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Reportagens

Jorge Amado, 100 anos

Jorge Para Sempre Amado

Por Luiz Joaquim | 06.08.2012 (segunda-feira)

Sendo Jorge Amado o escritor brasileiro que mais teve obras adaptadas para o cinema (além da televisão), este conjunto de filmes, telenovelas, minisséries e série especiais é, sem sombra de dúvida, um prato cheio para qualquer pesquisador da linguagem audiovisual que queira se debruçar sobre o assunto. Isto porque o estudioso seria obrigado e pensar não apenas os aspéctos de conversão da literatura para o linguagem audiovisual, mas também todo um cenário histórico-social que circundou cada um destas adaptações. É que elas cobrem sete décadas na história do Brasil, iniciando nos 1940 – mais precisamente em 1948, tendo o românce “Terras do Sem-Fim” como fonte para o filme “Terra Violenta”, dirigido pelas mãos de Edmond Bernoudy – e chegando aos anos 2010, com a mais recende adaptação, dada pela neta do escrito, Cecília Amado, a “Capitãos de Areia” em 2011.

Na verdade, aproveitando a data do centenário do nascimento de Amado, próxima sexta-feira, será lançado na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho (Salvador), o livro “Jorge Amado e a Sétima Arte”, organizado por Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga. Apesar da publicação ser menos um trabalho acadêmico e mais um compêndio que reúne informações sobre todas as adaptações feitas para o cinema, o título é um trabalho essencial para quem quiser iniciar-se neste universo Amado-Cinema. O livro reúne artigos e depoimentos de vários autores – entre eles Sônia Braga, Fernando Sabino, Dorival Caymmi, e outros – e filmografia completa.

Em depoimento ao repórter Hugo Viana, desta Folha, o professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, Anco Márcio Tenório Vieira, resumiu alguns dos aspectos que marcam tais adaptações: “O Jorge Amado que é levado ao cinema e à televisão é, em geral, o Jorge Amado que, ao tempo que fala dos nossos desmandos, da nossa hipocrisia moral e religiosa, também fala da sensualidade da nossa gente (em particular da mulher). Daí personagens que ficaram no nosso imaginário, como Dona Flor, Gabriela, Tereza Batista e Tieta. O largo painel sócio-político que ele desvela nessas obras permite que o espectador termine por se identificar por um ou mais personagem ou tema abordado”, explica.

De fato, esta talvez seja uma suscinta e bem próxima da realidade compreensão das razões do sucesso quase imeditado que a maioria das adaptações alcançaram fosse pelo cinema ou TV. A começar por “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, romance de 1966 levado à tela grande dez anos depois por Bruno Barreto e que se tornaria a maior bilheteria do cinema nacional, com mais de dez milhões de espectadores, até “Tropa de Elite 2”, que ultrapassou os 11 milhões em 2010.

Por “Dona Flor…”, Sônia Braga reforçaria sua imagem como a mais perfeita morena frajola dando cor às mulheres de Amado. “Reforçaria” por que um ano antes, em 1975, ela já aparecera na telenovela “Grabriela”, feita pela TV Globo sob direção do craque Walter Avancini. Antes disso, Braga era muito vinculada pela TV às crianças, por apresentar o infantil “Vila Sésamo”.

Sônia ainda viria a encarnar Gabriela, desta vez no cinema, em 1983, novamente com Barreto dirigindo. Ali estava ao lado de Marcello Mastroianni no papel que foi em 1975 de Armando Bogus para o personagem Nacib, e na minissério atualmente em cartaz pela Globo é de Humberto Martins – com Juliana Paes no papel título. Poucos lembram, entretanto, da primeira adaptação do românce para a TV. Aconteceu na extinta TV Tupi, com Janete Vollu o como Gabriela e Renato Consorte como Nacib.

Ainda pela Tupi, os brasileiros viram “Terras do Sem-Fim” em 1966 (e depois pela TV Globo em 1981), além de “A Morte e a Morte de Quincas Berros d Água” em 1968, e dez anos depois virou um “Caso Especial” na Globo em com Paulo Gracindo, Dina Sfat, Stênio Garcia e Antônio Pitanga no elenco. “Berros d Água” só chego aos cinemas em 2012, com direção do baiano Sérgio Machado. Irandhir Santos e Paulo José estavam no elenco.

Pouco vistas mas bastante preciosas são as adaptações feitas por Nelson Pereira dos Santos tanto para o cinema como para TV: Começou dirigindo Sôbia Braga em 1977 para “Tenda dos Milagres” (que depois virou minissérie na Globo em 1985); e realizou ainda “Jubiabá”, em 1985.

O grande sucesso de Amado na TV, talvez tenha sido mesmo a versão oferecida pela Globo em 1989 para “Tiêta do Agreste”, com Regina Duarte roubando a cena com Viúca Porcina, da Tiêta de Betty Faria. Em 1996, o cineasta Cacá Diegues leva o romance aos cinemas com Sônia Braga, aos 46 anos, equivocada para o papel. No filme, é o próprio Amado quem abre a cena, sentando num bando de praça e comentando o românce.

Outras adaptações foram “Mar Morto”, que virou a telenovela “Porto dos Milagres” (2003); o filme “The Sandpit Generals”, 1971, do americano Hall Bartlett para “Capitães de Areia” (depois como minissério na TV Bandeirantes); “Seara vermelha”, em filme de 1963 por Alberto D Aversa; “Os pastores da noite” e “O Compadre de Ogum” viraram um filme dirigido em 1979 pelo francês Marceu Camus, e uma minissérioe (2002) pela TV Globo. A mesma emissora levou ao ar a minissérie “Teresa Batista cansada de guerra” em 1992, com a pernambucana Patrícia França no papel título. E em 1984 lançou a novela “Tocáia Grande” com direção de Avancini e Tânia Alves como a prostituta Júlia Saruê.

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