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Festivais

45o. Brasília (2012) – noite 3

Filmes arrefecem em Brasília

Por Luiz Joaquim | 21.09.2012 (sexta-feira)

BRASILIA (DF) – O que o 45o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ofereceu de muito interessante na programação de terça-feira, ofereceu de enfadonho na da quarta-feira. Foi o segundo dia competitivo e talvez o único verdadeiro destaque ficou por conta do curta-metragem documentário gaúcho “A Cidade”, de Liliana Sulzbach.

Premiado recentemente no Festival Internacional de Curtas de São Paulo, a cidade do titulo é o povoado Itapuã, localizada a poucos quilômetros de Porto Alegre e que foi erguida em 1945 como uma espécie de centro de isolamento coletivo para portadores de hanseníase.

O lugar, que já abrigou mais de mil pessoas, hoje tem só 35 habitantes, todos com mais de 60 anos que nunca saíram de lá. Mantendo as mesmas características de 70 anos atrás, Itapoã lembra uma cidade fantasma – reforçada pelas impressionantes imagens de arquivos que a cineasta resgatou. O contraste entretanto fica bem pontuado pelos velhinhos cheios de vida que Sulzbach nos apresenta e nos fazer rir com eles. Um belo filme.

O longa mais esperado da noite – a ficção de Lucia Murat, “A Memória que me Contam” – volta, mais uma vez, à ditadura e seus efeitos políticos e humanos. É o tema central da filmografia da carioca: “Que Bom te Ver Viva” (1988), “Doces Poderes” (1996), “Quase dois Irmãos” (2003), “Uma Longa Viagem” (2011).

“A Memória…” é sem dúvida sua ficção mais pessoal de todas, com Irene (Irene Ravache) interpretando seu alter-ego (fisicamente parecida, inclusive). Ela é uma cineasta que, com seus amigos, lutou contra e foi vitima da opressão militar. Tendo como ponto de ligação a moribunda Ana (Simone Spoladore, como a jovem Ana) – uma amiga e espécie de mártir da turma – Irene e seu companheiro (Franco Nero) mais o filho, um artista plástico homossexual, vão repensando a validade para os dias de hoje da luta, das vitórias e derrotas que passaram nos anos 1970.

Apesar da inventividade narrativa, com Spoladore como uma fantasma contracenando com os personagens idosos nos dias de hoje, o discurso aqui soa cansado, como um drama já bem conhecido e bem explorado; e que aqui parece poder ser melhor resolvido numa terapia que através da feitura de um filme. Há ainda uma incômoda sugestão de Murat sobre a perspectiva de seus personagens idosos sobre os jovens. A inserção de um casal homossexual sem problemas e da filha “francesa” perdida e frustrada de Ana, por não ser como a mãe, só expõe a fragilidade do enredo para questões contemporâneas. É um filme que talvez fosse interessante de ver se estivéssemos nos anos 1980.

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