduz como uma criança boba para onde bem deseja. Indo por uma outra mão, o jovem cineastas dá poucas dicas ao público de para onde ele está indo (e nos levando) até chegar ao ponto da compreensão da tragédia maternal.
A secura, objetividade e organicidade como o assunto é tratado só é quebrado pelo impacto das canções, que nas vozes potentes ou suaves de Cida, Andrea e Fernanda encontram sua plenitude. Não há dúvida que um futuro promissor (ao menos em festivais de cinema, principalmente fora do Brasil) aguarda “O Que se Move”. Vejamos como se comportará no malvado mercado comercial brasileiro.
Antes do longa paulista, a competição latina viu na quarta-feira o cubano “Vinci”, uma leitura particular do cineasta Eduardo Del Llano Rodríguez para uma situação envolvendo Leornado da Vinci (na pele do bom Hector Medina, de “Bilhete Para o Paraíso), ainda jovem e em formação.
Em 61 minutos, numa estética própria de um telefilme, a obra mostra Da Vinci aos 24 anos, quando é jogado num calabouço em Florença e é obrigado a conviver com um ladrão e um assassino. Ali ele aprende mais sobre a vida e os ensina sobre a beleza e importância da arte. Apesar de bem executado, “Vinci” por pouco não torna-se enfadonho pelas limitações do cenário e opções estéticas.
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