36a. Mostra SP (2012) – 2
Entre dois amores femininos
Por Luiz Joaquim | 29.10.2012 (segunda-feira)
SAO PAULO (SP) – Sendo um dos homenageados desta 36o Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o carioca Domingos Oliveira recebeu na sexta-feira o prêmio que leva o nome do idealizador do evento, Leon Cakoff (falecido ano passado). O troféu, que já foi para gente como Manoel de Oliveira e Amos Gitai, chama a atenção não apenas para o passado, mas para o presente do homenageado.
Assim, Oliveira, 76 anos, é reconhecido por aqui não apenas como o diretor de clássicos absolutos, como “Todos as Mulheres do Mundo” (1967), mas por estar em pleno vigor criativo. Não à toa, é um dos raros realizadores que lança dois longas-metragens ao mesmo tempo aqui: “Paixão e Acaso” e “O Primeiro Ano de Um Dia Qualquer”.
Em “Paixão e Acaso” – “mais redondinho, dramatúrgico, com piadas boas”, conforme disse o próprio cineasta – Vanessa Gerbelli (bem) é Inês, uma psicanalista que se apaixona pelo pianista Bento (Aderbal Freire Filho) e pelo estudante de filosofia Fábio (Pedro Furtado) ao mesmo tempo e sem saber que são pai e filho.
O filme ainda abre espaço para acompanharmos o drama de dois clientes de Inês: Tavares e Otávio (ótimos), o que serve para ilustrar de forma inteligente aspectos psicanalíticos a partir de situações contraditórias da vida, assim como as paixões simultâneas de Inês. De certa maneira, Oliveira agora revê a paixão pela ótica feminina (já havia visitado o assunto em 2004 com “Feminices”). E é muito interessante se lembramos que o autor ficou famoso, na verdade, pela liberdade do amor pela ótima masculina.
Com pouca (mas boa) experiência na direção, a canadense Sarah Polley é mais lembrada pelos filmes fortes que atuou – “O Docê Amanhã” (1997), “Vamos Nessa” (1999), “Minha Vida sem Mim” (2003). Mas em 2006 estreou na direção agradando com “Longe Dela” (2006).
Agora chega com seu segundo longa que, de certa forma, dialoga com o brasileiro de Domingos Oliveira. Originalmente batizado de “Take this Waltz” (algo com “dance essa valsa”), o titulo no Brasil ganhou o minimizador nome de “Entre o Amor e a Paixão” para a história de um Margot (Michelle Williams, ótima), uma mulher apaixonada por dois homens. Mas Margot é casada, bem casada, com o escritor de culinária Lou (Seth Rogen, magro e num papel sério).
Quando conhece seu vizinho numa viagem de avião, o artista plástico Daniel (Luke Kirby), Margot simplesmente não para de pensar nele (e é recíproco), ao mesmo tempo em que esforça-se para manter feliz o que já tinha de feliz ao lado de Lou.
Num misto de confluências de angústias como aparece em “Amor à Flor da Pele” e “Marie-Jo e Seus Dois Amores”, o filmede Polley, entretanto olha com mais agudeza para o sofrimento feminino, que luta com força sobre-humana pela fidelidade e respeito ao companheiro. É um conflito que oprime Margot, em performance tocante de Williams, por ter que abafar seu próprio sentimento. O melhor dialogo entretanto, vem da amiga alcoólatra Geraldine (Sarah Silverman): “A vida tem suas lacunas, e não adianta tentar preenchê-las”. Não recomendado para quem vive ou já viveu o drama de Margot.
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