45o Brasília (2012) – dia 1
Brasília, capital federal do cinema pernambucano.
Por Luiz Joaquim | 17.09.2012 (segunda-feira)
Brasília é pernambucana. É um fato numérico que, nesta 45º edição do mais tradicional e prestigiado festival de cinema que se debruça sobre a produção nacional – o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – a produção que é feita em Pernambuco ocupa o maior espaço entre os 30 filmes em competição. É sete o número de títulos locais que irão concorrer este ano ao troféu Candango e a um total de R$ 635 mil em prêmios. Nenhum outro Estado tem tanta representação no evento este ano. Com o detalhe que o principal programa competitivo, o de longas-metragens de ficção, vem com metade de seus concorrentes oriundos do Recife (a outra metade é carioca).
Mesmo sem essa maciça presença local, a edição 45 do festival já prometia acontecer como um ponto de inflexão na história do do próprio evento. Isso porque ele chega todo renovado, a começar pelas, agora, cinco categoria criadas na competição. São elas longas de ficção e como documentário, curtas de ficção e como documentário, e curtas de animação. Todas com seis concorrentes, cada uma. O coordenador geral do Festival, Sérgio Fidalgo, lembra que mesmo sem o critério do ineditismo, quase todos os títulos terão ali sua primeira exibição no País. Além da programação competitiva, há a Mostra Panorama com quatro longas, entre eles “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, já exibido em Gramado.
Com as sessões programadas para acontecer às 19h no Teatro Nacional Cláudio Santos (1.307 lugares) – pois o tradicional Cine Brasília está em reforma – o festival também organizou dois seminários que repensa o cinema atual e também olha para o passado. No primeiro, “Tendências do Cinema Contemporâneo: Gêneros Cinematográficos e suas Interfaces”, a cineasta Erika Bauer vai mediar uma mesa que discutirá a confusão e intercessão de gêneros nos filmes de hoje. O segundo vai rever o pensamento de um dos criadores do festival pelo seminário “Paulo Emílio e a Crítica Cinematográfica”. Em três temas, a conversa gira em torno dos ciclos do cinema brasileiro, da presença do pensamento de Paulo Emílio Salles Gomes na crítica de hoje, e no estágio da crítica hoje nos meios de comunicação.
No campo da exibição de filmes, haverá ainda a Mostra Brasília 5.2, com dez documentários que recupera a história da Capital Federal (e lança, junto, o catálogo “Brasília 5.2: Cinema e Memória”, com um mapeamento da produção brasiliense e do festival, desde 1969); além de o “Festivalzinho” (com filmes infantis) e a Mostra Brasília, que inclui 18 novos filmes do Distrito Federal. Outro livro-pesquisa a ser laçando é o “Memória Crítica”, organizado por José Carlos Avellar e Hernani Hefner, que repassa os 45 anos do festival com duas críticas e 45 filmes premiados.
COMPETIÇÃO
O título que exibe na cerimônia de abertura logo mais é a ficção “A Última Estação”, de Márcio Curi. O filme conta a trajetória do libanês Tarik num período de meio século. Fala de sua chegada ao Brasil em 1950 com o irmão mais novo, e de sua busca em 2001, viúvo, ao lado da filha, procurando os amigos que vieram com ele ao Brasil cinco décadas atras. No elenco, gente como Chico Sant anna, Edgard Navarro e Sérgio Fidalgo (coordenador do Festival de Brasília).
A partir de amanhã, tem início a mostra competitiva. Dos cinco filmes programados para a noite, três são de Pernambuco. O que abre é “Câmara Escura”, curta de Marcelo Pedroso. Com imagens em movimento, o experimento brinca com a essência do conceito técnico da fotografia, mas sem que seus personagens saibam muito bem do que participam. Já o curta “Canção Para Minha Irmã”, exibido no Cine-Pe 2012, Pedro Severien faz um paralelo entre a falência de uma cidade por uma tragédia natural com a falência mental de uma mulher. No longa “Eles Volta”, o primeiro em ficção de Marcelo Lordello, Cris (Maria Luiza Tavares) e o irmão são deixados na beira da estrada por seus pais. Em pouco tempo percebem que o castigo vem a se tornar um desafio ainda maior. O filme passa a acompanhar a garota em sua jornada de retorno ao lar, pelo qual amadurece no contato com um mundo que não é o seu.
Depois, Pernambuco só volta a aparecer na quinta-feira, com o primeiro longa-metragem de Daniel Aragão, “Boa Sorte, Meu Amor” (com produção de Severien), que fala do encontro de um homem – que gosta da estabilidade e evita o passado da família latifundiária pernambucana – com uma estudante de música que é o seu oposto. Na sexta-feira tem o doc. em longa “Doméstica”, de Gabriel Mascaro – o único cineasta com dois filme aqui em competição – o outro é no domingo, o curta “A Onda Traz, O Vento Leva”.
“Doméstica” promete agitar o festival ao mostrar como sete adolescentes registraram, por uma semana, a sua empregada doméstica. Depois, eles entregaram o material bruto para o diretor realizar o filme com essas imagens. A sinopse diz, “Entre o choque de intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar, transformando-se em um potente ensaio sobre afeto e trabalho”. Lembrando que Mascaro é o autor de uma dos mais polêmicos documentários contemporâneos do País, “Um Lugar ao Sol” (2009).
Acompanhe toda a cobertura do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro aqui na CinemaEscrito.
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