45o Brasília (2012) – noite 1
Brasília dá partida com um olho no Líbano
Por Luiz Joaquim | 19.09.2012 (quarta-feira)
BRASILIA (DF) – Há sempre uma pompa na ordem do apuro artístico-político que ilustra a abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Na noite de segunda-feira, quando se deu a cerimônia inicial da sua 45a edição, a beleza daquele momento no Teatro Nacional foi marcada mais por conta da música do que pelo cinema em si.
Antes das apresentações protocolares – que incluiu discurso inflamado do secretário de cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira –, a orquestra sinfônica daquele teatro presenteou a platéia, que ocupava as mais de 1.300 poltronas do auditório, apresentando trechos da trilha sonora do filme “A Última Estação”, longa-metragem brasiliense de Marcos Curi, que exibiu logo depois.
Marcada pela cadência melódica libanesa, a execução do maestro Cláudio Cohen com a participação do compositor Patrick de Jongh, proporcionou uma bela musica, quase como um lamurio, sugerindo uma densidade dramática que o filme – como mostrou depois – se esforçava para alcançar mas nem sempre tinha êxito.
A partir da fictícia história do imigrante libanês Tarik, que veio garoto ao Brasil de navio em 1950, o filme aproveita para tratar do contraste das duas culturas, quando encontramos Tarik (Mounir Maasri) já velho, em 2001, viúvo e saudoso dos amigos que fez na viagem, os quais decide reencontrar 51 anos depois.
Percorrendo o Brasil, junto da jovem e rebelde filha temporã Sâmia, Tarik vai se deparando com o quanto seus amigos mudaram, guardando pouca ou muita da sua cultura original, em função da sobrevivência no Brasil.
A performance irregular de alguns atores – com exceção de poucos (como a do próprio Tarik, imerso no personagem, a de sua filha e da nova companheira) – distrai, assim como alguns efeitos especiais e um excesso de flashback numa fotografia sépia ligando o passado do libanês com os dias de hoje.
Dessa forma, “A Última Estação” fica apenas como uma curiosidade a respeito daquela cultura que retrata. Cultura tão presente, mas silenciosa, no Brasil. Antes da projeção, também foi lido pelo ator e mestre de cerimônia Murilo Grossi um texto do crítico Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), homenageado pelo Festival este ano.
O texto escolhido foi um dos seus mais conhecidos, em que relativiza a forma como os brasileiros devem entender o cinema brasileiro, considerando suas peculiaridades “subdesenvolvidas” e incapacidade de copiar. Encerrando com a famosa frase que impacta até hoje – “o pior filme brasileiro é melhor que o melhor estrangeiro” –, a apresentação arrancou aplausos calorosos.
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