40º Gramado – abertura
Gramado em alta temperatura
Por Luiz Joaquim | 10.08.2012 (sexta-feira)
Havia bastante tempo que o Festival de Gramado, que inicia hoje sua histórica 40ª edição, não trazia um programa com títulos tão esperados, ao menos na competição de longas-metragens. E não é apenas pela inclusão do pernambucano “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, que desde janeiro vem fazendo uma bela carreira internacional, tendo sido exibido em quase 20 festivais ao redor do mundo e cujos últimos prêmios foram arrebatados há duas semanas na Polônia e Dinamarca.
É na Serra Gaúcha que o primeiro longa-metragem de ficção de Mendonça exibirá pela primeira vez no Brasil (dia 16), mas também é lá em Gramado que estão para nascer as promessas de tensão na premiere mundial de “O Que Se Move” (dia 15), do jovem paulista Caetano Gotardo; além de “Super Nada” (amanhã), do experiente Rubens Rewald.
Gotardo – debutando na direção de um longa – vem construindo uma carreira sólida no grupo “Filmes do Caixote”, ao lado de Juliana Rojas e Marco Dutra (diretores do premiado “Trabalhar Cansa”, que Gotardo montou). Já Rewald (não confundir com o crítico Rubens Ewald Filho), é um experiente conhecedor de dramaturgia e trabalho há cerca de duas décadas com audiovisual. Sua mais recente conquista no cinema foi pelo prêmio de melhor roteiro no Festival de Brasília 2011 pelo filme “Hoje”, de Tata Amaral, co-escrito com Felipe Sholl e ninguém menos que Jean-Claude Bernardet.
A história de “O Que Se Move” se divide em três núcleos familiares em três diferentes situações, que precisam lidar com mudanças súbitas em suas vidas, envolvendo alguma perda ou um reencontro há muito esperado. Já “Super Nada” acompanha um ator que em início de carreira se esforça para fazer sucesso. Como exemplo, ele segue o seu ídolo, um veterano comediante de TV.
A disputa pelo troféu Kikito ainda apresenta os curiosos “Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida”, do carioca Matheus Souza – que em 2009, com seus precoces 20 anos de idade lançou o longa-metragem “Apenas o Fim”. O novo filme também fala de seu universo juvenil, com uma estudante de medicina que começa a ingressar em questões do mundo adulto. O público gaúcho finalmente verá, do Rio Grande do Sul, “Colegas”, de Marcelo Galvão, que faz um road-movie pelo olhar de três jovens com Síndrome de Down. Inspirados no filme “Thelma & Louise”, eles fogem no carro de um jardineiro do instituto onde vivem. De inédito também exibe “Insônia” (SP), de Beto Souza; e já lançado no País passam “Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!” (SP), de Ninho Moraes e Francisco César Filho; e “Jorge Mautner: O Filho do Holocausto” (RJ), de Pedro Bial e Heitor D Alincourt.
Fernando Meirelles mostra “360”
O título que abre hoje o festival é “360”, de Fernando Meirelles, e também chega com boa carga de expectativa – um pouco já fria, é verdade, por conta das não muito boas notícias estrangeiras, onde o filme já foi visto e mal recebido (no Brasil ele tem pré-estreia amanhã, e estreia dia 17).
A obra tenta sintetizar o espírito dos relacionamentos amorosos no século 21 e os conflitos entre a razão e os desejos. Com início em Viena, o filme passa por cidades como Paris, Londres, Bratislava, Denver e Phoenix. O enredo segue a decisão tomada por um homem para se manter leal à sua esposa e a partir daí acontece uma série de episódios que rodam o globo com algumas consequências, retornando 360 graus ao lugar da sua decisão inicial. O elenco traz estrelas hollywoodianas como Jude Law, Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Ben Foster, e os brasileiros Juliano Cazarré e Maria Flor.
Na competição de curtas-metragens – pelo qual este crítico integra o corpo do júri oficial – estará o pernambucano/paulista “Di Melo: O Imorrível”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro. Gramado ainda dá um presente aos cinéfilos por lá. Vai exibir o ótimo “Toda Nudez Será Castigada”, primeira ficção de Arnaldo Jabor a partir da obra de Nelson Rodrigues. A produção foi eleita o melhor filme na primeira edição do festival, em 1973. E entre as homenageadas estará Betty Faria, que receberá o Troféu Oscarito pelo conjunto da obra. Serão lembrados também Juan José Campanella, Jabor e Eva Wilma. Como novidade, Gramado implantou uma generosa premiação em dinheiro: são R$ 350 mil distribuídos para dez categorias, sendo R$ 120 mil para o melhor filme nacional e R$ 80 mil para o melhor longa estrangeiro.
Na briga latino-americana em Gramado, concorrem os longas-metragens “Vinci”, de Eduardo del Llano Rodriguez (Cuba); “Artigas, La Redota”, do fotógrafo radicado no Brasil, César Charlone (Uruguai); “Leontina”, de Boris Peters (Chile); “Diez Veces Venceremos”, de Cristian Jure (Argentina); e “Calafate-Zoológicos Humanos”, de Hans Mulchi Bremer (Chile). Acompanhe, a partir de segunda-feira, a cobertura do 40º Festival de Cinema de Gramado pela Folha de Pernambuco.
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