45o. Brasília (2012) – noite 4
Daniel Aragão e sua volta às origens
Por Luiz Joaquim | 22.09.2012 (sábado)
BRASILIA (DF) – A noite de quinta-feira no 45o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro viu surgir dois longas-metragens que refletiam o objeto de amor de seus diretores. Enquanto o documentário “Otto”, do mineiro Cão Guimarães, pareceu se apresentar como um ponto de inflexão na carreira do cineasta, ao mostrar de maneira muito pessoal o trajeto de seu romance com a esposa Florência até o nascimento de seu filho, “Boa Sorte, Meu Amor”, do pernambucano Daniel Aragão, agrega num só produto sua paixão pela música, pela imagem e pelas mulheres, somados a um interesse particular pelas origem familiar e a confusão sócio-geográfica pernambucana.
Há no filme de Aragão a busca de uma comunhão entre estes elementos, que parece se dar (num primeiro plano ora mais exitosa, ora menos) no casamento que ele propõe entre a envolvente trilha sonora de Jimi Tenor e a sedutora fotografia de Pedro Sotero (do filme irmão “O Som ao Redor”). Nesse fórmula, sem dúvida, há a mão firme do cineasta também na direção dos atores Vinícius Zinn e, em particular, de Christiana Ubach.
Ela é Maria, originária de família pobre da mesma Água Branca, município interiorano de onde também veio Dirceu (Zinn), o filho de um rico empreendedor imobiliário no Recife. Ele se apaixona por ela, cujos valores são outros, e passa a procurá-la, encontrando a si próprio. Aragão divide este conto em três parte – algo como “você é o que você perde”, “o encontro de um amor” e “de volta às raízes”.
Para cada uma das partes, a proposta estética muda, mas sempre com um preto e branco acachapante em sua força plástica. Força que, sabe-se, Aragão buscou em fontes como Tarkovsky, e nela chegou pela ajuda de uma lente russa anamórfica Lorno – além de sua própria sensibilidade fotográfica junto a Sotero, claro.
Das três partes, a última chega mais sedutora exatamente pelo virtuosismo técnico (que grita durante o filme) dar mais espaço a mise-en-scène, cujo estilo parece até piscar para o western; isto com a opção da trilha sonora também parecendo soar apenas um tom acima do contexto dramático. É um filme que dividiu opiniões em Brasília, mas que não se pode negar sua necessidade de existir na atual fase do cinema brasileiro contemporâneo.
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