36a. Mostra SP (2012) – 4
Destaque para Crianças de Sarajevo
Por Luiz Joaquim | 31.10.2012 (quarta-feira)
SAO PAULO (SP) – Uma das inúmeras atrações que a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo oferece com seus mais de 350 filmes, e hoje na 36a edição, é a possibilidade dos paulistanos verem aqueles títulos que circularam nos mais importantes festivais de cinema do mundo deste ano, assim como aqueles que são os sugeridos pelos seus países a representá-los na corrida ao Oscar.
Este é o caso de “Crianças de Sarajevo” (Djeca), de Aida Begic, que além de receber menção especial do júri na mostra Um Certo Olhar em Cannes 2012, também é o indicado pela Bósnia/Herzegovina para ganhar uma vaga na disputa pela estatueta de estrangeiro em Hollywood.
Se ganhará destaque ou não nos EUA é difícil de predizer, mas o filme de Begic é impactante onde quer seja exibido. Primeiro pela atmosfera constante de tensão que cerca a vida de Rahima (Marija Pikic), que aos 23 anos cuida sozinha do irmão Nedim (Ismir Gagula), 14, a quem tirou do orfanato. Ambos são órfãos da guerra da Bósnia.
Além da excelência de seus atores e ambientação, a competência de “Crianças de Sarajevo” está em criar uma dramaturgia que está diretamente vinculada a realidade local, mas acessível a qualquer pessoa do mundo. Isto porque a essência da história está no esforço de Rahima para que o irmão problemático não volte ao orfanato.
O filme não quer olhar o passado para lamentá-lo, mas ver o presente para enfrentar os problemas de hoje como heranças da guerra. Nisso, cria situações cuja dimensões permitem entender a opção religiosa da protagonista pelo Islã, assim como sua insistência em “salvar” o caçula, que guarda segredos perigosos.
Já o produtor de “A Teta Assustada” (2009), Antonio Chevarrías, vencedor do Urso de Ouro de Berlim naquele ano, voltou ao festival alemão em 2012 com um filme dirigido por ele. Exibido aqui em São Paulo, “Ditado” (Dictado) passou discreto, mas quem teve a chance de vê-lo entendeu a razão de sua seleção oficial para Berlim.
Iniciando como um trivial filme amoroso, temos Daniel e Laura (Bárbara Lennie, de “A Pele que Habito”). Eles formam um jovem casal de professores que adota a filha pequena órfã de um meio-irmão que cometeu suicídio. “Ditado” vai ganhando contornos de horror psicológico muito pelo comportamento da garota e Chevarrías dá poucas pistas do que realmente está acontecendo. O resultado é que o espectador é obrigado a entrar na mesma paranóia de Daniel, até chegar a uma conclusão bem engenhosa.
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