A Guerra dos Botões (2012)
Guerreando pela paz
Por Luiz Joaquim | 10.08.2012 (sexta-feira)
O livro “A Guerra dos Botões”, escrito em 1913 por Louis Pergaud, é um clássico na França. Atravessou gerações por lá encantando os leitores mirins com as aventuras dos moleques Camus, Tigibus e outros, além de Lebrac, o líder do grupo Longeverne vivendo no interior, ao sul daquele país. Eles estão sempre em guerra com a gangue rival dos Veltrans, liderada por Aztec. A obra já ganhou três versões para o cinema, em 1936 e 1961 (este um sucesso estrondoso), sendo a terceira nos Estados Unidos em 1994. Hoje, no Cine Rosa e Silva, chega a quarta versão (La Guerre des Boutons, Fra., 2011), dirigida por Yann Samuell.
Samuell contou com o principal elemento para que o filme funcionasse: um time de atores mirins excelente e entrosado. Contou ainda com belas locações e uma produção de criação (direção de arte e figurino) de encher os olhos. O ritmo na montagem também atualizou a velocidade com a qual as histórias audiovisuais são mostradas ao espectador contemporâneo, particularmente aos pequenos.
Acontece, porém, que “A Guerra dos Botões” – ao menos pelas opções desta versão de Samuell – parece ter envelhecido. Todas as deficiências do filme partem desse princípio. E mais. Para um mercado estrangeiro, o filme soa deslocado tanto para o espectador infantil quanto para o adulto. Hoje ele não suscita simpatia – por que não dizer, compreensão – a razão pela qual brincam de guerrear os meninos de Longeverne e Veltrans.
O filme abre uma brecha para fazermos relações entre as guerras dos moleques e suas especificidades – o sacrifício do soldado, a estratégia do ataque, o traidor – com a guerra dos adultos. Não é à toa que, a certa altura, os meninos veem numa igreja a projeção de um cinejornal das forças armadas francesas lutando na Argélia, que clamava por liberdade.
Pelo que Samuell oferece, “A Guerra dos Botões” é uma história que faz muito mais sentido aos franceses – cuja ideia de guerrear invadindo outros países está bem mais introjetada em sua cultura que na brasileira, por exemplo. Ainda assim, mesmo hoje, para os franceses, o conceito de brincadeira a partir da ideia de guerra soa estranho.
Daí a falta de empatia deste anacrônico “A Guerra do Botões”, mesmo que Pergaud tenha escrito o livro ressaltando para as crianças a lealdade, a união e a perseverança, com o objetivo de inspirar a paz. A fórmula foi boa em 1913, com a Europa prestes a iniciar a Primeira Guerra Mundial, e em 1962, com a França enrolada com Argélia pelo seu petróleo, mas em 2011 soa esquisita, ao menos pelo que Yann Samuell oferece aqui.
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