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Críticas

O Exercício do Poder

A política que excita

Por Luiz Joaquim | 14.09.2012 (sexta-feira)

Num momento em que acompanhamos uma excitada corrida eleitoral pelas prefeituras do Brasil, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco põe em cartaz “O Exercício do Poder” (L Exercice de L Etat, Fra., 2012) um filme de Pierre Schöeller, afiado como uma faca, sobre esse monstro chamado política/poder, assustador, que pode lhe engolir de uma só vez . O filme levou o prêmio da crítica do Festival de Cannes em 2012.

De cara, no prólogo da história, Schöeller nos coloca num universo surreal, no qual pessoas encapuzadas montam o que parece ser um gabinete político para, em seguida, abrir alas para uma bela mulher, totalmente nua, entrar elegante no recinto. Lá, um crocodilo colossal lhe espera. É quando tem inicio um jogo de sedução entre as duas crituras que irá chegar numa situação inusitada. Corta a cena, e vamos para o ministro dos transportes da França, Bertrand Saint-Jean (o excelente Olivier Gourmet, costumaz ator dos Irmãos Dardenne). Ele está na cama. Dorme com uma ereção, ao lado da esposa.

O erotismo gráfico termina aqui neste “O Exercício do Poder”. Porque o erotismo gerado pela vaidade continua circundando a vida de Bertrando, um dos principais homens de confiança do presidente francês (Stéphan Wojtowicz). O ministro acorda com a notícia do acidente de um ônibus numa rodovia, com uma dezena de vítimas fatais. A situação criada pelo roteiro de Schöeller serve como ótima circunstância para nos apresentar a competência, agilidade e comprometimento de Bertrand.

Há, nesse momento, questões humanas – diante da tragédia da morte – e como qualquer pessoa reage (políticos inclusos) a comoção entra aqui em primeiro plano. Mas, aos poucos, “O Exercício…” vai abrindo espaço para outra comoção, uma filosófica. A quem cabe o exercício do Estado (título original do filme)? Entra em pauta uma acirrada discussão administrativa que envolve todo o povo e a economia francesa com relação a prática da privatização. No alvo estão as ferrovias, a qual Bertrand – autoridade máximo do ministério dos Transportes, vale lembrar – é o único que não concorda em vendê-las.

O filme, entretanto, não nos coloca no que poderia ser um burocrático papo político, mas sim numa espécie de jogo de xadrez, pelo qual seu movimento – ou o do outro – pode por tudo a perde. De certa forma, algumas questões aqui colocadas são tão específicas da política francesa que podem não alcançar nossos espectadores. Há, entretanto, outras questões, estas universais e no meio delas, Schöeller ainda consegue tempo para nos dar pistas sobre a vida pessoal de seu ministro.

E quando tudo parece perdido, uma nova tragédia – filmada de maneira espetacular, de cair o queixo em sua veracidade – vem a tona e relativiza tudo. Mas, ao contrário do que é habitual em filmes fáceis de concluir – tragédias minimizam todos os outros problemas – “O Exercício do Poder” nos oferece uma outra solução para o impasse de Bertrand. Uma solução muito mais perto daquilo que conhecemos como política.

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