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Festivais

36a. Mostra SP (2012) – 6

A dor e a cultura soviética

Por Luiz Joaquim | 02.11.2012 (sexta-feira)

SAO PAULO (SP) – Vindo do Recife – onde ficou por uma semana lecionando uma oficina de direção oferecida pela Fundação Joaquim Nabuco –, o cineasta bielorrusso Sergei Loznitsa chegou a 36a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com status de homenageado. Teve toda sua obra reprisada e exibido o seu muito procurado novo filme “Na Neblina”, contemplado pelo prêmio da critica no último festival de Cannes.

Loznitsa, como no anterior “Minha Alegria”, reforça sua opção pela secura e dureza na linguagem e estética que escolha para retratar aspectos do que teria formado a cultura humana do leste europeu de hoje a partir do legado da 2a Guerra Mundial. Como mote para o enredo, o diretor concentra-se na particularidade do sofrimento de um protagonista, e a partir dela acabamos por ter um retrato afiado e profundo das mazelas deixada pela violência psicológica daquele período.

Mas, mais importante do que isso, Loznitisa faz uma ensaio tocante, principalmente em “Na Neblina”, sobre a honradez e a justiça humana colocando tais aspectos como o que há de mais valioso ao ser-humano (questões tradicionamente históricas e caras a cultura russa).

Em “Na Neblima” salta aos olhos o refinamento da fotografia de Oleg Mutu (também em “Minha Felicidade” e “4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias”). Nela, Mutu consegue o que deveria ser o correto para um filme que se pretende escuro. Aqui, além de um brilho raro para a fotografia noturna, é possível enxergar os detalhes no escuro, ao contrario do que fazem os filmes escuros contemporâneos, que escondem o detalhes mais em função de uma ignorância técnica do que por opção estética.

Depois, há a atuação hipnótica dos atores, que parece uma marca russa, como em “Vá e Veja” (1985), de Elem Klimov. No enredo, a situação limite é vivida por Sushenya (Vladimir Svirskiy) na fronteira da União Soviética ocupada por alemães em 1942. Com a sabotagem que causa o acidente de um trem, ele é injustamente preso com o grupo de sabotadores, mas é o único a não ser enforcado e ser libertado. Passa a ser visto, então, como traidor pelos seus párias, e Sushenya é preso pela resistência local, que quer sua morte.

Vitima de tanta injustiça e absolutamente sem esperança de dignidade pela brutalidade da guerra, o protagonista já não se importa mais se viverá ou não. A única coisa que faz questão é honrar a vida humana, mesmo que para isso precise morrer. E é aí que o reside a maior grandeza na história que Loznitsa nos conta.

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