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O beabá do cinema brasileiro

Enciclopédia do Cinema Brasileira em nova edição

Por Luiz Joaquim | 01.08.2012 (quarta-feira)

Passaram-se 12 anos desde que foi lançada a primeira edição da “Enciclopédia do Cinema Brasileiro” (Editora Senac, 664 págs., 2000). Em tempos modernos, o período é tempo suficiente para modificar a história, em todos os aspectos, inclusive o cultural, de uma sociedade. Nesse sentido, o relançamento, revisado e atualizado, da “Enciclopédia” é mais que bem vinda se considermos a importância desse compêndio para a pesquisa científica no campo do cinema nacional.

Mais volumoso e mais elegante – com dimensões menores e capa mais discreta – que sua edição originária, o livro traz 130 novos verbetes além de mais de 500 outros atualizados; fora aqueles que não sofreram auterações, somando um total que ultrapassa os 700 verbetes. Neles, estão relacionados personalidades, atores, diretores, técnicos e movimentos da produção tupiniquim desde seu nascimento até, com sua atual expansão, o ano de 2010. O belo material fotográfico da primeira edição, com mais de 190 ilustrações, também traz novas imagens, como os trabalhos recentes “2 Filhos de Francisco”, de Breno Silveira, “Estômago”, de Marcos Jorge, e “Eu me Lembro”, de Edgar Navarro.

Com a atualização, filmes recordistas de bilheteria como “Se Eu Fosse Você 2” e outros sucessos, como “Homem que Copiava”, “Antônia”, “As Melhores Coisas do Mundo”, “A Mulher Invisível” e “Chico Xavier”, aparecem como novidades. Diretores com obras desenvolvidas com mais ênfase depois do ano 2000 também são contemplados na expansão do livro, como João Moreira Salles, de “Entreatos” e “Santiago”, Fernando Meirelles, de “Cidade de Deus”, José Padilha, de “Tropa de Elite”, e até Carlos Saldanha, das animações “Era do Gelo” e “Rio”.

O documentário contemporâneo é outro assunto que ganhou destaque. “O documentário ocupa hoje um espaço bastante razoável em números de lançamentos no mercado exibidor. Trata-se de algo inédito e demonstra a valorização desse cinema pelas novas gerações, em busca por formatos diferenciados”, destacam os organizadores Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe Miranda.

A revisão permitiu corrigir alguns pequenos equívocos, que não tiravam o valor da publicação inicial, como o que aparecia por exemplo no verbete dedicado a Sônia Braga. Lá no livro de 2000, dizia que a atriz participou em 1988 do filme “Rebelião em Milagro”. Até aí tudo bem, mas o texto colocava o filme como a primeira incursão de Robert Redford na direção de um longa, quando na verdade o ator já havia capitaneado “Gente Como a Gente” em 1980.

Engana-se quem acredita que em 2000, ano em que a Internet era pouco popular, a Enciclopédia do Cinema Brasileiro fazia mais sentido de existir que em 2012. O que faz dessa obra uma fonte necessária é exatamente sua seriedade e seu comprometimento científico. O livro contou com a colaboração de 50 autores na elaboração dos textos, todos atuantes na área, pesquisadores ou críticos. A edição atual manteve sua estrutura central e a divisão em verbetes temáticos e de personalidades. Segundo Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, essa organização permite que cineastas ou atores sejam abordados dentro de temas diversos, mesmo que não tenham sua própria entrada.

Conhecidos como dois dos mais importantes estudioso de nossa produção audiovisual, Ramos e Miranda são amigos desde os anos 1980. Ambos perceberam a ausência de uma publicação de referência que desse um panorama horizontal da cinematografia brasileira. Começaram então no início dos anos 1990 a dar andamento ao projeto. Só em 1996, com a concessão de uma bolsa da Fundação Vitae e o apoio da Editora Senac a Enciclopédia começou a virar uma realidade. Verbetes e filmografias foram definidos, e o grupo de autores – alguns com obras já publicadas sobre o gênero – foi convidado para colaborar na feitura do livro. Essa autoria coletiva acabou imprimindo diferentes perspectivas dos verbetes, sobre os temas e personalidades expostas ali.

Temas ajudam na pesquisa do usuário

Além do verbetes de personalidades, a Enciclopédia traz mais de 80 apontamentos com definições temáticas. Estes cobrem períodos e instituições significativas como o Cinema Novo, a Chanchada, a Pornochanchada, o Cinema Marginal, Revistas, Cineclube, Embrafilme e Festivais.

Alguns Estados que tiveram uma produção considerável ao longo da história (Bahia, Rio Grande do Sul, Amazonas, Paraná, etc.) também são retratados. O Ceará também é um destaque na nova edição. A obra aponta que o Estado assiste hoje a um nascimento cultural com muitos curtas-metragens em atividades e a realização de documentários em curtas e médias como a de Tibico Brasil, Glauber Filho e Petrus Cariry.

A responsabilidade do verbete “Pernambuco” foi de Luciana Corrêa de Araújo. Para o novo volume, “Pernambuco” foi acrescido de informações com as atividades do coletivo “Telephone Colorido”, a partir do trabalho “Resgate Cultura, O Filme” (2001), sendo traçado um panorâma dali até “Recife Frio”, lançado em 2009 por Kleber Mendonça Filho. A pesquisadora foi convidada por Luiz Felipe Miranda e é ela quem assina os textos sobre o Ciclo do Recife, Fernando Spencer e Edson Chagas entre outros.

Em 2000, Luciana explicou o convite. “A redação dos [primeiros] verbetes aconteceu em 1998. Na época, concluía minha tese de doutorado sobre o trabalho de Joaquim Pedro de Andrade e o Miranda acabou me convidando para escrever sobre esse cineasta. O convite acabou se estendendo para a cinematografia de minha terra”, relembrava.

Para as personalidades, a escolha teve como norte uma mistura de critérios quantitativos e qualitativos. “Um cineasta, ou ator, com 30 longas, foi selecionado para ser verbetado, independente da repercussão ou qualidade de sua obra”, explicam os organizadores. Esse recorte implicou numa representação significativa da numerosa produção cinematográfica realizada na “Boca do Lixo”. Ponto para a “Enciclopédia”.

Fernão Ramos e Felipe Miranda definem que a principal meta ao fazer o compêndio foi reunir de forma sistemática um conjunto de informações já estabelecidas ou levantadas de modo inédito. “Cremos que o desafio da empreitada teve sucesso. É importante constar que a produção cinematográfica brasileira adquiriu consistência suficiente em um determinado momento de sua história, para provar e fornecer material a esse tipo de intervenção”, avaliam.

Um outro diferencial, esse substância para o consumidor, é que, se a primeira edição foi vendida por R$ 68,00 em 2000, o novo volume sai agora pelo salgado valor de R$ 348,00

Serviço
Enciclopédia do Cinema Brasileiro
Organizadores: Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe Miranda
Editora Senac São Paulo e Edições Sesc SP
838 páginas, R$ 348

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